//ANÁLISE// Bolsonaro cria novo ministério e dá razão a críticos


Fernando Pesciotta

O presidente Jair Bolsonaro foi surpreendido ontem, 10 de junho, no seu encontro diário com apoiadores, na entrada do Palácio do Alvorada. Uma manifestante do MBL se disse arrependida do voto e cobrou do presidente coerência com as promessas de campanha, além de respeito pela vida na gestão da crise do coronavírus.

A ousadia ganhou destaque nas redes sociais e na imprensa, chegando a ser um dos principais assuntos abordados pelo Jornal Nacional. Tudo bem que a manifestante tinha o objetivo de chamar a atenção para ações que estavam sendo promovidas pelo MBL contra o presidente e a favor do impeachment, mas revigora a análise do que tem sido feito por Bolsonaro. Uma das críticas feitas pelos eleitores arrependidos é a abertura do governo ao Centrão.

Poucas horas depois, o presidente confirmou a criação de mais um ministério, o das Comunicações, que será comandado pelo deputado genro de Sílvio Santos. Além de ser da família do homem do baú, Fábio Faria é deputado do PSD, uma das siglas do Centrão. A criação do ministério é o assunto mais comentado nas redes sociais na manhã desta quinta-feira, predominantemente com abordagem crítica para o governo e o presidente.

Ainda na visão dos arrependidos, Bolsonaro traiu a confiança dos eleitores ao se aliar aos políticos tradicionais e contrariar outras promessas de campanha. Antes de ser eleito, ele dizia, por exemplo, que seu eventual governo teria no máximo 15 ministérios. Hoje já são 23, e o 24º, o da Segurança Nacional, pode surgir até o final do ano.

Bolsonaro, que disse ser legítimo querer dar um ministério para Sílvio Santos, parece viver num círculo vicioso. Quanto mais governo, mas precisa do Centrão para fugir de um impeachment.

Autoritarismo

O presidente Bolsonaro emitiu ontem uma medida provisória que permite ao ministro da Educação a nomeação de reitores temporários de 16 universidades federais. A aberração foi considera inconstitucional por especialistas.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, normalmente assintomático quando se trata de questões relativas a Bolsonaro, ameaça devolver a MP, o que a tornaria sem efeito. Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a medida é ilegal.

A cada iniciativa o governo Bolsonaro legitima ainda mais as manifestações em favor da democracia.

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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