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Salete Silva
Lá nos anos 1970, meu marido, aos oito anos de idade, com a venda de patos, cuja criação era de sua responsabilidade, arrecadou dinheiro suficiente para comprar uma caminhonete.
Era ele quem cuidava de alimentar e tratar diariamente os bichinhos no sítio de propriedade de meu sogro e, quando a criação já estava pronta para o abate, meus sogros tratavam da comercialização.
O trabalho era coisa séria para a família Polidoro. Acordar às cinco da manhã e ajudar no terreiro de café fazia parte das tarefas diárias dos meninos.
Qualquer um que conheça a família Polidoro e em especial meu sogro, o Nico Polidoro, falecido há quase dez anos, sabe que o trabalho é coisa séria para eles, porque é daí que vieram a expansão da produção do café da família e a origem do Café da Montanha.
A capacidade de trabalho deles, incluindo da dona Ignez, minha sogra também falecida, era imensurável. Os almoços de domingo no sítio eram fartos: pelo menos dois tipos de carne, salada de maionese, arroz, dois tipos de massa e a sobremesa, quase sempre duas, incluindo o rocambole de goiabada, que eu adorava, e os crostolis, iguaria da culinária italiana, muito popular por aqui, que deliciavam os netos. Tudo feito por ela, sozinha.
Mas é bom deixar claro que o que os Polidoro ensinaram aos filhos não é trabalho infantil. Trabalho infantil é proibido para crianças de até 14 anos. Acima disso e até os 18 anos, só se for na condição de aprendiz, segundo o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).
Trabalho infantil é o sistema ao qual quase 2 milhões de crianças brasileiras de 5 a 17 anos estão submetidas. Muitas delas foram resgatadas de condições análogas à escravidão. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou, entre 2007 e 2018, quase 44 mil acidentes de trabalho com crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos.
Essas e outras atrocidades é que ocorrem quando se permite o trabalho infantil. Dos anos 1990 para cá, o Brasil já reduziu em 68% a exploração de mão de obra infantil, conquista de muitas lutas.
As declarações do presidente Jair Bolsonaro deturpam a realidade sobre a exploração infantil no Brasil e por trás escondem sua real intenção de alterar o ECA, que protege e garante o direito à educação e a condições dignas de desenvolvimento a todas as crianças beneficiando em especial as mais pobres.
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