//OPINIÃO// A velha política serrana de portas fechadas



Carlos Motta


A última sessão da Câmara Municipal, na quarta-feira, 8 de setembro, durou 100 minutos. Os vereadores gastaram mais da metade do tempo, 52 minutos, tentando explicar por que aprovaram, sem nenhuma discussão, na semana antecedente, o projeto de lei mais importante do ano, aquele que permite que a prefeitura contrate empréstimo de até R$ 18 milhões da Caixa Econômica Federal.

Essa dinheirama, correspondente a cerca de 20% do Orçamento municipal, será usada quase toda em obras de asfaltamento ruas da cidade. Pelo menos foi essa a informação prestada pelo prefeito Elmir Chedid (DEM) e vereadores que o apoiam, em vídeos publicados em redes sociais - depois que o projeto de lei foi votado.

Na sessão de quarta-feira a população serrana finalmente ficou sabendo que o prefeito chegou a se reunir com os vereadores que dizem ser da oposição para lhes explicar a importância de votarem a favor do projeto. A reunião, como se deduz, foi produtiva para o Executivo, já que os quatro oposicionistas deram sinal verde para o empréstimo.

Palavras como "família" e "Deus" e juras de amor por Serra Negra ocuparam praticamente todos os discursos feitos pelos edis na quarta-feira. "Dormir com a consciência tranquila" foi outra expressão bastante usada.

Eles também tentaram explicar para a população seu papel na Câmara: "Votar e fiscalizar", disse um deles. 

Outro afirmou que não tinha sido eleito para fazer "oposição pela oposição".

Unânimes, defenderam a necessidade das obras de asfaltamento.

Unânimes, informaram que haviam, sim, discutido, o projeto, em várias reuniões e tinham chegado à conclusão de que ele era benéfico à cidade.

Permanecem no ar, no entanto, algumas questões.

Uma delas se refere ao fato de que se houve mesmo esse debate sobre o projeto de lei, ele foi feito a portas fechadas, sem que o munícipe tenha tido a oportunidade de acompanhá-lo.

Outra se refere aos estudos feitos pelo Executivo para comprovar a capacidade de Serra Negra honrar o empréstimo.

É óbvio que algo de extrema importância para a cidade teria de ser discutido e analisado em plenário, antes de ser votado. 

Esse empréstimo de R$ 18 milhões, somado a outros da administração anterior, é uma carga pesada para o município. 

Ninguém sabe como vai se comportar a atividade econômica nos próximos meses. Os indícios mais evidentes são de que a tal recuperação a curto e médio prazos é muito mais um anseio do que uma possibilidade.

A inflação está fora de controle, a crise política está longe de terminar, o desemprego teima em continuar alto, os investimentos públicos, em todos os níveis, são, por consequência, sofríveis, quase inexistentes diante da conjuntura vivida pelo país.

Asfaltar ruas é muito importante. 

Mas mais importante é o Executivo definir, em conjunto com a população, as prioridades de investimento na cidade, sob a óptica da realidade. 

E também o Legislativo analisar e debater, de maneira transparente, com a comunidade serrana, os projetos de lei que chegam a plenário.

O que se viu na sessão da Câmara Municipal da semana passada foi parte daquilo que tem levado o Brasil a esta terrível crise que vivemos: essencialmente, uma política que exclui o povo de sua prática.



Comentários

  1. Aumente o IPTU de novo como fez antes quebrou a cidade e foi embora

    ResponderExcluir
  2. Ao que consta, 15 milhões do referido empréstimo serão usados para asfaltar ruas, um importante cacife eleitoral, diga-se de passagem. Mas será que essas ruas já foram contempladas com a necessária infraestrutura de esgoto ou, como é comum acontecer, receberão o asfalto que depois será destruído para a execução da imprescindível obra sanitária? E será que, se houvesse um plebiscito, a maioria da população da cidade aprovaria a aplicação de tanto dinheiro assim em asfalto, ou haveriam outras prioridades no município, com menos visibilidade eleitoral, mas grande retorno social para a qualidade de vida da população?

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Os comentários são bem-vindos. Não serão aceitos, porém, comentários anônimos. Todos serão moderados. E não serão publicados os que estimulem o preconceito de qualquer espécie, ofendam, injuriem ou difamem quem quer que seja, contenham acusações improcedentes, preguem o ódio ou a violência.