//OPINIÃO// O novo líder do prefeito e a velha política

Vereador Beraldo Cattini, em vídeo na página oficial da prefeitura no Facebook

Salete Silva


O vereador Beraldo Cattini (PSC) tentou parecer surpreso com sua nomeação como líder do prefeito Elmir Chedid (DEM) na Câmara Municipal ao ocupar a tribuna na sessão de segunda-feira, 30 de agosto, para anunciar seu novo cargo na Casa.

“O prefeito me fez um convite de forma extraoficial há dois meses para que eu ocupasse a liderança do governo de Serra Negra. Foi uma surpresa, porque tenho certeza que dentro desta casa existem pessoas que estavam como líder, pessoas que estão no seu terceiro mandato”, afirmou o vereador.

Não houve surpresa nenhuma, no entanto, para quem acompanha as sessões da Casa. O vereador tem sido desde o início da atual legislatura o principal defensor dos projetos enviados à Câmara Municipal pelo Executivo e rebatedor das críticas dos vereadores da oposição à administração municipal. Nenhuma opinião contrária às decisões e ações do Executivo passa batida por ele. 

Beraldo foi o primeiro a sair em defesa da visita do governador João Doria (PSDB) a Serra Negra no início de agosto, criticada nas redes sociais por serranos e também por vereadores da oposição, descontentes com a gestão da pandemia no Estado.  

Beraldo aproveitou a oportunidade para declarar sua admiração pelo prefeito. “O prefeito Elmir se emocionou em seu discurso e eu fiquei emocionado quando ele disse que perdeu para a covid-19 seu segundo pai (se referindo ao vice prefeito Antonio Luigi Italo Franchi, o Bimbo)”, afirmou.

Os fatos comprovam que a nomeação de Beraldo a líder do prefeito na Câmara não foi surpresa para ninguém. Muito menos para o próprio vereador. Sua atuação na Câmara tem sido justamente de quem almejava obter o cargo.

Nada é por acaso nem surpreendente na política em Serra Negra. Nem muito menos os fatos resultam de um esforço pelo coletivo ou pelo município. Em geral, as peças se movem levadas por projetos pessoais.

Esses projetos pessoais explicam por que o vereador Beraldo, que por anos se dizia um político progressista (foi filiado ao Partido dos Trabalhadores), conquistou uma cadeira na Câmara Municipal depois de três décadas de tentativa, como ele mesmo costuma lembrar, pelo PSC, uma legenda de extrema-direita e que faz parte da base de apoio do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Ao usar a tribuna para anunciar sua nomeação, Beraldo, no entanto, manifestou preocupação com as manifestações do dia 7 de Setembro e com a possibilidade de um golpe pelo presidente Jair Bolsonaro. Fez até menção à ditadura Militar.

“Nasci em 1964 e estive sob o AI-5 e é complicado, imagina quando a gente ouve no noticiário que poderá haver novamente um golpe militar. É assustador, meus filhos vivem em uma democracia e não conhecem o militarismo, o que é a recessão, o que é você não poder falar e manifestar a sua vontade”, afirmou Beraldo na tribuna.

Se o vereador está preocupado com um possível golpe do presidente Jair Bolsonaro, então, por que usou para se eleger uma legenda que faz parte da base de apoio do governo do presidente que tem sido acusado de irresponsável e genocida, e que é o principal adversário político do governador João Doria (PSDB), aliado político do prefeito Elmir Chedid, do qual será o líder na Câmara?

Jair Bolsonaro e outros tantos políticos recebem o voto de eleitores defensores de uma política sem ideologia, uma política que privilegia projetos pessoais, que não coloca os programas de governos e as propostas de campanha acima dos interesses particulares de pessoas, grupos e elite econômica.

Enquanto não houver políticos comprometidos e coerentes com suas ideologias, com seus programas de governo e em especial com os interesses coletivos prevalecerá a política do "toma lá da cá", na qual Bolsonaro jurou a seus eleitores que colocaria um fim, mas que é justamente a base de seu governo. 

Se não mudarmos a maneira de fazer política no município, não mudaremos o jeito de fazer política em Brasília. 


 

Comentários

  1. Lamentável, sob todos os aspectos. Vai ser muito difícil, quem sabe impossível, mudar a prática do "toma lá, dá cá" na política de Serra Negra. Legislatura após legislatura, tal comportamento (opositores ao Executivo, de repente viram defensores do mesmo) se tornou rotina.

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