//FERNANDO PESCIOTTA// Incentivo da discórdia, a nova polêmica



Quanto mais fecha o cerco contra o miliciano e sua gangue, dando a falsa impressão de que o risco de sua volta está afastado, mais os conservadores, o agronegócio, o centrão e a mídia se voltam contra Lula.

Depois da cizânia com Marina Silva e a questão ambiental, a bola da vez é o programa de incentivo à indústria automobilística, que minutos após o anúncio já virou polêmica.

Para o jornal Valor Econômico, o governo vai dar redução de IPI e Pis/Cofins às montadoras num momento em que busca ampliar as receitas para dar razoabilidade ao arcabouço fiscal. O jornal, porém, não apresenta cálculos de volume de venda compensando ou não o desconto de impostos. Fica parecendo beicinho.

Pelo anunciado, o corte tributário segue uma lógica. Será maior para os modelos mais baratos, os que poluem menos e os que têm maior densidade tecnológica. Além disso, o corte nos impostos é temporário.

Falar em carro popular parece exagerado, pois não há um modelo que poderá custar menos de R$ 60 mil, mas é por isso que setores da mídia insistem na exploração pejorativa do termo.

O que não é nem mencionado é o fato de que a indústria automobilística, goste-se ou não dela, tem a mais extensa cadeia produtiva da atividade econômica, superando a construção civil, que, porém, alcança trabalhadores menos qualificados.

Setores da mídia mais ranzinza consideram que o governo repete receitas antigas, o que não é necessariamente verdadeiro, dadas as diferenças com programas anteriores. Há, ainda, quem também não faça cálculos, mas aponte incoerência em conceder descontos para carros de R$ 70 mil num país com tamanha desigualdade social.

Se as vendas crescerem a ponto de compensar o desconto, essa tese dança. As montadoras projetam vendas de 300 mil carros a mais em um ano.

Pode até ser que os críticos estejam certos. Assim como pode ser que os mais otimistas também estejam certos. O que faz a diferença, pelo menos no que se vê até agora, é que há uma aparente sustentação lógica dos argumentos favoráveis ao programa e um monte de opinião nas críticas a ele. Mais ou menos como nos jornalísticos da televisão, onde um monte de “analista” apresenta opinião sobre tudo, quase sempre sem nenhum balizamento técnico.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com


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