//CARLOS MOTTA// Uma festa da família

Auditório Mario Covas com metade da lotação na solenidade do novo paço municipal 


A inauguração do "Centro Administrativo Municipal Prefeito Jesus Adib Abi Chedid", ou simplesmente, o novo Paço Municipal, no Centro de Convenções, sábado, 11 de novembro, foi uma festa. 

Cerca de metade do auditório Mario Covas, que comporta pouco mais de 1.100 pessoas, estava tomada pelo público. A festa, porém, foi quase exclusiva da família do homenageado, ex-prefeito de Serra Negra e Bragança Paulista, que liderou o grupo político/empresarial que detém há décadas o poder local e regional. 

Trabalho e família foram as duas palavras mais enfatizadas pelos oradores da solenidade. 

O patriarca Jesus foi glorificado por todos eles - o vereador Cesar Borboni, autor do projeto de lei que deu nome ao novo paço municipal, o presidente da mesa diretora da Câmara Municipal, Wagner Del Buono, Marco Antonio Nassif Abi Chedid, Victor Hugo Chedid, Edmir Chedid e Elmir Chedid.

Antes, um vídeo apresentou a trajetória política de Jesus, com depoimentos dele próprio. Sincero, informou que foi indicado para assumir a Prefeitura de Serra Negra (1973 a 1979) a pedido de um amigo seu, atendido pelo então governador Laudo Natel. O presidente da República era Emílio Garrastazu Médici, um dos cinco generais que governaram o país depois do golpe de Estado de 1964. Não havia eleições diretas. 

Tanto o vídeo quanto os discursos que o sucederam, listando as obras feitas em sua administração, deram a impressão de que a história de Serra Negra se divide em antes e depois de Jesus Chedid. 

Aliás, nada se falou sobre o período anterior a ele. Nem se mencionou nenhum partido. Todas as referências foram ao "nosso grupo político".

Entre os oradores, dois se destacaram por razões diversas - os irmãos gêmeos Edmir, deputado estadual, e Elmir, atual prefeito de Serra Negra.

Edmir foi convocado a falar pelo seu filho, Victor Hugo, que dirige várias empresas da família. 

Com visíveis sequelas dos AVCs que o deixaram por dois meses em leito hospitalar, 40 dias dos quais em UTI, Edmir exaltou a grandiosidade do Centro de Convenções, obra que, segundo ele, dificilmente seria feita nos dias de hoje, quando, ressaltou, é mais difícil arranjar verba. 

Edmir, oito vezes deputado estadual, iniciou e terminou sua fala chorando. No fim, lembrou que sua doença o fez dar mais importância a valores como amizade, trabalho e família. E ao "ser humano".

Em meio a recordações da vida familiar e profissional do pai, deu a entender que será sucedido em suas funções políticas pelo filho Victor Hugo.

Seu irmão Elmir foi o último orador da cerimônia. Gastou vários minutos em agradecimentos a inúmeras pessoas, desde autoridades regionais que compareceram à festa até servidores públicos que trabalharam com seu pai. Além de exaltá-lo, como fizeram seus antecessores, elogiou o papel que sua mãe, dona Marilis, ocupou em sua administração. 

Segundo disse, ela cuidava da parte social - papel ainda hoje desempenhado pela sua esposa, Deborah, que preside o Fundo Social de Solidariedade - e até mesmo da área médica, pois era responsável pela liberação das ambulâncias para socorrer os adoentados. 

- O telefone de casa não parava de tocar - relembrou.

Em meio a tantas recordações, o prefeito reservou um tempo para falar do novo paço municipal. Explicou que outras secretarias e unidades do Executivo ainda vão se mudar para lá, numa segunda fase da obra.

E enfatizou algo que o primeiro orador da tarde, o vereador Cesar Borboni, já havia notado: espera-se que com a mudança de endereço, mais vagas de estacionamento de veículos sejam abertas na região central, principalmente na Rua Coronel Pedro Penteado. 

Como se sabe, esse é um dos principais problemas da cidade, notado não só pelos moradores, mas também pelos turistas.

O prefeito, entre os seus inúmeros agradecimentos, fez um especial aos vereadores, que como disse, aprovaram todos os projetos de lei que enviou ao Legislativo. Não se esqueceu de mencionar e agradecer dois vereadores "que não pertencem ao nosso grupo político", citando nominalmente o "doutor Roberto" [Sebastião de Almeida] e a "doutora Anna Beatriz" [Scachetti], sentados na plateia.

Dessa forma, ele deu razão àqueles que dizem que em Serra Negra não há vereadores, mas "aprovadores", que quase automaticamente acatam, sem nenhum debate, os textos que envia ao Legislativo.

A solenidade, marcada para as 14 horas, começou com 40 minutos de atraso. Durou cerca de 70 minutos. 

As mulheres que estavam no palco - esposas do prefeito Elmir, do deputado Edmir, do empresário Victor Hugo e de Marco Chedid, além das viúvas de Jesus Chedid e do ex-prefeito serrano Antonio Luigi Italo Frachi - receberam flores.

Nenhuma foi convidada a discursar.

O prefeito Elmir falou por 41 minutos. As suas últimas palavras, que fecharam a solenidade no auditório Mario Covas, foram "parabéns, querida Serra Negra". 

O novo Paço Municipal começa a receber a população nesta segunda-feira, 13 de novembro. Uma linha de ônibus foi criada para levar o público até lá, partindo da Rodoviária, que também se chamava Jesus Adib Abi Chedid. O prefeito ressaltou que as pessoas também podem ir a pé ao Centro de Convenções, "pela Rua do Sapo". São só uns 400 metros, disse. 

Há um problema, porém: atravessar a rodovia. Sem passarela ou um redutor de velocidade, o pedestre corre sério risco de ser atropelado.

Mas isso é algo para ser resolvido no futuro.

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Carlos Motta é jornalista profissional (ex-Estadão, Jornal da Tarde e Valor Econômico) e editor do Viva! Serra Negra









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