//SALETE SILVA// O futuro de Serra Negra, da janela de casa

Falar bem da nossa cidade é fácil e gostoso. Sentar ao computador para escrever depois de dar uma espiada pela janela da minha área de serviço só pode sair coisa boa. Resido no Campo do Sete, área tão perto do Centro que muita gente arrisca a dizer que esse bairro está na região central.

A paisagem vegetal que vislumbro do fundo do meu "quintal" parece não só pintura como área de preservação ambiental em local tão próximo ao Centro. Que seus proprietários não leiam esse texto. Vão achar que estou sugerindo que o Estado se aproprie de suas terras. Nada disso.

Comparo o meu fundo de "quintal" com o que vi em viagem recente a uma cidade de quase 800 mil habitantes do interior de São Paulo. Não vou citar o nome do município porque nem de longe a ideia é denegrir sua imagem, além de que não estudei seu desenvolvimento urbano para falar com propriedade sobre o assunto. A região onde está localizada a cidade sofreu um boom imobiliário a olhos vistos nos últimos anos e está entre os seis municípios mais atrativos do setor do país.

O desenvolvimento  urbano, no entanto, parece ter ocorrido de forma desenfreada. Essa é a impressão que dá ao espiar das janelas do edifício em que me hospedei, localizado numa área distante uns oito quilômetros do Centro e que também já está tomada por prédios. 

Os mais antigos deles são construções com no máximo quatro ou cinco andares, enquanto que as mais recentes já têm mais de dez ou 15 andares, o que indica uma mudança na Lei de Zoneamento. O fato é que de onde se vê é impossível enxergar um ponto verde, com exceção de árvores nas calçadas visíveis apenas pelos moradores da parte da frente. 

Questionei um profissional da área da construção local sobre o avanço das construções sobre a natureza e ele me explicou que a solução para o problema tem sido o lançamento de condomínios com áreas verdes para o lazer e esporte destinados às famílias de maior renda .

Retorno o assunto para Serra Negra, lembrando que o projeto de lei que prevê a renovação do Plano Diretor da cidade está em vias de ser encaminhado pelo prefeito Elmir Chedid para apreciação dos vereadores. 

Na última sessão da Câmara, foi aventada a intenção dos vereadores de convidar engenheiros, arquitetos, profissionais e empresários da construção para debater o assunto antes da votação no Legislativo.

A população também será chamada para essa conversa? A prefeitura vai usar suas redes sociais para lembrar os munícipes de que esse projeto define o destino das árvores e das paisagens verdes deslumbrantes que nós serranos visualizamos quando abrimos as janelas de nossas casas?

A manutenção dessas áreas é fundamental para evitar futuros deslizamentos de terras como os da semana passada, que deixaram moradores desabrigados nas Três Barras e provocaram alagamentos em trechos do centro da cidade. 

Preservar os mananciais e estabelecer um crescimento ordenado do município é o que vai proteger nosso maior tesouro, a natureza, que atrai milhares de turistas todos os anos à cidade e garante a sobrevivência econômica do município. Mas tudo isso precisa ser muito bem explicado e entendido pela população.   

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Salete Silva é jornalista profissional diplomada (ex-Gazeta Mercantil e Estadão) e editora do Viva! Serra Negra