//CARLOS MOTTA// Por que ninguém nesta cidade quer ouvir os jovens?


Os golpes de cassetete que um guarda municipal deu na semana passada em adolescentes que estavam se desentendendo, na Praça João Zelante, foram vistos por muitas pessoas como coisa comum e até mesmo necessária. Houve quem destacasse o fato de que alguns dos jovens foram para cima do enfurecido agente da lei para lembrar a todos os homens de bem que bandido é assim que se trata.

Será mesmo?

Outro dia escrevi uma croniqueta (aqui) na qual afirmava que Serra Negra tem pouco ou quase nada a oferecer à sua juventude no que se refere ao lazer.

Quem discorda do que escrevi pode argumentar que há programas esportivos, culturais e artísticos promovidos pela prefeitura destinados aos jovens serranos. 

Verdade.

Mas será que eles são suficientes? 

Ou então, será que é isso - ter aulas de caratê, judô, xadrez, aprender flauta doce etc etc - que quer a nossa juventude, essa que mora em bairros afastados do Centro, que não tem dinheiro nem para comprar um sanduíche num dos barzinhos da moda?

Parece evidente que há um descolamento entre o que pensam as autoridades e os nossos jovens. 

Neste fim de semana, por exemplo, a prefeitura vai promover um evento denominado "Seresta & Cia", na Praça João Zelante. O cardápio musical brindará a plateia com belas e saudosas canções, bem ao gosto de um público específico, pessoas de uma certa idade - eu me incluo entre elas. 

Mas será que essa programação vai atrair algum jovem?

Há alguns dias, os organizadores do Prêmio Vladimir Kapor de Cidadania 2022 enviaram para as autoridades locais um folheto com o resumo das sugestões dos 93 estudantes que participaram do concurso de redação, que teve como tema "O que posso fazer para ajudar Serra Negra". O prêmio foi promovido pela Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari e patrocinado pela Farmácia Serrana.

Há, entre a centena de propostas listadas, coisas muito interessantes na área do lazer. 

Além das mais óbvias, como prover a cidade de um cinema, de um shopping center, de lanchonetes "tipo McDonald's e Burger King", há outras que merecem ser ao menos estudadas pelas nossas autoridades. 

Que tal, como sugeriram alguns estudantes, "proporcionar mais atrativos para os jovens"? Ou "descentralizar os eventos culturais"? 

Ou, a mais importante, a meu ver, "ouvir sugestões dos jovens"?

Porque só assim, dando voz a eles, é que a cidade poderá não mais assistir a cenas como a do guarda civil municipal distribuindo bordoadas em adolescentes que se reúnem em praça pública - não para "fazer baderna", como alguns dizem, mas para simplesmente ter o que fazer.

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Valor Econômico e Jornal da Tarde) e editor do Viva! Serra Negra.



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