//CARLOS MOTTA// Fernando, Sorocaba e Serra Negra



A prefeitura contratou a dupla Fernando e Sorocaba (foto) para se apresentar no aniversário de Serra Negra, em setembro. Repete, dessa forma, o que fez quando bancou um show de Michel Teló, outro artista ligado ao gênero musical denominado "sertanejo universitário". A diferença entre um ano e outro é mais profunda, porém, quando se observa o quanto foi gasto de dinheiro público em 2024, pouco mais de R$ 200 mil, e o quanto sairá dos cofres públicos este ano para o cachê da dupla - R$ 485 mil.

Não são poucas as pessoas que defendem essas contratações milionárias de artistas por parte das prefeituras do Interior. Nas redes sociais, tão logo dei a notícia da contratação da dupla Fernando e Sorocaba, vi comentários do tipo "reclamam porque faz e reclamam porque não faz", referindo-se à iniciativa da prefeitura.

É claro que os governantes devem proporcionar lazer para a população. No caso de Serra Negra, cidade na qual os moradores têm uma pesadíssima carga de trabalho sem a remuneração devida, essa providência é mais do que bem-vinda. Isso não se discute. 

O que se discute são os quase meio milhão de reais que sairão dos cofres públicos para pagar o cachê da dupla. E nem quero lembrar o escândalo que foi a revelação, em 2022, do quanto pequenas cidades brasileiras pagavam para os artistas sertanejos "universitários"...

Ora, todos os serranos sabem dos problemas da saúde pública da cidade, do atendimento do PS do Hospital Santa Rosa de Lima, alvo de constantes reclamações, do abandono dos bairros periféricos, da falta de empregos de qualidade, do trânsito caótico no Centro, dos transporte público ineficiente, da escassez de moradias... E mais recentemente, da ameaça da instalação de duas praças de pedágio no município.

São problemas crônicos. Os R$ 485 mil que irão para o empresário e para a dupla sertaneja "universitária" não resolveriam nem uma pequena parcela deles. Mas seriam suficientes, por exemplo, para que Serra Negra tivesse mais uma ambulância, pagasse o salário de um médico por mais de três anos ou distribuísse 6.500 cestas básicas para aqueles mais necessitados.

Ou então, esse cachê, investido nos artistas locais, poderia proporcionar uma revolução cultural na cidade. 

Tudo na vida são prioridades. E a da Prefeitura de Serra Negra, parece, não é instituir políticas públicas que além de duradouras, atendem as necessidades da coletividade. Mais fácil é investir no marketing rasteiro, na propaganda disfarçada em "utilidade pública" e na efemeridade de eventos caros e superficiais - que rendem votos. 

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Jornal da Tarde e Valor Econômico) e editor do Viva! Serra Negra



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