//ANÁLISE// Bolsonaro quer se afastar de dinheiro na cueca

                                                


Fernando Pesciotta


O caso do senador Chico Rodrigues, pego com dinheiro na cueca, pode causar desgaste ao governo de Jair Bolsonaro e aprofunda o arranhão de imagem do País.

O assunto motiva grande mobilização da imprensa e das redes sociais desde que foi revelado. Soma mais de 200 mil tuítes.

O dinheiro nas nádegas do vice-líder do governo é o assunto mais lido no UOL e no G1, portais que lideram o número de acesso no Brasil. A reportagem da Veja acumula 103 mil interações.

E também corre o mundo. Nesta quinta-feira, 15 de outubro, foi o assunto mais lido no site do jornal britânico The Guardian. A publicação relaciona o flagrante à declaração de Bolsonaro, feita na semana passada, de que acabou com a Lava Jato porque não há corrupção no governo.

The Guardian também lembra a profunda relação de amizade do senador com Bolsonaro e o fato de ter como assessor parlamentar uma pessoa que circula na intimidade do Planalto.

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, determinou o afastamento do parlamentar por 90 dias. A decisão final, porém, cabe ao Senado.

Preocupado com a repercussão, o governo correu para destituir Chico Rodrigues da vice-liderança no Senado. Em despacho presidencial, alegou que o parlamentar “pediu” para deixar o cargo.

Bolsonaro e Chico têm muita coisa em comum, o que ajuda a explicar a escolha para ser vice-líder do governo: longo tempo na planície do Congresso, nenhuma produtividade no Parlamento, ideias medíocres e o gosto por andar com (muito) dinheiro vivo.

Bolsonaro, porém, não se incomoda de deixar aliados na chuva. Diante do escândalo, tenta se distanciar do antigo parceiro. Disse que não tem “nada a ver com isso”.

O presidente nunca tem nada a ver com isso quando o assunto é corrupção, lavagem de dinheiro, rachadinha em seu gabinete, funcionário fantasma ou envolvimento com a milícia. Mas até hoje não conseguiu explicar por que o dinheiro de Fabrício Queiroz, enrolado com a Justiça, foi parar na conta da sua mulher.

Desconfiança

Enquanto isso, cresce a desconfiança com a sustentabilidade das contas públicas. O governo Bolsonaro tem um papagaio de R$ 643 bilhões para pagar entre janeiro e abril e não sabe de onde vai tirar o dinheiro.

Ou seja, em quatro meses terá de liquidar o equivalente a 15,4% da dívida interna. Para isso, o governo tem de se financiar, mas enfrenta grandes dificuldades. Incertezas econômicas e políticas minam sua capacidade de captação.

Para os ministros e assessores de Bolsonaro, porém, não falta dinheiro. Segundo a Folha, Marcos Pontes, Bento Albuquerque, Onyx Lorenzoni, Tarcísio de Freitas e Rogério Marinho são ministros que estão na lista de 350 assessores que recebem salários extras de até R$ 21 mil.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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