//ANÁLISE// Bolsonaro, empresários e os maus exemplos

                                                                                                            


Fernando Pesciotta


A imprensa volta a revelar que um grupo de 12 grandes empresas tenta subornar o governo e a sociedade ofertando 16,5 milhões de vacina contra o covid-19 para o SUS em troca de autorização para importar outros 16,5 milhões de doses para seus funcionários e familiares.

A nova investida só não teria dado certo porque três das 12 empresas se recusaram a endossar a iniciativa depois que o caso veio a público.

O caso é exemplar. No início de 2020, quando o coronavírus já impunha rígidas restrições em praticamente todo o mundo, muitos consultores concordavam que a grave situação global traria à tona uma nova sociedade, mais altruísta, solidária, igualitária, humanística e dominada pela empatia.

O que se vê, entretanto, é o pior do homem aflorando na pandemia. Especialmente no Brasil, onde a liderança pelo exemplo se dá de forma negativa. Achar que o dinheiro é o caminho mais curto para se dar bem é próprio de uma sociedade escravagista, racista e preconceituosa, desprovida de valores filosóficos e intelectuais.

A ideia dos empresários tem ligação com as discussões sobre um impeachment de Jair Bolsonaro.

Para assegurar uma tranquilidade que traga a aprovação das reformas no Congresso, essa gente enxerga na iniciativa uma forma de dar fôlego a Bolsonaro, acuado pela incompetência na gestão da crise de saúde pública.

Entre esses empresários há praticamente um consenso de que a pandemia atrapalha os negócios, mas nunca se viu algum deles condenando publicamente, de forma a liderar pelo exemplo positivo, a postura irresponsável de Bolsonaro e outras “autoridades” do governo.

Com a piora da pandemia e sem perspectiva de vacinação em massa, a previsão inicial de crescimento do PIB neste ano recua a cada dia. Analistas já falam em crescimento de 2% a 3%, ante expectativa anterior de avanço de até 4,5%.

Mas não se pode culpar apenas a pandemia pelo fracasso econômico. Nunca o isolamento social teve adesão tão baixa como na última semana, e ainda assim a atividade não deslancha. Técnicos do governo já trabalham com a possibilidade de retração da economia neste primeiro trimestre.

Desesperado e abalado com a perda de popularidade, Bolsonaro está disposto a fazer qualquer negócio para restabelecer o auxílio emergencial, o que traz preocupações a seus apoiadores do mercado financeiro, por significar aumento dos gastos públicos.

Para o mercado financeiro, aumentar gastos públicos embute o risco de o governo perder capacidade de pagamento de dívidas. E emprestar dinheiro para o governo é a principal atividade desse parasitismo.

Leite conden$ado


Bolsonaro gastou R$ 15,6 milhões na compra de leite condensado em 2020 e outros R$ 16,5 milhões com batata frita. Pelo valor médio de mercado, Bolsonaro comprou 2,6 milhões de latinhas de leite condensado e 2 milhões de pacotes de batatinha frita. Mas acabou a corrupção, talquei?

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

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