//TURISMO// Municípios querem reabertura flexível com segurança

Ivane Fávero: momento ainda não é de retomada total da atividade do setor, mas de luta pela sobrevivência

Salete Silva

Considerando que o Estado de São Paulo deve atingir até o fim de julho 600 mil casos de covid-19, o momento ainda é de luta pela vida, mas também de capacitar os agentes turísticos para uma reabertura segura e receptiva aos visitantes, que vão estar ávidos para voltar a viajar quando a situação estiver mais tranquila.

Esse foi o tom da maioria das palestras do 3º painel do 1º Fórum Online: Liderança e Integração para o Desenvolvimento do Circuito das Águas Paulista, apresentado na quarta-feira, 15 de julho.

“As pessoas vão estar ávidas para voltar a viver e, entre viver, a viajar, e precisamos trabalhar o turismo com empatia”, disse Ivane Fávero, especialista em gerenciamento do Desenvolvimento Turístico e ex-secretária de Turismo de Garibaldi e Bento Gonçalves.

Setor econômico mais castigado pela pandemia do novo coronavírus, o turismo mundial encolheu este ano 44%, destacou a especialista.

O turismo brasileiro teve um prejuízo de R$ 161 bilhões, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas e sua participação de 8% no Produto Interno Bruto (PIB) deve diminuir em 39%.

Os empresários do turismo, enfatizou Ivane, precisam da retomada da economia não só para sobrevivência, mas para evitar a falência.

Assim como em Serra Negra, que têm no turismo sua principal atividade econômica, o comércio e a rede hoteleira das cidades das Serras Gaúchas, a especialista relatou, sofrem com o abre e fecha da economia e são prejudicados, na sua avaliação, por políticas de retomada econômica de municípios e Estado.

O turismo no Rio Grande do Sul, ela informou, deixou de faturar R$ 4,79 bilhões, entre março e junho.  O Estado corre o risco de perder 40% de seus restaurantes.

“Além de trabalhar com reservas antecipadas, não adianta para os hotéis funcionar com 40% da capacidade, se restaurantes e parques vão estar fechados”, afirmou Ivane.

O setor necessita, ela avalia, de protocolos seguros para funcionar de forma organizada e evitar demissões e falências. “Precisamos entender que o empresário não é um vilão e que ele precisa da cadeia ativa”, acrescentou.

“Para o turismo, o fecha e abre não é tão simples. Queremos os protocolos de segurança, mas queremos também uma mudança na compreensão da política”, disse Ivane. Esse pleito será encaminhado às autoridades estaduais de turismo.  

O momento, ela admite, ainda não é de retomada total da atividade do setor, mas de luta pela sobrevivência, que vem com alguns paliativos, como viagens curtas e nos entornos de grandes centros e capitais.

Além das viagens de carros, o turismo doméstico, ela apontou, vai estar mais competitivo, assim como o turismo familiar e de grupo. Entre os principais nichos turísticos, a especialista destacou o de experiência, espiritual, contemplação, científico, cultural e ecológico.

“O turismo de negócios será reinventado a partir da transformação digital forçada que estamos vivendo”, afirmou. A era digital chegou de vez para o setor. “É o fim da gambiarra digital, ou a empresa é digital ou não é, não existe meio termo”, afirmou.

As agências, os hotéis e o comércio de forma geral, ela ensinou, terão de estar presentes nas casas dos clientes. “Vai sobreviver quem for mais ágil”, concluiu. As ferramentas digitais e os protocolos de segurança, segundo a especialista, são peças chave na era da nova normalidade.

Assim será no Brasil e no mundo concordou João Paulo Benedeto, diretor consultor da ACT4GROWTH, que mora em Portugal. O compartilhamento de informação e experiências como vem fazendo o Circuito das Águas Paulista, segundo ele, é fundamental para disseminar as melhores práticas de segurança.

“Mas não é só o brasileiro que tem a parte mais sensível no bolso, é o ser humano” afirmou o consultor se referindo às multas pesadas aplicadas por lá aos que descumprem regras de proteção, como o uso de máscaras.

“Não vale à pena descumprir os protocolos, porque se fizer isso vai levar uma multa de 120 euros e os reincidentes podem pagar 350 euros”, informou.

Restaurantes, hotéis e bares dos municípios do Circuito das Águas Paulista vêm tomando as precauções necessárias, mas ainda há muitas dúvidas e preocupações das autoridades locais.

A diretora de Cultura e Turismo de Holambra, Alessandra Carati, demonstrou preocupação especial com os riscos de contaminação no uso de cartão de crédito, com as filas na hora do pagamento em bares e restaurantes, com a limpeza dos estabelecimentos e com a definição de um modelo de máscara ideal para os funcionários do setor de alimentação.

Para o Secretário de Turismo, Cultura e Lazer de Águas de Lindoia, Lauro Franco, todos os procedimentos de segurança estão sendo adotados no município, mas falta também conscientizar a população de que não é o turista que traz o vírus para os municípios.

“Temos de conscientizar que temos de tratar bem os turistas, tem de exigir os cuidados deles enquanto fazem os passeios, que tomem os cuidados, mas, na hora que abrir os hotéis, temos de ter carinho, acolher o turista e trata-lo bem”, afirmou. 

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