//ECONOMIA// Comércio de rua volta a ser o preferido pelo consumidor



Fátima Fernandes


Há cerca de dez anos, um dos grandes dilemas dos lojistas era escolher os shopping centers, que surgiam aos montes em todo o país, para fincar as suas marcas.

Abrir loja em rua não era prioridade das redes, até porque o que os clientes mais queriam - conveniência e segurança - era justamente o que os shoppings ofereciam.

Quem praticamente liderava o processo de expansão das redes, especialmente das médias e grandes, eram as incorporadoras de shopping centers.

Depois de um ano e meio da pandemia do novo coronavírus, o país vive um movimento contrário, o de valorização de lojas de rua - o que é uma boa noticia para os os comerciantes de Serra Negra.

Pesquisa da empresa IEMI realizada em abril revela que 57% dos consumidores preferiam comprar roupas e calçados em lojas de rua e 43%, em shoppings.

O mesmo levantamento feito no ano passado ainda mostrava os shoppings como os preferidos dos brasileiros, com 56% das preferências, e as lojas de rua, com 44%.

Marcelo Prado, diretor do IEMI, diz que a pesquisa, realizada em todo o país, mostra que os consumidores ainda estão com medo de frequentar lugares fechados.

Se essa situação vai persistir ou não com o avanço da vacinação, ainda é uma incógnita para lojistas e especialistas em varejo.

Mas, se parte dos escritórios adotar de vez o home office, como indicam algumas pesquisas, dizem eles, as lojas de rua têm tudo para prosperar.

“Para os consumidores, é mais seguro evitar aglomerações, trabalhar em casa e, portanto, ficar pelo bairro. Para os lojistas, a opção, para reduzir custos, é ir para as ruas”, diz Gustavo Carrer, consultor de varejo e gerente da Gunnebo.

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A combinação desses dois movimentos tem levado lojistas a avaliar e a abrir lojas em locais até então jamais imaginados.

“O comportamento dos consumidores mudou e na rua temos muito mais liberdade para atender às novas demandas”, afirma Thales Gonçalves, sócio da The Craft.

Com 11 anos, a rede fechou no último ano três lojas em shoppings – Pátio Higienópolis, Vila Lobos e Vila Olímpia – e um outlet na Chácara Santo Antônio.

“Fechei quatro lojas e abri uma, em Moema, com 300 metros quadrados, maior do que todas as outras juntas, com um terço do custo de ocupação”, diz Gonçalves.

A nova loja da The Craft, que começou com sapatos masculinos, vai vender produtos de outras marcas, como tênis da New Balance e moda praia da Blueman.

Ainda neste semestre, marcas como Diesel, Calvin Klein e Armani também deverão ser vendidas neste mesmo endereço.

“O foco da marca era a venda para executivos e para estrangeiros em viagens de negócios ao Brasil. Tivemos de nos reinventar com novo mix de produtos para continuar atendendo os clientes”, diz.

No shopping, diz ele, para diversificar a linha de produtos, é preciso ter a autorização da administração do centro comercial, um processo que leva tempo.

“Um shopping demorou quatro meses para aprovar a venda de uma linha de camisas em uma de nossas lojas. Aí veio a pandemia e parou tudo”, diz.

“Falando de São Paulo, como exemplo, quantos pontos comerciais existem para atender as classes mais altas? Somente a região da Rua Oscar Freire [na capital paulista]”, diz.

O comércio de rua, de acordo com ele, vive de cumulatividade, isto é, de várias lojas próximas umas das outras, uma forma de atrair um público maior.

Mas se a rua não é cuidada, não tem segurança, diz ele, ela perde a atratividade.

Ele cita como exemplo o que aconteceu com a Rua da Consolação, na capital paulista, que, no passado, chegou a ser um grande polo de venda de produtos para a iluminação.

“Havia de 50 a 100 lojas ali voltadas para a iluminação, mas a rua está descuidada, não possui estacionamento, perdeu a atratividade”, afirma.

A região da Praça Vilaboim, em Higienópolis, sofre do mesmo mal. “Entre 20 e 30 endereços mudam de negócios toda a hora, pois não tem lugar para parar o carro.”

A integração do comércio de rua à sociedade, infelizmente, de acordo com ele, não é planejada nem em São Paulo nem no país como um todo.

Um polo comercial que atualmente se destaca na capital paulista, diz ele, é o do Brás, que atende o público de menor poder aquisitivo, e é cuidado pelos próprios lojistas.

O comércio de rua de São Paulo, de acordo com Masano, ficou praticamente dedicado à população de baixa renda.

Gonçalves, da The Craft, espera que essa situação mude rapidamente, agora que os lojistas passaram a considerar as ruas como opção para a expansão de seus negócios.

Em Moema, de acordo com ele, já há polos comerciais renascendo. "Marcas do grupo Soma, como Animale e Farm, devem vir para perto de nós.”

As ruas também estão atraindo marcas de grandes redes que só cresciam em shopping centers.

A Centauro, rede de artigos esportivos, abriu em novembro do ano passado a sua 208ª loja na Avenida Paulista, a primeira unidade em rua.

Com pouco mais de 2 mil metros quadrados, a loja é a quinta maior da rede no país, e oferece produtos e serviços.

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Fátima Fernandes é jornalista especializada em economia, negócios e varejo e editora do site Varejo em Dia.

Reportagem publicada originalmente no Diário do Comércio.


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