//CARLOS MOTTA// Novo mandato, velha gestão



O prefeito reeleito de Serra Negra, Elmir Chedid, toma posse de seu cargo, junto com seu vice, Rodrigo Demattê, e os 11 novos/velhos vereadores, nesta quarta-feira, 1º de janeiro. Chedid foi eleito com 76% dos votos e vai continuar a ter maioria tranquila na Câmara Municipal. A legislatura que termina aprovou por unanimidade todos os projetos de lei de autoria do Executivo. O modus operandi da nova deve ser o mesmo: aprovar tudo o que o prefeito quiser sem discussão.

A esmagadora vitória conseguida nas urnas dá continuidade a um projeto político que dura meio século, iniciado por Jesus Chedid, pai de Elmir e de seu irmão gêmeo, o ex-deputado estadual e prefeito eleito de Bragança Paulista, Edmir. 

Se em eleições passadas o eleitorado serrano se mostrou dividido quanto ao apoio à família Chedid, que venceu pleitos por pequena margem, esta última foi completamente diferente. O resultado mostrou que hoje em dia, para ser popular, um político depende mais do que as pessoas acham que ele faz do que ele realmente faz.

No caso de Serra Negra, a impressão que fica dos quatro anos de gestão do prefeito reeleito é que a cidade está mais bem cuidada, com mais turistas, mais bonita em sua área central, com mais atrativos para os visitantes, com ruas asfaltadas, algumas obras nas área de saúde e educação e novas instalações do Paço Municipal.

Essa é a impressão que se tem. Os turistas que se concentram no Centro não podem reclamar. O comércio da Rua Pedro Penteado está com movimento acima da média, bares, hotéis e restaurantes estão superlotados. 

Mas, essencialmente, o que mudou em Serra Negra nos quatro anos de gestão do prefeito reeleito?

Ele resolveu os graves problemas da saúde pública? Não há mais queixas sobre o atendimento no Hospital Santa Rosa de Lima?

A concessionária de ônibus ofereceu mais horários e itinerários para atender os trabalhadores e moradores da periferia?

Não há mais congestionamento de veículos no Centro? Ficou mais fácil estacionar nessa área?

A juventude já tem opções de lazer? 

Foram construídas casas populares para a população de baixa renda?

As péssimas calçadas foram consertadas?

Foi feito algo para melhorar a acessibilidade de quem tem a mobilidade reduzida - o público da terceira idade, por exemplo?

Quantos empregos foram criados para atender a alta da demanda proporcionada pelo número crescente de turistas?

O salário médio dos trabalhadores aumentou? 

Eles têm mais tempo para se dedicar à família, ao lazer, aos estudos?

Essas - e outras - questões nunca foram abordadas pela maciça propaganda oficial.

A Serra Negra da propaganda oficial é uma terra sem nenhum problema, um mundo inteiramente cor-de-rosa.

A enxurrada de propaganda oficial repete dia após dia essas "verdades". Os poucos que fazem o contraponto são execrados, anulados, cancelados.

O prefeito reeleito não dá mostras de que vai mudar seu comportamento nem seu modo de governar. 

Tudo indica que seguirá ignorando críticas, se isolando da população, construindo uma rede de acólitos sem personalidade própria, tomando decisões solitárias e sem transparência. 

Vai continuar impondo aos serranos um mundo paralelo. 

Um mundo no qual a quase totalidade dos eleitores tem a sensação de que tudo está ótimo. 

Mas ótimo para quem?

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Jornal da Tarde e Valor Econômico) e editor do Viva! Serra Negra


Comentários

  1. Pão e circo sempre foram estratégia de sucesso ao longo da história humana. A não ser por breves períodos em que as feras descobriram que podiam escapar de suas jaulas...

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