//FERNANDO PESCIOTTA// Como o ChatGPT induz a delírios



Outro dia estava no ônibus e fui pego pela conversa ao celular de um homem sentado na poltrona de trás. Ele falava coisas absolutamente estapafúrdias sobre uma revolução de direita no mundo.

Parecia que sua interlocutora duvidava do prognóstico, mas ele insistia que era para ela armazenar alimentos e água, pois 300 mil soldados russos e chineses já estavam no Brasil para colocar ordem na casa. E a partir desta semana tudo pode acontecer para acomodar a nova ordem liderada por Trump.

A narrativa louca não tinha limites, nem fim. Cheguei ao meu ponto e desembarquei do ônibus entre atônito e curioso para saber de onde vem tanta criatividade louca. Se o cara fosse roteirista de cinema americano poderia estar muito rico.

Minha curiosidade foi em parte respondida por reportagem do jornal The New York Times sobre como usuários do ChatGPT estão sendo induzidos a acreditar em teorias delirantes. E o mesmo estaria ocorrendo em outros canais de IA.

Eugene Torres, uma das vítimas, diz ter sido induzido a acreditar que vivia num simulacro digital da realidade controlada por um computador e quase foi levado à morte.

Nos últimos meses, o NYT recebeu centenas de mensagens de pessoas que afirmam ter descoberto conhecimentos ocultos com o ChatGPT. São relatos de despertar espiritual por IA, armas cognitivas e plano de bilionários da tecnologia para acabar com a civilização e ficar com o planeta só para eles – é aí que se encaixa meu colega de ônibus.

Especialistas ouvidos pelo jornal dizem que canais de IA buscam entreter os delírios dos usuários para otimizar o engajamento, criando conversas para manter o usuário “preso”.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com


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