//SAÚDE// Novo administrador quer equacionar dívida do hospital em até três anos

 

Marco Antônio Lopes e Renato De Santi: tentando equacionar problemas emergenciais


Há cerca de 15 dias no comando da administração do Hospital Santa Rosa de Lima, o economista Marco Antônio Real Lopes vem tentando equacionar os problemas emergenciais da instituição e manter o atendimento aos pacientes, enquanto elabora estratégias para realizar mudanças estruturais e  equilibrar as contas.

O administrador é funcionário da empresa RBM Consultoria Hospitalar, de Jundiaí, contratada pelo Hospital Santa Rosa de Lima por R$ 20 mil mensais para prestar serviços e consultorias em análise de custos hospitalares e administração, informou o provedor do hospital, Renato Cazzoto De Santi. 

Lopes trabalha há 30 anos na área hospitalar e passou por diversas instituições, entre as quais a Santa Casa de São Paulo, Hospital da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, Centro Infantil Boldrini e Hospital Vera Cruz. Sua atuação sempre foi como gestor ou consultor.

Ele tenta resumir em uma frase o trabalho que vem realizando desde que chegou ao Hospital Santa Rosa de Lima: “A expressão é trocar o pneu com o carro andando." 

Até o dia 21 de abril, pretende apresentar à direção da Associação Santa Casa de Misericórdia de Serra Negra, mantenedora do hospital, um relatório com o diagnóstico financeiro e as propostas para aprimorar os processos de gestão da instituição com soluções de curto, médio e longo prazos.

Dívidas

Lopes tem se debruçado nos documentos financeiros da entidade para apurar os valores de receitas, despesas e dívidas. Como ainda não concluiu esse trabalho,  não tem como informar ainda o valor total dos débitos do hospital. Mesmo assim, calcula que com o trabalho de gestão é possível saldar a dívida ou boa parte dela em até três anos. Ele relatou que já administrou hospitais com dívida inicial de R$ 17 milhões, que em três anos foram reduzidos a R$ 5 milhões.

Uma de suas primeiras iniciativas foi propor renegociação com os fornecedores. Há débitos mais recentes e outros bem antigos que se acumularam. O administrador vai apontar no relatório final quais são as prioridades de pagamento para saldar dívidas essenciais à manutenção do funcionamento da instituição.

Algumas alterações nos procedimentos de gestão já foram adotadas, como a tomada de preços com pelo menos três orçamentos para cada compra e cotações diferenciadas para o Sistema Único de Saúde (SUS) e para os planos de medicina privada, conforme preveem as tabelas de cada mercado.

Funcionários

A instituição já concluiu também os acertos trabalhistas. As negociações foram feitas diretamente com os funcionários e o sindicato da categoria.

“Não terei mais atraso de pagamento de funcionários e todos os processos de demissão estão sendo negociados em conjunto com o funcionário ou diretamente com o sindicato”, explicou.

Lopes admite, no entanto, que resta um passivo trabalhista que será negociado de acordo com a evolução da receita. Ele avalia que o quadro de funcionários está adequado à demanda, com algum excedente, mas que será mantido, porque a instituição tem capacidade ociosa e apresenta potencial para aumentar a receita.

“Como a produção de receita ainda está abaixo ou aquém da capacidade do hospital, não vamos mexer para diminuir o custo trabalhista. Vamos aumentar a receita. Aumentando a receita vou fazer uma avaliação da capacidade de atendimento em relação ao número de funcionários”, justificou.

O administrador avalia que a estrutura do hospital é adequada ao porte da cidade, segundo os padrões estabelecidos pelo mercado, ou seja, um leito para cada mil habitantes. A instituição oferece 49 leitos e o município tem quase 30 mil habitantes.

“Há até uma sobra. Dá para atender todo mundo. É necessário reestruturar a demanda, avaliar os recursos públicos com as despesas e adequar corretamente”, analisou.

UTI

A instalação de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) não está nos planos do administrador, que considera inviável a relação custo/benefício. Lopes explica que o número de leitos em uma UTI deve ser proporcional a 10% do total de leitos da instituição hospitalar, mas nunca inferior a dez unidades.

Com um total de 49 leitos, uma UTI no Santa Rosa de Lima teria de oferecer cinco leitos, inferior às  dez unidades mínimas necessárias para justificar o investimento. “Cerca de cinco leitos são prejuízo na certa e tecnicamente não compensa”, concluiu. Além do investimento e manutenção dos equipamentos, a UTI requer uma estrutura de médicos e enfermagem.

O administrador explica que a melhor solução é manter no Pronto Socorro uma estrutura de unidade semi-intensiva para estabilizar o paciente e depois encaminhá-lo a uma UTI conveniada. Segundo o provedor do Hospital Santa Rosa de Lima, Renato De Santi, a prefeitura estaria negociando o convênio de UTI com o Hospital Beneficência Portuguesa, em Amparo.

Um dos planos para melhorar os processos que já estão sendo colocados em ação é a organização da agência transfusional, uma unidade do banco de sangue. Seu funcionamento garante a oferta de bolsas de sangue nos casos emergenciais.

“Se não tenho a agência transfusional dentro do hospital é preciso buscar na Unicamp, o que é demorado e burocrático”, afirmou. Com a agência funcionando, o hospital terá disponível uma quantidade mínima de bolsa de sangue controlada pelo hemocentro.

O serviço de lavanderia também está regularizado com o fornecimento de máquinas reformadas pela ONG Bem Viver Serra Negra.

Integração eletrônica

Lopes planeja ainda revitalizar a área do Pronto Socorro, com uma pintura nova e a revisão do fluxo dos pacientes para evitar contaminações.

Está prevista também a integração eletrônica do prontuário, a área financeira e a requisição de medicamentos. ”O médico deixa de prescrever no papel para prescrever no sistema, onde a enfermagem consegue checar a informação. Automaticamente, quando o médico faz a prescrição já cai direto na farmácia, evitando que a enfermagem tenha de buscar a medicação”, explicou.

A liberação da medicação é registrada no estoque e com isso é possível rastrear o processo, seguindo os padrões da Vigilância Sanitária. “Essa medicação entrou por um fornecedor, que entrou no estoque, onde tem lote de validade, controlado por relatório, que foi para um paciente por meio de uma dosagem. Consigo fazer toda essa rastreabilidade”, salientou. Isso permite também saber quais foram as medicações usadas nos pacientes.

Lopes planeja ainda buscar novos parceiros e oferecer mais serviços. Um deles já em andamento é o exame de colposcopia. O hospital já conta com o equipamento, que deverá ser instalado até a próxima semana. O objetivo é otimizar seu uso, oferecendo o serviço para outras cidades e para os convênios médicos. 

O hospital também está realizando mutirões de cirurgias e pretende oferecer pacotes mais acessíveis para oferecer uma opção mais barata aos moradores de Serra Negra que não querem esperar na fila do SUS.

O administrador informou que o trabalho em parceria com a  comissão de voluntários nomeados pela prefeitura e com o secretário municipal de Saúde, Ricardo Minosso, tem dado bons resultados. “Fazemos reuniões periódicas, já colocamos em prática muitas ações que estão sendo executadas, entre as quais até revisão de preços de alimentos, como o pãozinho”, afirmou.

O provedor do Santa Rosa de Lima avalia que embora ainda não haja números concretos para avaliar o resultado desses 15 dias de nova administração, já é possível sentir os efeitos no dia a dia. 



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