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Ele parou o carro ao lado da banquinha que montamos em frente da rodoviária de Serra Negra para ajudarmos a eleger Lula presidente e Haddad governador. Parou, se virou para nós e começou a fazer uns gestos estranhos com as mãos, ao mesmo tempo em que gritava alguma coisa.
- É bolsonarista, não vamos dar atenção - disse um de nós.
O sujeito continuou com as provocações.
Agitamos as bandeiras em resposta.
Ele ficou mais uns minutos parado, atrapalhando o trânsito. Até que cruzou a esquina e estacionou do outro lado da rua.
Saiu do carro e veio em nossa direção, falando alto, gesticulando.
Um autêntico valentão de filme de bangue-bangue.
Como nenhum de nós fez o menor sinal de que iria se importar com a sua presença, ele mudou de tática.
Começou a perguntar os nossos nomes e a apertar nossas mãos.
Na minha vez, respondi que não daria meu nome, tampouco o cumprimentaria e completei:
- Cara, você não se toca? Estamos aqui há quase duas horas e você foi o único que veio nos perturbar. Não vê que estamos aqui numa boa, num espaço público, sem incomodar ninguém?
Foi aí que o sujeito deu a primeira derrapada:
- Espaço público coisa nenhuma. Isso aqui é da prefeitura...
Depois de ouvir essa asneira virei as costas. Mesmo assim acabei escutando trechos da conversa que teve com os outros companheiros.
Coisas como "vão para a Venezuela", "sou contra o comunismo", "sou Bolsonaro porque ele é família"... e outras lorotas que essa gente descerebrada repete feito papagaio.
Mas o melhor estava no fim, quando ele, cansado de dizer besteiras, apontou para a bandeira brasileira que colocamos bem à vista de todos, e disse, num tom indignado:
- Essa bandeira é nossa!
E atravessou a rua.
Perguntei ao pessoal quem era o dito cujo dono da bandeira brasileira.
- Falou que é cearense, empresário, e mora em Miami - me responderam.
Deu tempo ainda para ver o dono da bandeira do Brasil, esse empresário cearense que mora em Miami, entrar no seu carro e ir embora.
O Chevrolet Prisma, primeira versão, fabricado no mínimo há uns dez anos, arrancou, virou a esquina e sumiu.
Deve estar rodando até agora rumo a Miami.
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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Jornal da Tarde e Valor Econômico) e editor do Viva! Serra Negra
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