//SERRA NEGRA NA RODA// Alimentos, pediatras, representação política... O que querem essas mães



Cerca de 500 famílias serranas estão em situação de extrema necessidade e muitas mães ainda não conseguiram sequer integrar o cadastro da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social de Serra Negra para receber o kit alimentos da merenda escolar.

Essas informações foram dadas por Maria Gabriela, Bruna Miranda e Marina Trotta, representantes do grupo de mães que reivindicam da prefeitura a merenda escolar para seus filhos e que participaram nesta quarta-feira, 26 de agosto, do Serra Negra na Roda, uma iniciativa da Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari.

Desempregadas, com o orçamento familiar baseado apenas no salário do marido ou de pais, as mães enfrentam sérias dificuldades financeiras, mas mesmo assim muitas delas tiveram o pedido de benefício recusado pela assistente social que faz a entrevista obrigatória para a inclusão no cadastro.

“Tem mães que tem filho especial, mas que só conseguiu o benefício com a ajuda do grupo. Tem mães que não têm o básico, arroz e feijão para dar ao filho”, relatou Bruna. O número de famílias em situação de vulnerabilidade, ela imformou, aumentou com a pandemia, segundo informações que recebeu da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social.

“Na reunião com a secretária [Daniele Pachioni Silotto] nos informaram que pelo menos 500 famílias estão em situação de necessidade extrema”, relatou. 

O outro questionamento das mães é em relação a distribuição de um kit a cada 45 dias. Os kits são distribuídos pela prefeitura às famílias das crianças que tiveram as aulas suspensas. Além da dificuldade de acesso ao benefício, os kits são distribuídos a cada 45 dias, não a cada 30 dias como estabelece o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Composto de 5 quilos de arroz, 1 quilo de feijão, 1 quilo de farinha de trigo, um pacote de sal, duas latas de sardinha, 1 quilo de leite em pó, além de um kit verdura, com pequenas porções de abobrinha, beterraba, cenoura e mexerica poncã, a informação da prefeitura é que esse kit seria o recomendado pelos profissionais de nutrição da rede de ensino municipal para 45 dias. “Mas a lei do PNAE estabelece um prazo de 30 dias”, contesta Bruna. As negociações do grupo com a prefeitura prosseguem para ampliar o número de mães beneficiadas. 

As mães não querem mais a interferência dos políticos nas negociações. Todos os vereadores que participavam das discussões do grupo no WhatsApp foram excluídos para que as mães possam ter mais liberdade para se posicionar e para evitar manipulação eleitoral.

Vereadores da oposição inicialmente intermediaram as negociações entre as mães e as autoridades municipais, entre as quais o prefeito, Sidney Ferraresso, que participou da primeira reunião do grupo.

“Alguns políticos, se retiraram do grupo quando foram informados de que não deixaríamos interferirem com interesses políticos”, afirmou Bruna. As negociações com a prefeitura são difíceis não só pela dificuldade em agendar reuniões com as autoridades responsáveis como pela ausência de uma resposta efetiva para os problemas, disse. “Nos jogam de uma secretaria para outra sem darem soluções definitivas”, afirmou Bruna. 

As mães dizem enfrentar também dificuldades no encaminhamento das reivindicações na área da saúde. Além da falta de pediatras, elas reclamam da aglomeração dos postos de saúde destinados ao atendimento infantil mesmo durante a pandemia.

Os atrasos nas consultas com o pediatra fazem com que muitas vezes as mães esperem até cinco horas por uma consulta, informou Marina Trotta. E as crianças, lembram as mães, não vão sozinhas. Além da mãe, muitas levam outros filhos pequenos por não terem com quem deixar. “Se são 15 a 18 consultas e cada criança vai com mães e irmãos, temos às vezes mais de 60 pessoas nas salas de espera”, calculou Maria Gabriela.

Todos esses problemas, elas admitiram, seriam mais facilmente resolvidos se as mulheres tivessem maior representação política nos poderes Legislativo e Executivo do município.

“Falta representatividade para as mulheres na política. A mulher é que vai atrás da educação, da saúde e alimentação da criança, é ela que entende o que se passa nos ambientes familiares e quando não tem representatividade da mulher, não temos política de segurança da mulher, a mulher sofre violência, não temos delegacia da mulher, não temos médicos para atender mulheres que sofrem violência”, afirmou Maria Gabriela.

A seguir a íntegra da entrevista ao Serra Negra na Roda.

 


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