//POLÍTICA// Câmara vota projetos sobre violência doméstica e preservação da história de Serra Negra
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Em Serra Negra perdemos uma grande oportunidade de pensarmos
e debatermos a cidade durante a revisão do Plano Diretor. No meu entendimento,
isso não nos foi permitido de forma ampla, efetiva e irrestrita na fase de
elaboração da revisão, entre 2021 e 2022. Na Câmara Municipal o processo foi
político e protocolar.
Caso a arquiteta Raquel Ronlik fosse a responsável por
coordenar a revisão do Plano Diretor de Serra Negra, provavelmente o processo teria
sido mais aberto, democrático, transparente e o resultado, talvez
revolucionário, corrigindo a direção, objetivando a modernidade, a humanidade,
a igualdade, a qualidade de vida do morador, sem afetar negativamente a conta
bancária dos empreendedores e tampouco o caixa da prefeitura, rumo ao
terceiro milênio, ou à era de aquário, ou ao mundo de regeneração, como
queiram. Talvez muitos ainda não perceberam as transformações que estão
chegando.
Dedico o vídeo abaixo aos vereadores serranos que no passado
recente ampliaram o perímetro urbano sem consultar a população e sem realizar
audiências públicas e que, recentemente, aprovaram a revisão do Plano Diretor
por unanimidade. Realmente espero que assistam com atenção e que pensem melhor
a cidade.
Frases transcritas da especialista, arquiteta Raquel Rolnik, pescadas no vídeo:
“A forma de como as cidades se organizam é fruto das
decisões de políticas urbanas que elas tomaram ao longo da sua história, mas
evidentemente também está completamente imbuída [contaminada] daquilo que eu
chamo de economia política da urbanização.“
“Perder o contato do urbanismo com as necessidades urbanas.”
“Precisamos de cidades que dão sombra, que tenham arvores.”
“Cada vez mais uma mercantilização, cada vez mais uma
apropriação dos espaços.”
“A melhor forma de ocupar um lugar não é mais a forma que
atende as necessidades das pessoas, mas é a forma que mais oferece
rentabilidade para o capital disponível para investir naquele lugar.“
É o que aconteceu no passado, acontece atualmente e vai
continuar acontecendo de forma mais intensa no futuro próximo com o Plano Diretor que foi proposto pelo prefeito e aprovado por unanimidade pelos
vereadores serranos, até se esgotar mais essa fonte de negócios. E assim vamos
esgotando todas fontes. Algumas já secaram, não é verdade?
Talvez estejamos empurrando com a barriga mais uma vez e deixando
de lado velhos e graves problemas da cidade. Vamos deixar mais uma vez de lado as
reais necessidades humanas para priorizar os negócios e a economia política
(votos?).
“...mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas...”
(trecho de “Que País é Esse”, da Legião Urbana)
“Aqueles que ganham com a cidade, com sua rentabilidade, são
os que mandam na política urbana. Eles têm de parar de mandar na política
urbana e quem tem que mandar na política urbana são todos aqueles que habitam a
cidade.” (Raquel Rolnik)
No meu entendimento, o Plano Diretor de Serra Negra proposto
pela Prefeitura e aprovado por unanimidade pelos vereadores prioriza os
negócios, os loteamentos e o setor imobiliário e não os que habitam a cidade,
principalmente aqueles que trabalham na cidade e moram em bairros afastados.
Precisamos em algum tempo, espero que em tempo, romper com a
velha e ultrapassada política urbana, se não para levar em consideração aspectos
sociais e ambientais, considerar aspectos de saúde pública, de mobilidade e
acessibilidade e aspectos das alterações que podem surgir com a crise
climática.
Precisamos de mais praças e áreas verdes municipais. Mais
parques.
Não precisamos de mais muros.
Precisamos de mais bosques, mais vida, mais amores. No que estamos
transformando a pátria amada? Toda essa ocupação exagerada e a apropriação do
espaço priorizando os negócios é patriotismo? Ou mercantilismo?
Precisamos de mobilidade, acessibilidade e ruas sombreadas
por árvores, para ir e vir sem fritar os miolos e sem tombar e literalmente
quebrar a cara.
Precisamos de horizontes amplos que permitam enxergarmos as ondas
das montanhas e o céu quase sempre limpo e azul. E aprender a viver e conviver
em harmonia com o meio.
É possível reformar, adequar, modernizar, melhorar, evoluir
e harmonizar progresso e meio ambiente.
É possível. É viável. Não é tão difícil e nem tão caro
ainda.
Eu acredito.
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Marcelo de Souza é engenheiro civil
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