//PANDEMIA// Gráficos oficiais mostram diminuição de casos que não houve

Lucas Menezes 

A Prefeitura de Serra Negra postou no dia 23 de junho de 2021, junto ao boletim corriqueiro com as informações sobre a pandemia na cidade, dois gráficos mostrando o desenvolvimento do número de casos confirmados por covid-19. Os gráficos apresentam erros que preocupam. Vamos a eles. 

O primeiro gráfico apresenta o número de casos por dia, simplesmente, e isso já constitui um erro em si. Há muito se sabe que a melhor medida para o acompanhamento dos casos é a chamada média móvel semanal. Essa medida leva em consideração os sete dias anteriores a determinado dia, eliminando o fenômeno da sazonalidade. 

Imagine que, num domingo que ninguém esteja computando os casos confirmados por covid na cidade, a prefeitura apresente o valor 0 (zero) para o número de casos daquele dia. Esse número está longe de representar o número de infectados daquele domingo (que é o que queremos estimar com a medida). Tampouco uma segunda-feira com excesso de confirmações quer dizer que aquele dia foi particularmente infeccioso. Só quer dizer que os casos que ninguém registrou no fim de semana estão sendo computados naquele dia. A média móvel de sete dias elimina tal variabilidade, sendo portanto uma medida mais razoável para se acompanhar a pandemia. 

No gráfico postado pela prefeitura, em 1º de junho (uma terça-feira) foram confirmados 25 casos e em 21 de junho (uma segunda) foram dois. Apesar de não ter sido uma segunda com muitos casos, como citado anteriormente, os dados podem ser da manhã de segunda, ou até mesmo os dados são inseridos nos dias posteriores a segunda*. Esses valores podem dar a falsa impressão de que houve uma grande diminuição no número de casos. Mas será mesmo? Vamos ver o que a média móvel nos mostra. 

No gráfico apresentado acima, a média móvel semanal está sobreposta ao gráfico original. Percebe-se uma curva muito mais estável, ou seja, a sazonalidade foi eliminada com sucesso, como previsto. No dia 1º de junho, a média móvel estava em 20 casos/dia, enquanto no dia 21 de junho, estava em 26 casos/dia. Ou seja, segundo essa medida, houve um aumento de 30% no número de casos/dia, uma leitura bastante diferente da anterior. 

Sobre o segundo gráfico apresentado pela prefeitura, a média móvel semanal foi feita, mas continuo tendo críticas. A primeira é que não se trata do mesmo período apresentado no gráfico anterior, o que pode confundir muita gente. 

Essa até pode passar, agora a minha segunda crítica é sobre um erro crucial: o último ponto da média móvel está claramente no dia 24 de junho, apesar do gráfico apresentar os dados relativos até ao dia 21, como mostra o título. 

O último valor apresentado para a média, de 18 casos/dia, está considerando três dias (22, 23 e 24) sem casos confirmados, sendo que esses dias nem tinham chegado ainda! 

Esse é o motivo desse último valor ter sido tão baixo em relação aos três números anteriores da série, todos acima de 20, todos do mês de junho. Novamente, esse erro pode dar a falsa impressão de que houve uma retraída nas infecções na última semana, mas foi somente um erro de cálculo, na verdade. 

Pra terminar, quero dizer que a crítica não é direcionada necessariamente a quem construiu esses gráficos. Tenho certeza que foi na melhor das intenções. O que me preocupa é não ter um profissional na prefeitura capaz de executar tal tarefa. Ou mesmo o ímpeto dos governantes de capacitar os profissionais que lá estão para que consigam fazer o trabalho direito. Ninguém é obrigado a saber das coisas sem ter aprendido em algum momento. 

Esse investimento no pessoal da prefeitura está se mostrando cada vez mais fundamental nos dias de hoje, e saber que a Prefeitura de Serra Negra não tem ninguém capaz de fornecer uma simples média móvel me faz pensar: baseado em quê, então, são tomadas as decisões para o enfrentamento da pandemia na nossa cidade? 

* Ainda no gráfico da prefeitura, nos 13 e 14 de junho (domingo e segunda), foram confirmados quatro e três casos. Nos dois dias seguintes, porém, foram confirmados 11 e 51! Óbvio que as infecções em si não variaram tanto quanto esses valores.

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