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Carlos Motta
A Prefeitura de Serra Negra tem se esforçado para atrair turistas para a cidade neste frio mês de julho. Faz sentido, pois com a pandemia muita gente deixou de viajar. Mas do ponto de vista sanitário, atrair pessoas de vários locais para cá é brincar com fogo - é muito provável que elas tragam o maldito coronavírus que já matou 550 mil brasileiros e 91 serranos.
Esse tema do equilíbrio entre economia e saúde na pandemia já foi debatido milhares de vezes por milhares de pessoas. Cada uma tem a sua opinião e dela não se desapega. Cada uma tem as suas razões para ser favorável ou à abertura do comércio e dos serviços, como se a vida já estivesse normal, ou para que ainda se dê prioridade às manjadas regras que impedem o aumento da contaminação - manter o distanciamento físico, usar máscaras de proteção facial e higienizar as mãos.
O fato é que os turistas estão vindo aos montes para Serra Negra nos últimos dias. E ainda é cedo para dizer se essa invasão teve ou terá impacto nos números de contaminados pela covid-19, que diminuíram bastante em julho, provando que a vacinação não transforma ninguém em jacaré, mas sim salva vidas.
A festa dos turistas suscita, porém, algumas questões que dizem respeito ao bem-estar dos serranos.
Uma delas é sobre o modelo econômico que sustenta a cidade, ou seja, o turismo.
Será que ele é suficiente para prover as necessidades dos cidadãos e não só de uma ínfima e privilegiada minoria?
Não seria conveniente que se pensasse uma outra forma de a cidade se desenvolver de modo a não ficar inteiramente dependente do turismo?
Outro ponto a se observar é, talvez, mais controverso.
Diz respeito ao que a população usufrui do turismo não do ponto de vista de seu sustento, de seu emprego, do seu trabalho, mas de uma perspectiva, vamos dizer, cultural.
Explico melhor: será que as atrações turísticas da cidade - o seu comércio, a sua natureza, os produtos feitos aqui, os eventos e shows artísticos na alta temporada - estão disponíveis para quem vive aqui?
Ou tudo o que se faz visa unicamente o turista?
É fato notório que a cidade não oferece quase nada aos seus habitantes em termos de lazer, arte e cultura.
Serra Negra não tem cinemas, não tem casas de espetáculos - o imenso teatro do Centro de Convenções vive vazio -, não tem eventos esportivos, artísticos ou culturais.
Tem, em compensação, muitos bares e lanchonetes, algumas pizzarias, e dezenas de templos religiosos neopentecostais.
Comer um sanduíche, tomar uma cerveja, visitar um parente, ir à igreja...
Este é, em resumo, o lazer do serrano.
Exemplo da falta de opções foi o sucesso que alcançou, no período pré-pandemia, a Feira Noturna Cultural, na Praça Sesquicentenário, onde as pessoas iam se socializar, segurando um copo e um pastel, conversando e ouvindo música.
Algumas pessoas me disseram algo que julgo correto: uma cidade só é boa para os turistas se ela for boa para seus moradores.
Fica, então, a pergunta: Serra Negra é boa para seus moradores?
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