//SALETE SILVA// "Carnaval Família" pode afugentar turistas e causar prejuízo à cidade, diz vereador

Se mantiver esse formato de “Carnaval Família” para agradar idosos e casais com filhos pequenos, excluindo a população jovem, Serra Negra vai afugentar turistas e trazer prejuízo financeiro à cidade, com a redução do índice de ocupação na rede hoteleira e do movimento no comércio, bares e restaurantes.

A avaliação é do vereador César Augusto Borboni, o Ney, que em 2020, como secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico, introduziu esse modelo de Carnaval em Serra Negra. Na época, Ney  proibiu as bandas de tocarem funk por recomendação de autoridades policiais, que avaliavam que esse gênero musical provoca aumento da violência. 

Vereador da base de apoio do prefeito Elmir Chedid, ex-presidente e atual 1º secretário da mesa diretora da Câmara Municipal, Ney lembrou que a ideia de oferecer aos turistas uma opção de Carnaval familiar surgiu das lideranças dos comerciantes e hoteleiros, que reclamavam de que os foliões jovens só faziam bagunça, sem dar retorno financeiro para a economia local.

Os comerciantes avaliavam que a mudança de formato evitaria o consumo de bebida, drogas, violência e o uso de ruas e portas de lojas como banheiro pelos foliões, principais reclamações do setor.

O “Carnaval Família”, no entanto, não atendeu aos objetivos, admitiu o secretário. A Ashores, associação que representa a rede hoteleira, informa uma ocupação média de apenas 70% e a Acia, que reúne donos dos estabelecimentos comerciais, uma queda nas vendas de 30% em relação ao ano passado.

“Se continuar assim vai cair a acomodação aqui cada vez mais. Temos de entender também que tem pessoas de idade que gostam de brincar o Carnaval. Tem de ter um Carnaval para todas as faixas brincarem”, disse. O vereador informou que vai sugerir as mudanças ao prefeito.

Quem ganhou, quem perdeu

Ney destacou ainda que esse formato "família" traz benefícios financeiros para alguns e prejuízo a outros. O impacto da falta de movimento de turistas é diferente entre os estabelecimentos hoteleiros. Ele avalia que esse modelo pode beneficiar hotéis e pousadas localizados em áreas rurais, que recebem turistas que não gostam de Carnaval e preferem usufruir dos serviços oferecidos pelo estabelecimento, aumentando seu faturamento, mas pode prejudicar os hotéis localizados na área central que têm a preferência de hóspedes que querem brincar o Carnaval.

Embora tenha afirmado que há empresários satisfeitos, o vereador admitiu que houve muita reclamação de donos de bares, incluindo os de estabelecimentos localizados na Praça João Zelante, onde se concentrou boa parte da programação dirigida às crianças e às famílias.

Quem ganhou com o "Carnaval Família" certamente foram os donos de aplicativos de transporte que, segundo Ney, não conseguiram atender a demanda de passageiros para municípios vizinhos, como Lindoia e Amparo, para onde se dirigiu a maioria dos jovens e adolescentes que deixaram Serra Negra para brincar o Carnaval.

Ney sugeriu que a prefeitura ouça os jovens por meio da Secretaria de Turismo e do Conselho Municipal de Turismo (Comtur) para fazer os ajustes necessários que, na sua avaliação, não seriam muitos, mas essenciais para incluir essa parcela da população e não deixar morrer o Carnaval de Serra Negra.

Vereadores da oposição também manifestaram descontentamento com o modelo de Carnaval adotado. Roberto de Almeida disse que houve muitas queixas de comerciantes. A vereadora Anna Beatriz Scachetti lembrou que, apesar das reclamações no ano passado, a prefeitura prometeu mudar, mas manteve o mesmo modelo, o que foi interpretado como um descaso do poder público com a população jovem, que teria entendido que essa administração não faz nada por eles. 

“Não houve indignação dos mais jovens, houve uma aceitação, o que é preocupante. Aceitaram que não tem mais nada para eles no Carnaval”, afirmou Anna Beatriz.

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Salete Silva é jornalista profissional diplomada (ex-Estadão e Gazeta Mercantil) e editora do Viva! Serra Negra