//ANÁLISE// “Um salto para os evangélicos”

                                                                                                                              


Fernando Pesciotta


Com 32 votos contrários, o pastor André Mendonça teve a maior reprovação do Senado para um indicado ao STF desde a redemocratização do País, mas saiu vitorioso ao ter o apoio de 47 senadores, apenas seis a mais do que o mínimo necessário.

O novo integrante da Suprema Corte, porém, começou mal. Com DNA bolsonarista, mentiu para a Comissão de Constituição e Justiça.

Em mais de oito horas de sabatina, Mendonça tentou desfazer vários pontos do discurso recorrente do inominável, que o indicou por ser “terrivelmente evangélico”.

Mendonça defendeu o casamento de pessoas do mesmo sexo e o Estado laico, assegurou que a religião não vai interferir na Corte e pediu desculpas pelo fato de a democracia no Brasil ter custado vidas.

Entretanto, após o resultado do plenário do Senado, Mendonça voltou a ser Mendonça. Afirmou que a decisão representa "um salto para os evangélicos".

"A primeira reação foi dar glórias a Deus por essa vitória. É um passo para um homem, mas na história dos evangélicos do Brasil é um salto. Um passo para o homem, um salto para os evangélicos", disse.

Não se trata de ser contra ou a favor de evangélicos. O problema é que no STF não há lugar para questões religiosas. A cartilha a ser seguida pela Corte não é a Bíblia, mas a Constituição, onde somos todos iguais.

A Suprema Corte brasileira deve ser a casa da justiça a ser feita para todos os cidadãos, sejam católicos, espíritas, budistas, judeus, ateus ou simpatizantes de qualquer outro credo. Não há de louvar a palavra de Deus, não é o lugar para isso. Assim como não há de se comemorar a aprovação de um indicado só pelo fato de ser evangélico.

Sabujo e carreirista, como Mendonça tem sido classificado por juristas, ele não parece ser o nome mais indicado para o STF. Só conseguiu a vaga por ser evangélico, e isso é muito ruim para o País, que desse jeito parece querer ser uma Argélia, Afeganistão ou coisa parecida.

Essa história começou tão mal como qualquer outra desse desgoverno, e o próprio Mendonça tende a pagar o preço por isso. Todas as suas atitudes e votos estarão particularmente sob atenção máxima. Ele não deverá ter um instante de sossego fora do templo.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com


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