//MARCELO DE SOUZA// Precisamos de mais praças, não de muros, em Serra Negra

 


Em Serra Negra perdemos uma grande oportunidade de pensarmos e debatermos a cidade durante a revisão do Plano Diretor. No meu entendimento, isso não nos foi permitido de forma ampla, efetiva e irrestrita na fase de elaboração da revisão, entre 2021 e 2022. Na Câmara Municipal o processo foi político e protocolar.

Caso a arquiteta Raquel Ronlik fosse a responsável por coordenar a revisão do Plano Diretor de Serra Negra, provavelmente o processo teria sido mais aberto, democrático, transparente e o resultado, talvez revolucionário, corrigindo a direção, objetivando a modernidade, a humanidade, a igualdade, a qualidade de vida do morador, sem afetar negativamente a conta bancária dos empreendedores e tampouco o caixa da prefeitura, rumo ao terceiro milênio, ou à era de aquário, ou ao mundo de regeneração, como queiram. Talvez muitos ainda não perceberam as transformações que estão chegando.

Dedico o vídeo abaixo aos vereadores serranos que no passado recente ampliaram o perímetro urbano sem consultar a população e sem realizar audiências públicas e que, recentemente, aprovaram a revisão do Plano Diretor por unanimidade. Realmente espero que assistam com atenção e que pensem melhor a cidade.


Frases transcritas da especialista, arquiteta Raquel Rolnik, pescadas no vídeo:

“A forma de como as cidades se organizam é fruto das decisões de políticas urbanas que elas tomaram ao longo da sua história, mas evidentemente também está completamente imbuída [contaminada] daquilo que eu chamo de economia política da urbanização.“ 

“Perder o contato do urbanismo com as necessidades urbanas.” 

“Precisamos de cidades que dão sombra, que tenham arvores.” 

“Cada vez mais uma mercantilização, cada vez mais uma apropriação dos espaços.” 

“A melhor forma de ocupar um lugar não é mais a forma que atende as necessidades das pessoas, mas é a forma que mais oferece rentabilidade para o capital disponível para investir naquele lugar.“ 

É o que aconteceu no passado, acontece atualmente e vai continuar acontecendo de forma mais intensa no futuro próximo com o Plano Diretor que foi proposto pelo prefeito e aprovado por unanimidade pelos vereadores serranos, até se esgotar mais essa fonte de negócios. E assim vamos esgotando todas fontes. Algumas já secaram, não é verdade?

Talvez estejamos empurrando com a barriga mais uma vez e deixando de lado velhos e graves problemas da cidade. Vamos deixar mais uma vez de lado as reais necessidades humanas para priorizar os negócios e a economia política (votos?).

“...mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas...”
 

(trecho de “Que País é Esse”, da Legião Urbana)

“Aqueles que ganham com a cidade, com sua rentabilidade, são os que mandam na política urbana. Eles têm de parar de mandar na política urbana e quem tem que mandar na política urbana são todos aqueles que habitam a cidade.” (Raquel Rolnik)

No meu entendimento, o Plano Diretor de Serra Negra proposto pela Prefeitura e aprovado por unanimidade pelos vereadores prioriza os negócios, os loteamentos e o setor imobiliário e não os que habitam a cidade, principalmente aqueles que trabalham na cidade e moram em bairros afastados.

Precisamos em algum tempo, espero que em tempo, romper com a velha e ultrapassada política urbana, se não para levar em consideração aspectos sociais e ambientais, considerar aspectos de saúde pública, de mobilidade e acessibilidade e aspectos das alterações que podem surgir com a crise climática.

Precisamos de mais praças e áreas verdes municipais. Mais parques.

Não precisamos de mais muros.

Precisamos de mais bosques, mais vida, mais amores. No que estamos transformando a pátria amada? Toda essa ocupação exagerada e a apropriação do espaço priorizando os negócios é patriotismo? Ou mercantilismo?

Precisamos de mobilidade, acessibilidade e ruas sombreadas por árvores, para ir e vir sem fritar os miolos e sem tombar e literalmente quebrar a cara.

Precisamos de horizontes amplos que permitam enxergarmos as ondas das montanhas e o céu quase sempre limpo e azul. E aprender a viver e conviver em harmonia com o meio.

É possível reformar, adequar, modernizar, melhorar, evoluir e harmonizar progresso e meio ambiente.

É possível. É viável. Não é tão difícil e nem tão caro ainda.

Eu acredito.

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Marcelo de Souza é engenheiro civil



 

 

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