//OPINIÃO// Economia crescerá com investimento


Salete Silva

Sem medidas econômicas para reativar a economia, empresários, trabalhadores e autoridades municipais vão ter de apelar para a mágica se quiserem sobreviver até 2021, quando o projeto econômico em curso do governo Bolsonaro, que prioriza a reforma da Previdência, deverá começar a surtir algum efeito no setor produtivo, segundo as previsões mais otimistas.

O risco de aumento das demissões em Serra Negra a partir de agosto já foi tema de discussão entre os vereadores na Câmara Municipal, semanas atrás. A divulgação pelo Banco Central do Relatório Trimestral de inflação do 2º trimestre, nesta quinta-feira, 27 de junho, para explicar a economia estagnada, pode ser mais um ingrediente à preocupação com o aumento do desemprego no segundo semestre.

O Produto Interno Bruto (PIB) de todos os setores econômicos foi revisto para baixo em relação à previsão feita pelo Banco Central em março. O único setor que deverá ter um PIB com evolução positiva é o agrícola, ainda assim crescimento de apenas 1% em relação a 2018.

O PIB do setor industrial, que tinha aumento estimado de 1,8%, vai crescer apenas 0,2%, ou seja, 89% menos do que a previsão inicial.

A construção civil, setor que impulsiona o mercado, com a contratação de trabalhadores menos qualificados, tinha previsão de crescimento de 0,5% para 2019. A expectativa para o PIB da construção agora é de queda de 1,1%.  

O setor de serviços, que mais absorve mão de obra e que não só é o principal empregador do país, como responsável por 70% do PIB nacional, terá um crescimento de 1%, metade dos 2% previstos em março.  

As famílias, que movimentam 60% de toda a economia nacional vão consumir menos. A previsão agora é de que consumam 1,4% mais do que em 2018, mas menos do que os 2,2% previstos em março pelos técnicos do Banco Central.

Inflação abaixo de 3,6% para 2019 e com menos riscos de estourar o teto da meta estabelecido pelo Banco Central, conforme prevê o relatório, poderia ser até pelo menos um dado positivo. Mas como a variação dos preços está diretamente ligada à capacidade de consumo das famílias, nem isso pode ser comemorado.

Menos consumo, menos demanda, menos vendas e, portanto, menos espaço para o repasse de preços a mercadorias e serviços, explicam também a queda da inflação.  

Menos inflação poderia significar mais recursos disponíveis para crédito ao consumidor com juros mais baixos. Mas nem isso é possível com a economia estagnada.

Os juros cobrados dos consumidores devem continuar escorchantes para compensar a queda de lucratividade dos bancos, que tiveram seus ganhos encolhidos com a redução da demanda de financiamento por parte das empresas, que por sua vez reduziram investimentos em virtude da falta de perspectiva de retomada da economia.  

Esse cenário com tantos entraves para a retomada dos negócios explica porque são tão necessárias medidas emergenciais excluídas até agora do projeto econômico do ministro da Economia, Paulo Guedes. Só será possível reativar a economia no curto prazo com investimentos em projetos de infraestrutura capazes de colocar de imediato em movimento a construção civil, motor da economia.

Atrelar a retomada econômica à reforma da Previdência ou qualquer outra reforma estrutural é correr o risco de ver a miséria se alastrar até 2021 quando a reforma talvez comece a produzir algum resultado.

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