//OPINIÃO// Hora de ouvir os desafinados


Carlos Motta

Como se diz popularmente, o mar não está para peixe. A crise econômica persiste, não há sinais de que ela ao menos diminua - ao contrário, a cada dia os fatos políticos vindos de Brasília indicam dias de chumbo para os brasileiros em geral. O fato, nu e cru, é que não há reforma da Previdência capaz de realizar o milagre da multiplicação da renda e emprego, baluartes de uma economia saudável.

Mesmo os mais otimistas estão trocando risos à larga por sorrisos tímidos. Previsões que saudavam um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano em taxas quase chinesas hoje se recolhem à insignificância de números ridiculamente pequenos, incapazes de mover o bobo gigante Brasil um milímetro sequer de sua sempiterna condição de país do futuro.

Os números não mentem, é outra frase que habita o imaginário popular. Pois então, vamos a eles, recolhidos do insuspeito IBGE:

- Em março deste ano a produção industrial nacional recuou 1,3% em comparação com fevereiro, eliminando, assim, o crescimento de 0,6% observado no mês anterior. No confronto com março de 2018, a indústria caiu 6,1%, queda mais intensa desde maio de 2018 (-6,3%);

- No índice acumulado para janeiro-março de 2019, em relação a igual período do ano anterior, a indústria recuou 2,2%.

- A taxa de desemprego (12,7%) no trimestre encerrado em março de 2019 subiu 1,1 ponto porcentual em relação ao trimestre de outubro a dezembro de 2018 (11,6%).

- A população ocupada (91,9 milhões) caiu 0,9% (menos 873 mil de pessoas) em relação ao trimestre de outubro a dezembro de 2018.

- A população fora da força de trabalho (65,3 milhões) ficou estável frente ao trimestre de outubro a dezembro de 2018 (65,1 milhões) e subiu 1,0% (mais 649 mil pessoas) frente ao mesmo trimestre de 2018 (64,6 milhões).

- A população subutilizada (28,3 milhões) é recorde da série histórica do IBGE, com altas em ambas as comparações: mais 5,6% (1,5 milhão de pessoas) em relação ao trimestre anterior e de 3,0% (mais 819 mil pessoas) em relação ao mesmo trimestre de 2018.

- O número de pessoas desalentadas (4,8 milhões) subiu: mais 3,9% (180 mil pessoas) em relação ao trimestre de outubro a dezembro de 2018 e mais 5,6% (256 mil pessoas) em relação ao mesmo de 2018. 

- A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)  vem aumentando desde o início do ano: 0,32% em janeiro; 0,43% em fevereiro; e 0,75% em março.



É isso. E não é pouca bobagem.

A pequena e pacata Serra Negra, que vive essencialmente do turismo, do setor de serviços, do comércio, da alimentação e da hospedagem de seus visitantes, vem sofrendo, talvez ainda não tanto quanto o restante do Brasil, as consequências de desatinos cometidos por governantes absolutamente incapazes de compreender a grandeza e a responsabilidade do cargo que ocupam.

Hoje, empresários locais se esforçam para adotar medidas que resgatem o lucro perdido. Unem-se em torno de bandeiras louváveis, mas incapazes de espantar o inimigo que, sorrateiro, adentra o território antes esplendoroso em abundância de prosperidade econômica e paz social.

Talvez fosse mais produtivo para todos que eles, bem intencionados, saíssem do isolamento interiorano que os protege das danações cosmopolitas, e passassem a dialogar com pensamentos mais contemporâneos e democráticos, esses que, para uns tantos, soam incômodos e excessivos. 

Se há a necessidade, mais que urgente, de um pacto nacional que salve o Brasil de um mergulho mortífero na fossa abissal da desigualdade, injustiça e miséria, é nítido que para que os serranos possam sobreviver a estes tempos amargos, eles devam congregar todas as vozes que se dispõem a construir uma sociedade melhor para todos.

Mesmo que, para muitos, essas vozes não sejam agradáveis.

Comentários

  1. Enquanto Serra Negra não resgatar seu RG,sua identidade,continuarão lavando gelo.É tempo da população praticar cidadania. E de ser mais bem informada sendo sujeito de mudanças. Até agora foi objeto.

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