//FERNANDO PESCIOTTA// Ação coordenada



Incluindo Hamilton Mourão e general Heleno, a turba liderada pelo miliciano tinha por objetivo transformar a Amazônia num império garimpeiro. Usava, para isso, as mesmas estratégias da milícia carioca, cooptando gente e colocando o máximo possível de criminosos para agirem a seu favor.

Quanto mais se investiga, mais detalhes sórdidos surgem. As apurações ainda em andamento pela Polícia Federal indicam uma ação coordenada entre esvaziamento de órgãos de controle com medidas administrativas da gestão federal para ampliar a violência contra povos indígenas e, assim, garantir a expansão do garimpo ilegal, que traz em seu bojo toda espécie de ações criminosas.

Segundo relatos da mídia, um batalhão do Exército apreendeu, em 2019, uma embarcação na Terra Indígena Yanomami com R$ 2.650 em dinheiro vivo, gramas de ouro, crack, base de cocaína e munições 9 mm. Não houve nenhum indiciamento ou ação penal. Ao contrário, o caso é exemplo de como as forças militares da época se aproximaram dos criminosos.

Há agravantes consideráveis nesse holocausto contra os yanomamis. A então ministra da “Família”, Damares Alves, mantinha uma ONG que raptava crianças indígenas para “salvá-las” do extermínio.

Em paralelo, deliberadamente o ministério impedia que água potável, respiradores e leitos hospitalares chegassem às aldeias. A negativa de socorro consta de documento enviado ao Planalto em 2020, durante a pandemia.

Em grupos de mensagens e nas redes sociais, os terroristas apoiadores do miliciano tentam explicar o genocídio com teorias da conspiração tão absurdas quanto a realidade imposta pelos nazistas que estavam no Planalto. Na realidade paralela desses extremistas, as imagens da matança são “montagens” feitas por comunistas.

Ao longo de quatro anos, não faltaram discursos oficiais contra minorias, indígenas, preservação ambiental ou qualquer coisa que parecesse correto. Mais do que ideológico, o objetivo era ganhar dinheiro com extração ilegal e tráfico.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com




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