//ANÁLISE// Trump é sempre um exemplo para Bolsonaro



Fernando Pesciotta

O presidente Jair Bolsonaro nunca escondeu de ninguém que o modelito que mais admira é Donald Trump. Muito pelo contrário, em nome dessa fidelidade canina e idolatria, coloca o comércio exterior brasileiro em risco ao alvejar a China em nome de uma suposta ideologia e em favor de um suspeito apoio aos EUA na sua guerra comercial contra o país asiático.

Pois é melhor Bolsonaro colocar as barbas de molho. Assim como cá, Trump está sofrendo um duro golpe com as sucessivas manifestações que se alastram por todo o território norte-americano. Ainda é prematuro tirar conclusões definitivas, mas é inegável o desgaste de sua imagem, que pode acarretar perda eleitoral. Os EUA ainda deverão ter eleições neste ano, e nunca Trump esteve tão em risco como agora.

Nem o toque de recolher imposto em metrópoles como Nova York, ou mesmo na capital Washington, tem contido os manifestantes, que protestam contra o racismo e o assassinato de um negro por um policial branco na semana passada. Trump ameaça com a força militar para conter as marchas populares.

As ações nas ruas de centenas de cidades norte-americanas têm sido transmitidas ao vivo pela TV. Sentado no seu sofá em Serra Negra, São Paulo ou Brasília é possível acompanhar todos os movimentos dos manifestantes. Os jornais e portais abrem generosos espaços para o assunto, que vira motivo de debate e análises.

Se Bolsonaro esteve atento à TV, deve ter se afundado na poltrona. Ao mesmo tempo que assiste ao avanço dos protestos nos EUA, vê crescer o noticiário sobre manifestações em favor da democracia e contra seu governo. Nas ruas ou nas redes sociais, o clima desfavorável para o Planalto é crescente.

Como ressalta o UOL, os manifestos pela democracia viram uma “onda” no País, com a adesão de ex-ministros do STF e trabalhadores. Se vai dar em alguma coisa, como um impeachment, é outro problema, mas o fato é que pela primeira no governo Bolsonaro há um clima mais organizado contra sua gestão.

Nesta terça-feira, O Globo e Estadão destacam que, conforme apurou o Ibope, 90% da população brasileira é a favor de mecanismos de bloqueio às notícias falsas. De alguma forma, a revelação tem uma leitura politizada que a considera uma resposta direta aos interesses de Bolsonaro. Sob ordem de seus filhos, o governo não tem poupado recursos para sites e blogs produtores e propagadores de fake news. Ele próprio já compartilhou várias informações falsas.

Segundo notícia da Folha, o inquérito da Polícia Federal relativo a fake news caminha para provar que essa ação criminosa ocorreu na campanha eleitoral de 2018. O jornal fez a denúncia à época. Conforme a evolução das manifestações contra Bolsonaro, nas ruas ou nas redes sociais, esse pode ser o caminho mais curto e fácil para seu afastamento. Caso sejam comprovados ainda neste ano os disparos ilegais de mensagens de notícias falsas na campanha, a chapa Bolsonaro-Mourão pode ser impugnada e o Brasil teria de realizar novas eleições presidenciais.

Reação

O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, recorreu às redes sociais para rebater as acusações de que o Brasil está caminhando para o nazismo. Não apresentou nenhum dado concreto para refutar as comparações, mas alega que elas são “inoportunas e infelizes”.

Crédito

O governo não tem conseguido dar respostas a outras duas crises que atingem o País, conforme avalia a mídia. Na saúde pública, a OMS indica que o Brasil ainda não atingiu o pico de casos de infectados e de mortos pelo coronavírus. Na economia, indicadores divulgados ontem preocupam. As montadoras de veículos, por exemplo, apontam queda de 74,7% nas vendas em maio. O Boletim Focus, do Banco Central, indica que a economia poderá ter um tombo de até 6,25% neste ano.

Por outro lado, enquanto nomeia representantes do Centrão para cargos relevantes, o governo amplia a liberação de emendas parlamentares. Mas o programa de concessão de crédito a pequenas e microempresas, essencial neste momento, está parado, denuncia o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, no UOL. Parte da culpa é dos bancos, diz, porque o dinheiro não chega na ponta, porém, há falta de empenho do Ministério da Economia e do BC para fazer o programa deslanchar.

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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