//FERNANDO PESCIOTTA// No Rio 40 graus é só seguir o dinheiro



O Rio de Janeiro viveu na segunda-feira (23) mais um dia de caos com pelo menos 35 ônibus e trens incendiados pela milícia na Zona Oeste, causando prejuízo de quase R$ 40 milhões. Vias como a Avenida Brasil foram interrompidas, tornando a cidade um inferno para trabalhadores que tentavam voltar para casa.

Segundo os principais veículos de imprensa, a ação dos bandidos é represália pela morte de um miliciano numa troca de tiros com a polícia. As razões do caos, porém, não são tão simplistas.

O Rio de Janeiro vive profundos e complexos problemas de segurança pública há décadas, mas a situação se agravou quando o Estado apostou na ação da milícia. Trata-se de um esquadrão de policiais, malandros, bandidos profissionais e militares que se diziam dispostos a enfrentar o tráfico de drogas, mas que na verdade objetivavam controlar os comércios paralelos e ilegais, cobrando pedágio até para a entrega de gás.

A milícia passou a ser valorizada pelo poder público, ganhou corpo, ficou independente e tornou-se maior do que o próprio Estado, a ponto de seu principal expoente chegar à Presidência da República após condecorar na Câmara assassinos profissionais.

Em 2018, às vésperas das eleições, o governo federal, sob Michel Temer, fez uma intervenção na Segurança Pública do Estado. O general Braga Neto, chefe dessa intervenção, se lambuzou e deu mais espaço para a milícia, sabidamente autora do assassinato de Marielle Franco, entre outros muitos crimes.

Para agravar a situação, nos últimos anos o Rio de Janeiro só elege gente vinculada à milícia. O atual governador tem ligações profundas com as quadrilhas e mesmo que queira se desvencilhar verá que se tornou refém, a ponto de ter terceirizado a indicação do secretário de Segurança Pública.

Uma solução definitiva é difícil, exigindo esforços dos Poderes, punição severa de todos os responsáveis, incluindo generais e ex-presidente, coragem e muitos recursos. Mas o primeiro passo é sufocar as finanças da quadrilha.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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