//ANÁLISE// Pecados que viram crime

                                                                                                          


Fernando Pesciotta


No domingo (17), quando a Anvisa liberou a aplicação da vacina contra o covid-19, explicitou que não existe tratamento precoce da doença, esvaziando o discurso de Jair Bolsonaro e do sinistro da Saúde, general Eduardo Pazuello.

O posicionamento da agência agravou a situação política e jurídica de Bolsonaro. Segundo levantamento do UOL, em nove de cada dez cidades que adotaram o “tratamento precoce”, com aplicação de cloroquina e uso do chamado “kit covid”, o número de mortos foi muito maior.

Ao longo da semana, o general da saúde foi duramente questionado sobre o assunto e mentiu ao dizer que “nunca falou em tratamento precoce”.

O Ministério da Saúde mantinha no ar um aplicativo, batizado de TrateCov, que visava orientar os médicos de todo o País no ”tratamento precoce”. Nesta quinta-feira (21), o aplicativo saiu do ar misteriosamente.

Seu sumiço ocorreu um dia após o deputado Marcelo Freixo recorrer à Justiça com pedido de proibição de uso do TrateCov.

Pazuello voltou a ser questionado pela imprensa, agora para explicar o sumiço do aplicativo. O general novamente recorreu à mentira para responder. Disse que o lançamento do TrateCov foi uma ação indevida, provavelmente de algum hacker.

Perfis nas redes sociais postaram um vídeo de recente cerimônia oficial, realizada em Manaus, na qual o general Pazuello e Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, lançam o TrateCov.

O vídeo é esclarecedor. Mayra e o general dizem com toda a clareza que o aplicativo deve ser seguido por todos os prefeitos. É esclarecedor também por reforçar que o general Pazuello é um mentiroso contumaz.

O general sabe disso. Ele assumiu definitivamente o papel de aparador de Bolsonaro. Na lógica do Planalto, é melhor que o general assuma as responsabilidades, caia, mas preserve Bolsonaro.

Porém, há muitos pedidos de impeachment do presidente – a Folha fala em 61 e o Estadão, em 56. Especialistas consultados pela Folha concordam que a crise sanitária amplia a base jurídica para o afastamento definitivo de Bolsonaro.

Na lista de crimes pode-se incluir também o revelado nesta manhã pelo UOL: o governo faltou a um encontro de chanceleres latino-americanos com um representante do governo da China, em julho de 2020, no qual o país asiático ofertou vacinas contra o covid-19 e uma linha de crédito de US$ 1 bilhão para a compra do imunizante.

Ficou claro que o governo Bolsonaro não queria estimular a aplicação da vacina, o que causou indignação no meio científico.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

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