//POLÍTICA// Vereadores discutem outra vez por causa de ambulâncias

Roberto de Almeida: “Falar de verba é uma coisa que mexe neste plenário"

Salete Silva

Pela terceira semana consecutiva, a falta de transporte na área da saúde e a aquisição de duas ambulâncias do tipo A - furgonetas da marca Peugeot - foram causa de discussão e bate-boca entre os vereadores da situação e da oposição na Câmara Municipal.

O vereador da oposição Leandro Gianotti Pinheiro (PV) ocupou a tribuna na última sessão, na segunda-feira, 2 de dezembro, para rebater os argumentos usados em esclarecimento divulgado pela prefeitura, na semana passada, para explicar o processo de aquisição das furgonetas e as razões da impossibilidade de devolução dos dois veículos.

Os vereadores da oposição, Roberto de Almeida (PTB) e Ricardo Fioravanti (PDT), além de Pinheiro, aproveitaram para apontar o que consideram ineficiências e problemas na gestão municipal do setor de transportes em especial na área da saúde.

Quatro pacientes pelo menos, segundo os vereadores, foram prejudicados na segunda-feira por falta de transporte para levá-los a cidades da região para consultas médicas.

Pinheiro criticou a atribuição pela prefeitura da responsabilidade pelos problemas técnicos das furgonetas, que não acomodam de forma adequada nem paciente nem acompanhante, ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

“As duas instituições podem estar erradas, mas quem comprou também errou”, afirmou. Ele rebateu a informação de que a prefeitura tenha tomado a decisão de devolver os veículos no momento da entrega pela empresa fornecedora. “Eu estava na garagem quando as furgonetas chegaram e ninguém na hora falou em devolução”, disse.

O vereador fez críticas em especial ao argumento de que a cidade não vai ter prejuízo financeiro. “Pelo amor de Deus, ninguém paga imposto federal? Como não foi com recurso federal?”, indagou.

Pinheiro rebateu ainda a informação de que a prefeitura conta com oito ambulâncias para atender a população.

Ele citou o caso de um morador serrano de 80 anos, submetido recentemente a uma cirurgia de quadril, que ficou sem transporte para retornar de Campinas, no dia 29 de novembro, sexta-feira, depois de uma consulta médica.



Apesar da informação da disponibilidade de oito ambulâncias pela prefeitura, apenas, duas segundo o vereador, estavam circulando na sexta-feira: uma estava em viagem e a outra rodando no município.

As demais ou estavam na oficina para revisão ou paradas por diferentes razões, como problema mecânico e defeito na chave, entre outros. As duas furgonetas, ele citou, estão encostadas, porque ainda não foram emplacadas. Pinheiro insistiu na devolução das ambulâncias pela prefeitura.

Além da saúde, Ricardo Fioravanti apontou falta de veículos em outras áreas, entre as quais a do esporte. Ele citou o caso de equipes de caratê e futebol feminino, que não contam com transporte próprio para participar de competições e que não têm conseguido apoio da prefeitura.

Roberto de Almeida relatou o caso de uma criança que, na segunda-feira, necessitava de transporte para consulta na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), mas que não poderia ser transportada em veículo comum, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.

A única ambulância disponível para viagem estava transportando paciente oncológico para Barretos. “A informação era de que se ocorresse algum acidente ou problema seria constatado que ela estava sendo transportada de forma incorreta”, explicou Almeida.

Mas ainda assim, segundo o vereador da situação Felipe Amadeu Fonseca (DEM), a criança teria sido transportada em veículo comum. “Fico chocado com essa informação, porque o que não podia na sexta-feira pôde na segunda”, afirmou.

Para o vereador, embora inapropriadas, as furgonetas terão de ser utilizadas, porque a demanda na saúde é muito grande. Em princípio, os dois veículos, segundo ele, só vão circular no município, mas se precisar ir para Bragança Paulista, por exemplo, ele citou, vão ser usadas para isso também.

“Se na saúde tiver 20 carros, vão faltar 10”, disse. A mesma coisa ocorre no hospital, segundo ele. “Se colocarmos R$ 1 milhão, vai faltar mais R$ 1 milhão”, comparou.

Os vereadores da situação defenderam a administração municipal. Leonel Franco Atanázio (PT do B) acusou o vereador Pinheiro de coagir funcionários da garagem. “Vereador dá carteirada e sem fazer pedido por escrito entra na garagem”, acusou.

Segundo ele, Pinheiro esteve na garagem para inspecionar os veículos da prefeitura às 19 horas, depois do expediente, que vai das 7 horas às 17 horas. “Quer filmar, vai na hora do expediente”, afirmou. O funcionário, segundo ele, se sentiu coagido e temia ser prejudicado.




Para o vereador líder do governo na Câmara, Edson Marquezini (PTB), a Secretaria Municipal de Saúde está atenta aos problemas e tem justificativa para todos os casos de transportes. “Os de hoje (segunda-feira) têm explicação”, afirmou.

Um deles, segundo o vereador, foi o caso de uma viagem a consultas em Sumaré, na qual um dos pacientes não quis ir junto com outro que iria para o mesmo local, mas em horário diferente, mais adiantado.

Além disso, ele responsabilizou parte das reclamações aos excessos cometidos nas redes sociais. “Tem um vídeo circulando de uma pessoa abanando outra dentro da ambulância, denunciando o desconforto do veículo, como se fosse obrigação contar com ar-condicionado na ambulância”, afirmou. “As redes sociais distorcem muitas vezes os fatos”, acrescentou.


Sessão longa


A sessão da Câmara Municipal de segunda-feira foi uma as mais longas dos últimos meses com quatro horas e quinze de duração.

Depois de dedicar mais de duas horas a homenagens e concessões de títulos a cidadãos serranos, os vereadores aprovaram três projetos de abertura de crédito adicional destinado à Associação Santa Casa de Misericórdia de Serra Negra - Hospital Santa Rosa de Lima.

Dois deles autorizam a abertura de crédito adicional pelo Poder Executivo no valor total de R$ 109.115,00 para a aquisição de medicamentos e materiais de enfermagem e o outro também de abertura de crédito adicional no valor de R$ 411.659,00 para custeio de cirurgias eletivas e para a Secretaria Municipal de Saúde, para custeio de alimentação enteral.

Um dos projetos, cuja fonte de recursos é uma emenda parlamentar também provocou discussão entre os vereadores durante a sessão.

A citação pelo vereador da situação Felipe Amadeu da Fonseca do ex-deputado Marcelo Squassoni (Republicanos), autor da emenda que repassa R$ 411,6 mil para o custeio de cirurgias eletivas e para a aquisição de alimentação enteral, foi o estopim para as discussões.

“Outros deputados mandam migalhas aos poucos e ele manda recursos frequentemente e em grande quantidade”, citou o vereador.

O termo migalha foi rechaçado pelo vereador da oposição Ricardo Fioravanti (PDT) que a interpretou como piada e desprezo aos recursos repassados por deputados que apoiam vereadores ligados ao seu grupo político de oposição na Câmara.

Para o líder do governo na Câmara, Edson Marquezini (PTB), repassar verbas é obrigação de deputados como Carlos Sampaio (PSDB) Edmir Chedidd (DEM), Barros Munhoz (PSB), Ricardo Izar (Progressistas) e outros que tiveram votação expressiva na cidade.

“Não fazem mais do que obrigação. Estão retribuindo o que levou. Só que alguns retribuem com mais, outros com apenas R$ 100 mil, R$ 150 mil”, concluiu o líder do governo.

“Falar de verba é uma coisa que mexe neste plenário, o fogo pega na cadeira, parece pipoca”, comentou Roberto de Almeida. Mas ele pediu aos colegas que parassem com picuinhas como ocorre todas as vezes em que o assunto no plenário é emenda parlamentar.





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