/ANÁLISE// Bolsonaro para seus eleitores: “Vocês vão ter que me engolir”

                                           


Fernando Pesciotta

Diante das pressões e riscos, em nome do sonho da reeleição, Jair Bolsonaro mudou de turma. A análise é do Estadão, e ratifica o que já dissemos aqui: o governo Bolsonaro que foi eleito em 2018 acabou faz tempo. Agora vale outro governo Bolsonaro, o governo do Centrão.

Segundo essa análise, Bolsonaro e seus filhos vivem o temor de inquéritos das raspadinhas, da possível interferências na Polícia Federal e das fake news. Todos a cargo de uma PF disposta a demonstrar independência.

Estrategicamente, o presidente se afastou do olavismo e do lavajatismo. Agora vive com integrantes do Centrão e ministros do STF contrários à Lava Jato. Formou o que em Brasília está sendo chamado de “República da Tubaína”.

O objetivo, óbvio, é se blindar.

Para o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, acrescenta o Estadão, Bolsonaro se vendeu nas eleições de 2018 como “outsider”, mas era apenas um deputado apartado do sistema por ser uma figura secundária, o típico parlamentar do baixo clero mais preocupado com questões regionais.

"Embora apartado, ele sempre foi desse jogo. Então, está voltando para suas origens. Quem não percebeu isso foi porque não quis perceber e se iludiu com o discurso raivoso e radical”, diz Melo.

Quando viu crescer o risco de uma condenação, Bolsonaro abandonou a base mais radical, a mesma que o conduziu na campanha eleitoral. Por puro pragmatismo, buscou tentativa de salvar o mandato.

Além disso, Bolsonaro sabe que não há outro candidato conservador competitivo. Esses votos continuarão com ele. É como se dissesse aos descontentes: “Vocês vão ter que me engolir”.

Irregular

De acordo com dados do TSE, Bolsonaro fez um depósito de R$ 10 mil em espécie na conta da campanha de seu filho Carlos.

A doação é irregular, por contrariar a resolução de 2019 do TSE. Segundo o tribunal, contribuições em dinheiro acima de R$ 1.064,10 só podem ser feitas por transferência bancária ou cheque cruzado e nominal.

A regra tem por objetivo evitar a lavagem de dinheiro em eleições.

No Twitter, Carlos disse tratar-se de um equívoco e devolveu o valor (para ele mesmo?). Mas cabe a pergunta: que tanto essa família anda com dinheiro na mão?

Desconhecimento

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reconheceu ontem que não sabia o que era o SUS.

A declaração foi dada no lançamento do Outubro Rosa, de detecção precoce do câncer de mama.

"Eu não sabia nem o que era o SUS, porque eu passei a minha vida sendo tratado também em instituições públicas, mas específicas do Exército. Vim conhecer o SUS a partir desse momento da vida e compreendi a magnitude dessa ferramenta que o Brasil nos brindou", disse.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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