//ANÁLISE// Mudanças globais afetam a vida dos comerciantes no Brasil


Fernando Pesciotta

A prefeita de Paris, Anne Hidlago, foi recentemente reeleita para mais seis anos de mandato com um discurso de fortalecimento do transporte individual sem combustível fóssil. Ou seja, frear os carros e acelerar as bicicletas e os pedestres. Desde 2014, Hidalgo ampliou de tal forma as ciclovias que hoje elas somam mais de 1.000 km, possibilitando cruzar toda a capital francesa.

A determinação da prefeita conta com um incentivo financeiro aos moradores. Além de abrir linhas populares de financiamento, o poder público está dando um vale de € 400 para a compra de bicicleta elétrica.

Amsterdã vai proibir a circulação da carros e motos movidos a gasolina ou diesel a partir de 2030. Qualquer um que tenha tentado estacionar um carro em Amsterdã sentiu na pele o quanto isso é exaustivo e caro.

Neste final de semana, a imprensa noticiou que o prefeito de Pontevedra, município de 83 mil habitantes na Galícia, proibiu a circulação de carros no centro histórico da cidade. O sucesso da medida tem feito com que outras localidades da Espanha cogitem seguir o mesmo caminho.

Pode estar sendo ratificada uma tendência no mundo. Cidades de todos os portes e tamanhos querem reprimir aglomerações no transporte e, ao mesmo tempo, buscam preservar o meio ambiente, o que na Europa é uma questão óbvia. Toda tendência, mais cedo ou mais tarde, chega ao Brasil, com mais ou com menos resistência, como se viu na criação de ciclovias em São Paulo sob Fernando Haddad.

Com a pandemia do coronavírus, o hábito de consumo tem mudado em todo o planeta. As vendas do e-commerce cresceram mais de 100% em vários países, incluindo o Brasil. Para especialistas e consultores, essa mudança veio para ficar.

De fato, conforme pesquisa Ibre/FGV publicada pela Folha também no final de semana, mais de 50% das empresas tornarão permanentes as mudanças adotadas para enfrentar a pandemia do coronavírus. Significa que mais gente estará em casa no “novo normal”. O delivery é citado como solução por 57% das empresas de varejo, concentradamente nos segmentos de supermercados, vestuário, calçados, móveis e eletrodomésticos.

Juntando as três pontas – a retirada dos carros das cidades, o consumo migrando para plataformas eletrônicas e menor movimento de trabalhadores nas ruas –, evidencia-se uma advertência aos comerciantes tradicionais. Será cada vez mais difícil ver um consumidor estacionar seu carro na porta da loja e abastecê-lo de compras para levar para casa.

O comércio tradicional dará lugar a pontos de venda de serviços ou de produtos em pequena quantidade, como já ocorre em grande parte dos centros urbanos da Europa. As ruas ficarão restritas ao lazer e ao serviço, essencialmente.

Essa transformação exige uma nova postura dos empreendedores e estratégias de comunicação diferenciadas para atrair seu consumidor.

Desemprego

No Brasil, a crise pode ser mais mortífera e mais prolongada. O negacionismo do governo estica de forma dramática as consequências da pandemia. Nesta segunda-feira, 27 de julho, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, reconhece que o desemprego é maior do que o apontado pelo IBGE.

Em entrevista à Folha, ele explica que os demitidos na crise nem saem em busca de trabalho, o que segura os índices da pesquisa do IBGE. Sachsida afirma ser necessário reforçar programas sociais para fazer frente ao repique do desemprego que espera para setembro.

A equipe econômica de Paulo Guedes já perdeu cinco integrantes desde o começo do governo, sendo dois nos últimos três dias. Pelo que disse à Folha, não se descarta que Sachsida seja o próximo.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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