//OPINIÃO// Plano Diretor, asfalto e a expansão urbana sem planejamento



Marcelo de Souza


Não me parece que a urbanização das áreas rurais se inicia com a pavimentação.

É um tema que poderia ser debatido com mais profundidade, porém, não podemos participar ativamente da elaboração do Plano Diretor, assim como não pudemos participar ativamente da elaboração do Plano de Mobilidade e Acessibilidade,  recentemente entregue à prefeitura (ver https://www.vivaserranegra.com/2021/06/opiniao-planospara-quem.html). 

E o Plano de Mobilidade e Acessibilidade, sem o debate necessário com os munícipes, parece que já nasceu necessitando urgentemente de uma revisão, tanto que poucos meses após sua entrega, munícipes ainda colocam em pauta hoje aspectos relacionados à mobilidade e acessibilidade urbana e não ao uso e ocupação do solo. 

Ainda até hoje também não temos Conselhos Municipais de Mobilidade e de Acessibilidade Urbana e, até hoje, não observamos nenhuma mudança e/ou melhoria efetiva na mobilidade e na acessibilidade urbana em Serra Negra. 

Só nos resta assistir quase que passivamente ao que conselhos, associações, prefeitura e secretários estão adotando e escolhendo para o futuro da cidade.

Podemos mandar contribuições para um e-mail, mas não podemos expor os argumentos, ideias e ideais que estão por trás de cada proposta. A proposta do munícipe perde força quando não tem voz e a possibilidade de argumentar, questionar, expor ideias etc.

A primeira audiência pública do Plano Diretor pareceu mais uma apresentação do que está sendo adotado pelos conselhos, associações e secretários. Só ouvimos. Não pudemos contestar, questionar, argumentar ou debater. 

Não está havendo o debate necessário, fundamental para a elaboração de um Plano Municipal. 

O problema é o pavimento ou 

urbanização sem planejamento?

Mas voltando ao pavimento, acho que não devemos demonizar o pavimento como o grande vilão da expansão urbana SEM PLANEJAMENTO ou o problema das enchentes.

O problema é exatamente a expansão urbana SEM PLANEJAMENTO e não o asfalto.

Prédio do Belvedere do Lago

Por exemplo, o Loteamento Belvedere do Lago (imagens a seguir), projetado originalmente com lotes com mais de 1.000 m2 cada, nitidamente numa área com vocação para chácaras com casas térreas ou no máximo assobradadas, com muito verde, ou seja, uma área com vocação casas para uso residencial ou de veraneio. 

Entre 2014 e 2015 foi edificado um edifício com algo em torno de quatro pavimentos.

Notar nas imagens do “Google Earth” a diferença das taxas de impermeabilização de uma casa e de um edifício. 

E por falar em taxa de impermeabilização, geralmente lotes menores impermeabilizam proporcionalmente bem mais do que lotes maiores, o que já justificaria a proibição do desdobro de lotes em loteamentos já consolidados. Lotes menores também acabam derrubando mais as árvores, afinal, para caber a casa, precisa-se de mais espaço e, quase sempre, do espaço da árvore.

Será que está certo do ponto de vista de uso e ocupação do solo um prédio num bairro sem infraestrutura e que tem vocação para chácaras ou lotes com casas? 



Na época dessa construção essa rua não tinha asfalto e nem contava com coleta de esgoto. Até hoje ainda não tem asfalto, está distante do transporte público, não conta com coleta seletiva de resíduos, não tem um sistema de drenagem de águas pluviais, seja provisório ou definitivo e não tem calçadas. 

Ainda não tem quase nada, só iluminação pública e rede de abastecimento de água, benfeitorias instaladas e operadas por concessionárias e não pela prefeitura. A prefeitura cobra o IPTU e taxa de limpeza.

O “progresso” (edifício) chegou antes da coleta de esgoto e do asfalto. Na verdade, o prédio chegou faz alguns anos e ainda nada do asfalto, nada de coleta seletiva, de transporte público próximo, de calçadas, de drenagem urbana nessa rua e em todas as demais ruas desse loteamento, com exceção da perimetral que é limítrofe ao loteamento. 

Ainda hoje nem todos os imóveis do loteamento Belvedere do Lago têm acesso à coleta de esgoto, fato que foi prometido numa das audiências públicas quando da elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico (~2015). 

O asfalto induziu a construção do prédio numa região que não tem vocação e nem infraestrutura para edifícios? Ou foi a ausência de uma boa e atualizada política urbanística embasada em critérios técnicos que permitiram a construção desse prédio? 

Geralmente o investidor, o incorporador, o empreendedor, o construtor e o corretor de imóveis buscam mercado e resultados e nem sempre se importam muito com o entorno, com a vizinhança e com as boas práticas de urbanização, paisagismo, uso e ocupação do solo e com a qualidade de vida dos moradores. 

Essa deveria ser tarefa do Estado. No caso, da Prefeitura e dos vereadores, que deveriam manter as leis municipais atualizadas e organizar a cidade, inibir, ou proibir, tipos de construção que possam ser incompatíveis com o entorno, com o bairro, com a região ou provocar impactos negativos para os moradores e, mitigar os impactos na vizinhança de obras que causaram impacto. 

Mas os parâmetros urbanísticos são iguais para toda a cidade. Você pode fazer um edifício tanto na densificada zona central como na zona rural ou numa área sem infraestrutura e que não tem vocação para edifícios, ou fazer um edifício muito próximo de uma casa e acabar com o sol do seu vizinho. É legal? Com os parâmetros urbanísticos atuais de Serra Negra, sim. É tecnicamente adequado? Eu acho que não.

É correto uma cidade ter parâmetros urbanísticos iguais para todos os bairros, seja da zona central, urbana, periurbana ou rural, independente da vocação do entorno?

Não precisamos setorizar? E o mais importante, não precisamos avaliar a vocação de cada bairro? 

O plano deve ser para toda a cidade. Não parece aceitável adotar bons parâmetros urbanísticos apenas nos caminhos que levam aos pontos turísticos para agradar os turistas e esquecer dos bairros onde os serranos moram. Temo que isso aconteça na revisão do Plano Diretor.

Bosque do Gurupiá

No Bairro da Posse, numa área onde também parece ter vocação para chácaras ou ao uso predominantemente residencial e de veraneio, foi construído um enorme Centro de Convenções e para tal, dizem que foram derrubadas árvores centenárias, tudo sob os narizes de prefeitos, secretários, vereadores, associações, conselhos etc. 

Vale a pena ler o pronunciamento do deputado Ricardo Izar Júnior na época, na Câmara Federal, manifestando o seu repúdio ao caso do desmatamento na cidade de Serra Negra. (ver em http://panchovilla-serranegra.blogspot.com/2012/02/bosque-do-gurupia.html).

Pouco depois de concluído o Centro de Convenções é que chegou o asfalto e, estranhamente, o asfalto chegou e parou por ali. Não asfaltaram o final da perimetral até a SP-360, que poderia seduzir o motorista a cortar caminho e evitar o Centro sobrecarregado e engarrafado. Vai entender as políticas públicas, não é?

Serra Negra já não tinha um grande Centro de Convenções? Precisava de outro?

Olhem a seguir nas imagens do “Google Earth’” do antes e do depois. 

O que a população preferiria: um bairro de chácaras e ruas arborizadas ou Centro de Convenções onde predomina o de aço e asfalto, com uma arquitetura que parece destoar e agredir o entorno, que tinha característica rural e interiorana?

Notar que ao redor da construção há um grande pátio de estacionamento asfaltado. Aí pode o asfalto e ninguém reclama.

Fico imaginando o tamanho do reservatório de retenção de águas pluviais desse empreendimento, cuja área impermeabilizada talvez ultrapasse 50.000 m2.

Ou os piscinões são só obrigatórios para as casas dos moradores? Nada de piscinão para obras de loteamento, indústrias, centros de convenções, comércio, igrejas etc. 

Esses muitos loteamentos aprovados recentemente têm piscinões com volume definidos com a mesma formulação imposta para as residências? 

Independentemente de piscinão, infelizmente, uma área verde e permeável virou um telhado metálico branco e um pátio de estacionamento asfaltado sem árvores, sem sobras, sem verde e sem vida. 

Acredito que a vizinhança e a maioria da população serrana prefeririam o verde, as ruas arborizadas, ou talvez até mesmo se possível, no futuro, o Parque Municipal do Gurupiá com as árvores centenárias e muito verde e, quem, sabe alguma nascente. 

Até o Plano Diretor de 2006, no art. 122 (Lei 2.966) dava indicações que se preferia um parque urbano. Ver “print” a seguir de trecho do Plano Diretor de 2.006. Mas parece que nem as leis por aqui são escutadas.


Mais uma vez deve ter prevalecido o lado econômico e não a vontade e a necessidade dos munícipes e dos moradores.

E o que que o pavimento tem com isso? Nada!!

Em 2006, no Plano Diretor, a prioridade número um era o Bosque do Gurupiá. Na primeira audiência pública realizada no dia 22/07/2021 ele nem foi citado. Nesse mesmo art. 122 da lei 2966 de 2006 é citado além do Gurupiá outras áreas, como a Mata da Fazendinha como áreas de preservação permanente com finalidades ecológicas e de lazer.

O parágrafo único desse artigo 122 fala que as áreas deveriam ser delimitadas por meio de levantamentos planialtimétricos e de memoriais, podendo ser levadas a registro, quando possível, no Cartório de Imóveis, com objetivo de preservação. Vereadores, fiscais do povo, essas delimitações foram feitas? Podemos ter acesso a esses mapas topográficos onde os limites estão marcados?




João Gerosa

Nos meus primeiros anos em Serra Negra me deparei com a Avenida João Gerosa vermelha. 

Era uma obra de terraplenagem que despejava no asfalto um volume significativo de solo proveniente de erosão. 

Soube de moradores que a obra já se arrastava há alguns anos e todo verão pintava a João Gerosa de vermelho.

Fico imaginando se essa lama toda não chegou no Ribeirão Serra Negra, provocando assoreamento e diminuindo a capacidade de descarga desta drenagem. 

Ribeirão que foi, em nome do progre$$o, enterrado nos anos 70 para atravessar quase que despercebido o centro da cidade. Parece que só é lembrado quando das chuvas intensas quando o Centro fica cheio de água por todos os lados.

Será que esse assoreamento não contribuiu com alguma enchente no passado?

O problema é o asfalto ou a falta de planejamento, boas práticas de engenharia, leis adequadas e fiscalização eficiente?




Sim, as fotos não são recentes, talvez de 2011, mas têm por objetivo lembrar o passado para não repetir as mesmas falhas no presente e futuro. 

Mas exatamente essa falha parece que se repetiu no novo loteamento à montante da Rua Dr. Paulo Pimentel Mangeon poucos depois.

Rua Dr. Paulo Pimentel Mangeon

As fotos a seguir mostram o primeiro reservatório de retenção de águas pluviais construído depois da enxurrada na Rua 24 de Março ocorrida em outubro de 2016 conforme vídeo postado na época no Facebook. Clique no link abaixo para assistir: 

https://www.facebook.com/marlene.lopespiffer.3/videos/1711308952527021/

Essa corrida de lama talvez tenha sido alimentada pelo loteamento na cabeceira de um talvegue. 

As fotos a seguir também não são atuais. Devem ser de 2019, após a construção do primeiro reservatório de retenção de águas pluviais, ou de lama, construído a montante da Rua Dr. Paulo Pimentel Mangeon depois da enxurrada vermelha.



Nem era preciso aproximar a imagem para observar que parece um reservatório de retenção de lama e não de água, não é? 

O problema é o asfalto? 

Recentemente, agora em 2021, a solução dos piscinões se repetiu e, este mesmo talvegue, ou córrego, sofreu mais uma intervenção. Foi parcialmente entubado e enterrado e novos barramentos foram executados. Algo que parecia previsível quando a prefeitura adquiriu a Mata do Fróes (ver https://www.vivaserranegra.com/2020/01/fala-cidadao-prefeitura-vai-cuidar-bem.html)

Na carta do IGC parece sugerir um córrego por ali. 


Fonte: Base Cartográfica Geo Portal IGC acesso 22/09/2016 – Priorizando ortofotos IGC-SP-2010 Leste

A foto a seguir, do “Google Maps”, mostra como era a paisagem ali em 2011. Tinha até uma horta. Será que tinha numa nascente ali ou a hora era regada com água da Sabesp? 




No passado um pouco mais distante, mais a jusante, esse córrego já havia sido entubado, enterrado e seu corpo talvez desviado de onde hoje é o Shopping Oscar. Os serranos mais antigos talvez possam lembrar de um córrego por ali.

A culpa é do asfalto? 

Impermeabilização

Será que o asfalto é o grande vilão? Ou será que a densificação e impermeabilização são provocadas por causa parâmetros urbanísticos inconvenientes ou pela deficiência na fiscalização? 

A imagem abaixo, obtida no “Google Earth”, é uma quadra de um bairro em Serra Negra. Parece que tem mais telhado do que asfalto? Tem alguma área permeável? O problema é o asfalto?



Código de Obras e terraplanagens

Será que não passou da hora de uma revisão geral do Código de Obras e também das leis sobre terraplenagens?

Nos últimos oitos anos vi obras de terraplenagem sem proteção superficial dos taludes, sem drenagem de águas pluviais provisórias ou permanentes, invadindo passeios públicos e até mesmo a rua. Vi obras de terraplenagem sofrendo fortemente com erosões e, portanto, provocando carreamento de solo e consequentemente, assoreamento. 

Também já vi, infelizmente, três ou quatro rupturas de taludes em obras de terraplenagem. Algumas com apenas prejuízos materiais. Lamentavelmente, a mais recente, com a perda de dois trabalhadores. 

Não seria importante reavaliarmos as leis sobre terraplenagens de forma a tentar minimizar as erosões, carreamento de solo, acidentes que causam prejuízos materiais e até mesmo humanos?




Qual é a declividade desta rua? Será que uma chuva não causaria forte erosão?

Urbanização

São Paulo começou sua urbanização às margens do Rio Tamanduateí e do Córrego da Anhangabaú. Nem existia asfalto.

Acredito que Serra Negra também iniciou sua urbanização ao lado do Ribeirão Serra Negra, que na época deveria ser limpo, águas cristalinas, pura, etc.

Como está a água do Ribeirão Serra Negra hoje? A culpa é do asfalto ou do crescimento SEM PLANEJAMENTO? 

E as fontes? Como andam as fontes e as nascentes? Lembrar que algumas nascentes naturais foram substituídas por poços (ver https://www.vivaserranegra.com/2019/05/fala-cidadao-fonte-que-nasce-do-poco.html)

No passado ocupamos as várzeas dos ribeirões e suas vertentes e hoje reclamamos das enchentes. E hoje gasta-se dinheiro público com barramentos de terra em talvegues e córregos que deveriam ser preservados, mas que hoje são entubados, enterrados e barrados para funcionarem como reservatórios de retenção de águas pluviais. 

Parece que a proximidade da água foi o início da urbanização e não o pavimento.

Mais tarde, já instalado algum núcleo urbano, parece que as linhas ferroviárias tiveram um papel importante na expansão urbana. Se olharmos a expansão de algumas cidades, nota-se ao longo da história que a expansão se deu ao lado de ferrovias. 

E a ferrovia certamente nasceu por questões econômicas, por exemplo, para escoar o café. 

Assim, parece que realmente o capital é o motor da história e também da urbanização. Não é o asfalto. O asfalto talvez seja consequência. 

Em São Paulo, no início do século XX houve um debate interessante entre dois técnicos com visões diferentes sobre a expansão urbana que vale a pena conhecer: Prestes Maia e Saturnino Brito.

Na época o Plano de Prestes Maia agradava mais o setor econômico e acabou prevalecendo e São Paulo hoje é o que é, uma cidade sem rios e sem córregos, com os rios Tamanduateí, Tietê e Pinheiros espremidos por avenidas marginais e, com muitos problemas de tráfego, poluição, enchentes etc. 

O Córrego do Anhangabaú, como quase todos os outros, não sobreviveu e foi entubado e enterrado, mais ou menos o que foi feito com o Ribeirão Serra Negra por aqui na década de 70. 

Sabe-se que existiu um córrego do Anhangabaú quando o túnel enche d´água durante uma numa chuva mais intensa. Aqui também lembramos que existiu um ribeirão quando chove forte, não é verdade?

Não estou afirmando que se a proposta de Saturnino tivesse sido a escolhida São Paulo teria hoje todos os rios e córregos preservados, mas chamo a atenção de que parece que sempre outros interesses vencem os aspectos técnicos, sociais, humanos e ambientais. 

Que outros interesses? Acredito que econômicos e políticos. 

Muitas alterações

Em Serra Negra parece que a urbanização ou a expansão urbana não está nem de longe associada à pavimentação.

Analisando as alterações do perímetro urbano e do uso do solo serrano, parece que a urbanização por aqui está mais associada ao mercado, ao poder econômico local, aos empreendedores, aos especuladores, e não ao asfalto.

São frequentes as alterações do perímetro urbano, dando a impressão que, quando alguém decide investir em um empreendimento, ocorrem tratativas com o Executivo e com o Legislativo e se faz uma lei para ampliar o perímetro urbano ou para mudar as leis das construções de forma a adequá-las ao empreendimento, não ao contrário, aumentando a área impermeabilizada ou a taxa de ocupação, por exemplo. 

Houve modificações da Zona Urbana em 71, 72, 73, 74, duas alterações em 75, em 80, 86, 88, 91, 95, 96, 97, 2000, 2002, 2005, 2006 (Plano Diretor) etc. E algumas dessas alterações parecem muito com um puxadinho e não uma alteração conceitual de fato.

Mais recentemente, uma lei ampliou a Zona Central da cidade e alterou parâmetros urbanísticos dessa área da cidade, com a justificativa que as construções já não atendiam os antigos parâmetros e com a regularização haveria um aumento da arrecadação. (ver https://www.vivaserranegra.com/2019/05/fala-cidadaod-um-recado-aos-vereadores.html)

Algum vereador checou se houve esse aumento de arrecadação ou a única mudança até então observada foi na paisagem da esquina da Rua Adelina Humbert de Quency?

Aprovaram a lei, seria bom verificar e dar uma satisfação para os munícipes? Aumentou ou não aumentou a arrecadação da Zona Central?

Também recentemente houve ampliações do perímetro urbano sem o amplo debate com a sociedade, sem audiências públicas, sem estudos de impactos ambientais ou impactos na vizinhança. 

O asfalto chegou primeiro? NÃO!!

Por exemplo: o acesso à mais nova área rural que virou urbana é por uma rua de terra estreita e empoeirada, sinuosa, com pontos cegos, já sobrecarregada pelo tráfego excessivo gerado por outros empreendimentos anteriores, também instalados provavelmente sem os devidos estudos de impacto na vizinhança e sem medidas para mitigá-los. (ver https://www.vivaserranegra.com/2021/04/opiniao-os-problemas-da-ampliacao-do.html)

E qual benfeitoria essa rua recebeu ao longo dos anos para mitigar o impacto na vizinhança até o momento devido a estes empreendimentos? NENHUMA.

E o que os responsáveis pela elaboração do Plano Diretor podem falar a respeito do impacto que essa rua vem sofrendo com os empreendimentos locais que não param de crescer e sobrecarregar essa rua, gerando poeira excessiva o ano todo? Seria importante uma colocação técnica dos responsáveis pela elaboração do Plano Diretor.

Mas um exemplo que parece que não é o asfalto que puxa a ocupação e sim a ausência de políticas públicas sérias e atualizadas, tecnicamente embasadas e antenadas com os tempos atuais. Tudo em nome do progresso. Progresso de quem? 

Pavimentos e pavimentos

Quando não tem asfalto, há estradas e ruas de terra. E em Serra Negra, as de terra prevalecem.

O problema é que o solo serrano é extremamente suscetível à erosão e, para piorar, recebe da prefeitura um serviço de manutenção ineficiente e no meu entender, bastante inadequado. (ver https://www.vivaserranegra.com/2021/01/opiniao-ruas-estradas-de-terra-e-o.html )

São empregados materiais inadequados e metodologias inadequadas. O resultado é poeira excessiva o ano todo e erosões nos períodos de chuvas. Esse serviço poderia ser feito de uma maneira levando-se em consideração aspectos técnicos mais adequados que não prejudicassem tanto os moradores lindeiros e o próprio meio ambiente.

Eu acredito que poeira faz um grande mal para a saúde e para a qualidade de vida dos moradores lindeiros, principalmente para aqueles que já tem problemas respiratórios. 

Independentemente de serem poucos ou não os prejudicados, quando se fala em saúde e qualidade de vida, a variável “custo x benefício” deveria ser colocada de lado. Isso é Empatia.

Erosões e assoreamento

E nessas muitas ruas e estradas de terra que recebem uma manutenção questionável da prefeitura, acredito também que não prejudicam só os moradores, mas toda a cidade, afinal, o material erodido vai parar nas drenagens urbanas, nos córregos e acaba sedimentado nos trechos mais planos. Mais cedo ou mais tarde gasta-se dinheiro público com desassoreamento. 

Não seria mais eficiente combater as erosões do que gastar dinheiro público com desassoreamento?

Esse debate não deveria entrar no Plano Diretor também? Uma lei de proteção superficial do solo serrano e uma fiscalização mais ativa?

Ver a seguir imagens do “Google Earth”. Notar a cor dos lagos em momentos diferentes. Parece assoreamento. 

Ruas e estradas de terra sofrem erosões e provocam assoreamento de drenagens urbanas e naturais. Assoreamento também é um grave problema ambiental. 

O culpado é o asfalto?



E o Parque Represa como está? Já foi desassoreado? E de onde vem esse material assoreado que chegou e ficou na Represa?

Calçadas e acessibilidade

E como são as calçadas serranas?

Será que não está na hora dar um desconto no IPTU para o morador que faz sua calçada e a mantém adequada aos pedestres, obedecendo as consagradas normas técnicas brasileiras NBR 12.255:1990 e NBR-9050:220 da ABNT que normalmente todo engenheiro busca seguir?

Arborização e IPTU Verde

Será que não está na hora de implantar o IPTU Verde para todos os munícipes, incentivando o plantio de árvores nos lotes e nas calçadas para arborizar a cidade, incentivar a preservação de árvores existentes, incentivar áreas permeáveis (gramados)?

Mais IPTU Verde

Incentivar a geração de energia fotovoltaica e o aquecimento solar para todos os serranos. 

IPTU Verde para todos e não só para a Zona Central ou apenas para empresários, comerciantes, hotéis e afins e de forma justa, equalitária, proporcional. 

Não vale dar grandes descontos para os grandes e pequenos descontos para os pequenos. 

Pastos e árvores exóticas

E será que essas grandes áreas sem uso, que servem esporadicamente para pasto ou plantio de árvores exóticas (eucaliptos), dentro da área urbana ou adjacente ao asfalto da área urbana, pagam IPTU? Algumas têm o asfalto na porta e certamente foram beneficiadas por essa benfeitora. 

Até mesmo os negócios que estão fora da área urbana, mas que usam serviços municiais de manutenção de estradas de acesso ou de coleta de lixo, contribuem com o IPTU? 

Plano Diretor

Não ouvi nenhuma discussão sobre o zoneamento e uso do solo em função da vocação de cada bairro, cada loteamento, sobre aspectos geológico-geotécnicos e sua influência na ocupação, sobre aspectos topográficos e a ocupação etc. 

Atualmente, na elaboração do Plano Diretor, parece que estão priorizando, “di novo” aspectos econômicos em detrimento do que realmente o munícipe deseja e precisa para ter qualidade de vida. 

Parece que estão priorizando o turista que passa o fim de semana ou férias por aqui e estão esquecendo dos moradores que vivem aqui 24 horas por dia, sete dias por semana e 365 dias por ano.

É provável que o poder econômico mais uma vez imponha o que será do futuro e, no caso específico de Serra Negra talvez em breve teremos muito dinheiro público, indo para o embelezamento dos caminhos que levam a pontos turísticos, a construção de mirantes (de vidro?), teleféricos, tirolesas e outros equipamentos turísticos no Alto da Serra e em outros sítios. 

Flores no centro e tapete vermelho nos caminhos dos pontos turísticos. Poeira, erosões e lagos aterrados ou assoreados onde o serrano vive.

Poderá haver momentaneamente um impulso no turismo e na economia da cidade, mas sinceramente, não tenho certeza se também resultará numa diminuição significativa da desigualdade econômica e social.  

Todo esse textão foi escrito para mostrar que parece que a expansão urbana faz algum tempo, ou muito tempo, atende ao mercado e principalmente ao poder econômico e político. O asfalto parece ser consequência desta urbanização sem planejamento e, os moradores, só visitados em tempos de eleições. 

Abrindo um parêntese: outro debate vencido pelo poder econômico aconteceu na revisão do Código Florestal. Vale a pena assistir o documentário a “A lei da Água”. 

Até hoje escutamos que precisamos alimentar a população e para tal, desmatar se necessário, abusar de agrotóxicos se necessário. 

E na primeira crise econômica quando o dólar sobe, quando o valor das commodities sobe, o preço do alimento sobe, a gasolina sobe, tudo sobe, é quando a comida some do prato do brasileiro e ele passa fome, enquanto meia dúzia talvez ganhe muito dinheiro. 

Há vários pontos de vista e elaborar um plano sem o debate amplo pode ocultar caminhos que poderiam ser interessantes para todos. 

Conselhos e Conselhos

Acho bacana o destaque ao ecoturismo, ao turismo rural e à saúde, com os esportes ao ar livre. 

Mas a maioria dos participantes da elaboração do Plano Diretor atua no ramo do turismo ou no setor comercial da cidade e de certa forma pode ter interesses envolvidos. 

Será que não é necessário dar um destaque também à qualidade de vida dos moradores de Serra Negra?

Será que não deveria ter munícipes com visões e posições diferentes participando desses trabalhos para dar uma equilibrada no debate?


 



Comentários

  1. Perfeito em todas as colocações. Infelizmente, o chamado poder público (que de público tem cada vez menos), englobando aí executivo, legislativo e, por vezes, o judiciário (por conta de omissões incompreensíveis para quem tem o dever de defender os direito do cidadão em todos os seus aspectos), não parece - e não está - nem um pouco interessado em garantir o bem-estar futuro da população da cidade. O imediatismo, quase sempre ligado a interesses não muito transparentes específicos de determinados setores econômicos do município, vem prevalecendo administração após administração, em nome do que esses setores chamam de "progresso" (para quem e de que tipo?).
    Outro dia, em encontro para debater o Plano Diretor e onde se concluiu que a preservação ambiental era prioritária para a futuro econômico e social da cidade, o atual chefe do Executivo afirmou que estávamos mantando a "galinha dos ovos de ouro", numa referência à pouca atenção à preservação ambiental. É o caso de se perguntar e perguntar e perguntar: e quem vai impedir esse assassinato que se repete ad infinitum?

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