//CARLOS MOTTA// Resultado do IPS 2025 motiva cidade a refletir sobre seu futuro



O Índice de Progresso Social (IPS) de 2025, que mostra Serra Negra como o município com a pior qualidade de vida entre os nove que compõem o Circuito das Águas Paulista, deveria ajudar a orientar os poderes Executivo e Legislativo na adoção de políticas públicas capazes de promover o desenvolvimento local em todos os setores. 

A pesquisa coloca Serra Negra na 877ª posição entre os 5.570 municípios brasileiros e em 416º lugar entre os 645 municípios paulistas. É interessante notar que embora a cidade tenha melhorado os indicadores no geral em relação ao IPS de 2024, piorou no ranking regional. 

Um dos dados mais importantes da pesquisa é sobre a renda per capita dos serranos, de R$ 27.532 neste ano, que caiu em comparação com o ano passado (R$ 28.477). Os administradores da cidade deveriam se perguntar como isso pode ter ocorrido, se, como não cansam de alardear, o município recebe a cada dia mais e mais visitantes, que deixam um bom dinheiro nos bares, restaurantes, lojas, hotéis e pousadas, enfim, no setor de serviços.

A constatação óbvia é que o que os turistas gastam em Serra Negra não está sendo utilizado em benefício da maioria da população, que são os trabalhadores. Os salários são tão baixos que sua renda per capita coloca o município na 2.423ª posição no Brasil, ao lado de, por exemplo, Acrelândia (AC), Cumaru do Norte (PA), Limoeiro de Anadia (AL) e Paraíso de Tocantins (TO). 

O desempenho geral no IPS 2025 deveria ser analisado com lupa pelos governantes serranos. Só assim, com base em dados sérios e imparciais, é que eles poderiam traçar os rumos capazes de levar a cidade a ingressar no século 21. Porque está mais que evidente que não dá para o município, se ele quiser mesmo se desenvolver, insistir neste modelo econômico único de o setor turístico ser o carro-chefe de sua economia. 

Basta olhar para o lado para ver que o turismo não é capaz, por si só, de prover todas as necessidades sociais de Serra Negra: a renda per capita de Jaguariúna é dez vezes a de Serra Negra, a de Amparo, três vezes. As duas cidades têm um parque industrial que absorve a maior parte da mão de obra local, ao contrário de Serra Negra.

Além disso, não é possível que a cidade continue a prescindir de políticas públicas estruturantes, com governantes preocupados em simplesmente mitigar problemas setoriais, ignorando os avanços que o país tem feito na consolidação da democracia, rejeitando o debate de ideias e a participação popular como ferramenta essencial na administração pública. 

Não dá mais para o chefe do Executivo tomar decisões monocráticas, como se fosse a única pessoa com capacidade de resolver os graves problemas nas áreas da saúde, educação, mobilidade urbana, habitação, meio ambiente e zeladoria, entre outros, que se avolumam no município. O mundo mudou, o Brasil mudou e não vive mais nos anos 70 do século passado. 

A pesquisa tem muitos outros elementos que nos induzem à reflexão. Mas será que prefeito, vereadores, empresários, estão dispostos a mudar seu modo de pensar e agir?

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Jornal da Tarde e Valor Econômico) e editor do Viva! Serra Negra

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