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Fernando Pesciotta
Jair Bolsonaro deixou de surpreender já faz tempo. Todos os seus movimentos são previsíveis. Precisou de poucas horas para atender às expectativas e trazer a tentativa de golpe de Donald Trump para o Brasil.
Mesmo com a certificação da vitória de Joe Biden pelo Congresso dos EUA, Bolsonaro manteve a ladainha de fraude na eleição norte-americana. Sem nenhuma prova, repetiu argumentos falsos.
Bolsonaro trouxe para o contexto brasileiro os devaneios de Trump, o que faz de Bolsonaro uma cópia paraguaia do personagem tosco que presidiu os EUA por quatro anos.
"Se tivermos voto eletrônico" em 2022, "vai ser a mesma coisa" ou "vamos ter problema pior que nos Estados Unidos", ameaçou.
Ou seja, Bolsonaro usa argumentos que contrariam a sua própria lógica, mas que servem para dar argumentos para aqueles sem nenhuma reflexão que o seguem nas redes sociais. Afinal, se você acha que voto em papel provoca fraude nos EUA, por que defende o uso de cédulas de papel aqui para evitar fraude? Qual a lógica disso?
A única lógica é que o voto impresso facilita o cabresto e o jogo de pressão das milícias.
O presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, reagiu acusando Bolsonaro de contribuir para a “ilegítima desestabilização das instituições”. Uma reação tímida, digna de quem não quer tomar nenhuma providência contra acusações tão sérias.
Rodrigo Maia, presidente da Câmara, disse que Bolsonaro supera "delírios e devaneios de Trump".
Ao contrário de outros governos, que rapidamente condenaram o episódio no Capitólio, o Itamaraty demorou 18 horas para emitir uma nota dúbia, na qual elogia o perfil dos invasores.
Pior do que isso, Bolsonaro telefonou para Trump para prestar solidariedade. Só que até Trump passou a condenar a invasão do Congresso e fez um apelo pela conciliação.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, antigo aliado do norte-americano, disse que Trump estava "completamente errado" ao encorajar apoiadores a invadir o Capitólio.
A chanceler alemã, Angela Merkel, condenou os manifestantes de Washington e disse que Trump tem de aceitar parte da responsabilidade.
"Uma regra básica da democracia é que depois das eleições há vencedores e perdedores", disse Merkel.
Esperamos que ela repita o discurso daqui dois anos.
Mortes
O Brasil se esforçou e finalmente conseguiu chegar a mais de 200 mil mortos pelo covid-19. Bolsonaro, o principal responsável por esse genocídio, usou menos de um minuto para dizer que “lamenta, mas a vida continua”. E insistiu em criticar o isolamento social. Ou seja, não lamenta nada.
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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com
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