//ANÁLISE// Governo “maria fofoca”

                                                      


Fernando Pesciotta


Escrevi aqui no dia 6 de outubro que o comportamento do mercado financeiro poderia ser entendido como tradução da queda de confiança do empresariado no ministro Paulo Guedes, várias vezes desautorizado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Essa insatisfação se explicita na voz de grandes empresários, conforme exposto pela Folha. Mais da metade das empresas não tem confiança na política econômica, indica pesquisa do Ibre/FGV.

Rubens Ometto, dono da Raízen, Comgás, Cosan e Rumo, Pedro Wongtschowski, Horácio Lafer Piva, da Klabin, Ricardo Lacerda, presidente do banco BR Partiners, e Lírio Parisotto são alguns dos que reclamam da falta de efetividade do governo e de execução das reformas.

“São grandes as incertezas decorrentes da ausência de higidez fiscal, diante de um câmbio desvalorizado e longe da estabilidade, de desemprego elevado e da redução de consumo por conta da queda do auxílio pago pelo governo”, lista Wongtschowski, acionista e presidente do Conselho da Ultrapar.

“Esse governo é uma decepção. Dois anos se passaram e não aconteceu nada. Nenhuma mísera privatização. Até a da Previdência é uma reforma capenga que deveria ser mais profunda”, acrescenta Parisotto, da Innova.

Na verdade, o desempenho da economia reflete os erros do governo em diversas áreas. Bolsonaro pode demonstrar autoritarismo, mas no fundo não impede que os conflitos no seu governo transmitam um recado muito ruim.

No final de semana, novo episódio revitalizou essa avaliação. Ricardo Salles, responsável pelo desmatamento e queima da floresta, disse que o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, é um “maria fofoca”.

A elegante declaração motivou reação de lideranças políticas, que saíram em defesa de Ramos. Salles pediu desculpas.

Salles serviu de garoto de recado dos filhos de Bolsonaro, as princesinhas birrentas, e outros expoentes olavistas.

Além de reforçar a ideia de bate-cabeça, insegurança e desmandos no governo, o caso traz à tona a revelação de que Bolsonaro fará novas trocas ministeriais. Ou seja, vem muito tiro e instabilidade por aí.

Bolsonaro e a narcomilícia

A maioria das áreas do Rio de Janeiro controladas pela milícia tem pontos de venda de drogas. É a chamada narcomilícia, revela O Globo.

Quando deputado, Jair Bolsonaro chegou a discursar na tribuna da Câmara defendendo milicianos. Em março de 2008, ele deu entrevista à BBC pedindo a legalização da milícia.

As mais recentes trapalhadas de seu governo são creditadas à necessidade de defender as princesinhas birrentas. Usa o aparelho de Estado para agora negar vínculo com a milícia.

Mas a PF apura movimentação financeira suspeita de Frederick Wasseff, ex-advogado da família que escondeu Fabrício Queiroz em sua casa.

A suspeita é de que ele tenha recebido R$ 9 milhões da JBS. A mesma JBS que foi pega em flagrante na calada da noite com Michel Temer. Pode ter usado o mesmo atalho para chegar a Bolsonaro. 

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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