//EDUCAÇÃO// Promessa de carreira atrai jovens

O panfleto distribuído nas escolas: informações incompletas 

Um processo seletivo, realizado neste sábado, 8 de junho, para ingressar num curso preparatório para interessados em disputar uma vaga nas academias militares do país, atraiu cerca de 150 adolescentes de escolas da rede pública e particular de Serra Negra.

As crianças foram convidadas por meio de panfletagem realizada em suas escolas um dia antes pelo Centro Preparatório para Escolas Militares Base 1 Atibaia que, segundo um de seus diretores, Igor Alves, deverá ter um polo de ensino em Serra Negra, na escola da rede privada Libere Vivere, onde foi realizado o processo seletivo.

O número de interessados, no entanto, ficou aquém das expectativas de Alves, que esperava pelo menos 300 jovens e adolescentes. “Estou surpreso, recebemos metade do número esperado”, disse. O que mais atraiu os estudantes ao processo seletivo foram as oportunidades de carreira e em especial os salários informados nos panfletos distribuídos nas escolas.

Além de prometer a alunos de 13 a 23 anos oportunidade de carreira militar em diversas áreas como Medicina, Engenharia, Enfermagem e até como desenhista, fotógrafo e músico, o panfleto informava que os alunos, depois do ingresso nas academias militares, receberiam salário inicial de R$ 1.040,00, além de benefícios como alimentação, moradia e assistência médica. Depois de formados, os salários, segundo o panfleto, poderiam alcançar R$ 6.576,00.

Um professor de uma escola do município que recebeu a visita de representantes do centro preparatório informou que ele apareceu lá "com um monte de panfletos, dizendo ser de um tal instituto militar". O professor afirmou que essa pessoa "foi à direção, saiu e foi de sala em sala, entregando os panfletos e 'vendendo' para as crianças a ideia de que elas apenas teriam de ir ao Libere, fazer uma provinha, para receberem até R$ 6.000 para estudar".

O mesmo professor disse que quando o representante do centro se identificou como sendo desse "instituto militar", indagou se ele era ligado à Polícia Militar, "pois conheço apenas os colégios militares, e ele me respondeu que não, que eram ligados às Forças Armadas".

“O que mais me interessou foram as carreiras”, afirmou uma aluna do 9º ano da escola da rede estadual de ensino fundamental e médio Professora Franca Franchi, localizada no bairro Serra de Baixo, Rodovia Serra Negra-Monte Alegre, que foi ao Libere fazer a prova. Um de seus colegas de escola se interessou pelos salários: “Não tem como ganhar salários tão altos em Serra Negra”, disse o menino ao Viva! Serra Negra.

Os alunos, no entanto, não conheciam o centro preparatório nem tinham informações sobre ele, uma vez que esses dados não constavam nos panfletos distribuídos aos estudantes. Eles também disseram não ter sido informados sobre os custos do curso, de um ano de duração, e achavam até que era gratuito.

“As mensalidades variam de acordo com o número de alunos e devem ficar em torno de R$ 150,00”, explicou Alves. As informações sobre custos, ele informou, seriam transmitidas aos pais dos alunos selecionados em reuniões na parte da tarde.

Serra Negra, segundo ele, será o primeiro polo da Base 1 no Circuito das Águas Paulista e deverá receber alunos de municípios vizinhos, como Amparo e Lindoia, onde deverá haver também processo seletivo. Esta é a primeira vez que o centro preparatório Base 1 faz processo seletivo em Serra Negra.

Segundo Alves, a crise econômica e as oportunidades de salários no Exército aumentam o interesse pelas carreiras militares. Mas o ingresso nas academias é muito difícil, ele admite, em virtude, na sua opinião, do baixo nível de ensino das escolas.  

Ele calcula que dos cerca de mil alunos treinados pelo centro preparatório, apenas 20% conseguem ingressar nas academias. “É que depende muito do esforço de cada um”, ressalvou. Segundo ele, o corte de concursos públicos anunciados pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, não deve atingir o Exército. “O ministro falou besteira. O presidente Bolsonaro jamais vai fazer cortes no Exército, porque sabe que isso é proibido”, afirmou.

Pais e responsáveis por adolescentes que participaram do processo seletivo tinham opiniões divergentes sobre o ingresso na carreira militar. Maria de Lurdes Dalarme, avó de um garoto de 13 anos da escola Dr. Jovino Silveira, acha que essa é uma boa oportunidade em especial, porque o salário é bom e o Exército oferece carreira profissional.

O pai de uma estudante da mesma escola, que preferiu não dar seu nome, disse que só levou a filha por insistência dela. Ele afirmou que o Exército, na sua opinião, não é a melhor opção de carreira para a filha, além de que ele não sabia que o curso era pago.

As aulas, segundo Alves, devem começar no próximo sábado, 15 de junho, e a primeira será sobre como aprender a receber ordens. “Aprender a receber ordens é importante para o aprendizado. Os pais adoram essa aula. Venha assistir”, disse Alves à reportagem do Viva! Serra Negra

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