//ANÁLISE// Os não-políticos do padrão Fifa


Fernando Pesciotta

Seguindo os passos da Primavera Árabe e o exemplo do que vinha ocorrendo em vários países, em 2013 vimos uma onda de protestos no Brasil. Inicialmente o movimento era estudantil, contra o aumento de vinte centavos na tarifa de ônibus em São Paulo.

Quando os meninos perceberam que caíram numa cilada já era tarde. Grupos de direita, como o MBL, tomaram a dianteira visando impedir a realização da Copa do Mundo e, assim, desestabilizar o governo de Dilma Rousseff. “Não vai ter Copa” e “Educação Padrão Fifa”, numa referência às exigências da entidade para a realização do evento, viralizaram País afora.

Foi nesse período que, numa resposta às reivindicações, o então ministro Alexandre Padilha, da Saúde, criou o Mais Médicos, talvez o melhor exemplo de sucesso no País. O programa foi cancelado pelos militares que tomaram o ministério sob Bolsonaro.

A partir da reeleição de Dilma Rousseff, imediatamente contestada pelo PSDB dentro de uma estratégia que levou ao impeachment – a imprensa internacional prefere chamar de golpe –, os protestos de rua reforçaram a liderança de gente que se dizia indignada e contra a política. Gente que criaria partidos políticos com a bandeira do novo.

Depois que Dilma saiu, as exigências acabaram. Ninguém mais falou em padrão Fifa. Os líderes daqueles que foram para a Paulista com a camisa da Seleção surfaram na onda, se elegeram e pululam em governos estaduais e o Congresso defendendo bandeiras completamente opostas daquelas que os inflaram.

O Novo, partido que dispensa definição, de novo parece não ter nada, e orientou sua bancada a votar contra o Fundeb, primeiro passo para termos uma educação padrão Fifa. O governador da legenda em Minas Gerais é contra o Fundeb, que envia recursos a centenas de municípios do seu Estado e ajuda os prefeitos a pagar um salário razoavelmente decente aos professores. O PSDB, que engrossou as manifestações da Paulista, também vota contra o Fundeb, assim como o PSL que elegeu Bolsonaro e outras figurinhas assíduas nos protestos.

Mais cara de pau teve Jair Bolsonaro. Maior beneficiado do movimento que pedia escola e saúde padrão Fifa, fez o que pôde para barrar o fundo da educação. Quando viu que a Câmara havia aprovado o projeto que torna o Fundeb uma política pública permanente, e dificilmente o Senado o derrubará, Bolsonaro tentou pegar para si a responsabilidade pela iniciativa. É capaz de ele nem saber o que significa o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Professores, criado por Fernando Haddad quando era ministro da Educação no governo Lula.

Também não se ouve ninguém clamando por saúde padrão Fifa. Em plena pandemia, na maior crise da saúde pública da história, estamos sem ministro efetivo, Bolsonaro acena com a nomeação de um político do Centrão e fica tudo por isso mesmo.

Tampouco ouvimos pedidos por um meio ambiente padrão Fifa. Enquanto a Amazônia arde em fogo, o máximo que se vê são os bancos levando sugestões ao governo por temerem que seus negócios queimem junto com a floresta. No ano passado, uma gigantesca mancha de óleo tomou grande parte do litoral brasileiro, trazendo enorme prejuízo para o turismo do Nordeste. Até hoje o governo Bolsonaro não descobriu o que aconteceu, não se sabe quem foi o responsável pelo crime.

Em todos os aspectos, estamos muito longe de qualquer padrão Fifa, mas isso não é mais problema, a esquerda não está mais no governo.

Mais imposto

Depois de uma edição factual, nesta quinta-feira, 23 de julho, o Valor reconhece que a “reforma” tributária proposta pelo ministro Paulo Guedes resultará em aumento de impostos. O mais onerado será o consumidor, contabiliza o jornal. O prestador de serviço com lucro presumido será fortemente atingido.

Como esperado, o plano de Guedes e Bolsonaro não passa de uma fixação em aumento de receita, numa política fiscalista que não tem nenhum compromisso com o desenvolvimento. 

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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