//CARLOS MOTTA// Nosso hospital não pode ser tratado como a Geni da canção



O Hospital Santa Rosa de Lima é como a Geni, a protagonista da história que Chico Buarque conta em sua magnífica canção "Geni e o Zepelim": "Ela é um poço de bondade/ E é por isso que a cidade/ Vive sempre a repetir/ Joga pedra na Geni /Joga pedra na Geni/ Ela é feita pra apanhar/ Ela é boa de cuspir /Ela dá pra qualquer um/ Maldita Geni."

O nosso hospital é um patrimônio da cidade, muito mais importante que qualquer cópia de isopor de monumento estrangeiro.

Não pode ser tratado como tem sido - achincalhado publicamente cada vez que um incidente ocorre nele.

Como neste último caso, de grande repercussão, que movimentou redes sociais na semana passada, entre os pais de uma menina de três anos e um médico pediatra.

Analisando friamente o episódio, todos erraram e todos têm razão.

O médico pediu que a mãe da criança a silenciasse, pois estava em consulta, mas não deveria ter se recusado a atendê-la;

a mãe defendeu sua filha, mas poderia ter acatado o pedido do médico;

o hospital soltou uma nota saindo em defesa do médico, afirmando que vai investigar o ocorrido, mas poderia ter tomado providências mais rapidamente;

e finalmente, a prefeitura não poderia nunca, como fez, se eximir de qualquer responsabilidade - sim, o hospital é particular, mas o Poder Público repassa mensalmente a ele cerca de R$ 500 mil para manter o pronto socorro.

Nos dez anos em que moro em Serra Negra, só ouço falarem sobre crise no hospital. 

Parece que ela sempre existiu e sempre vai existir.

A impressão que dá é que é do interesse de alguns que essa crise seja permanente.

Pois há políticos que lucram com ela.

Afinal, o hospital é uma fonte enorme de clientelismo. 

Há sempre um vereador, um secretário, alguém ligado à prefeitura, pronto para "quebrar um galho" de algum munícipe - algum eleitor.

O hospital é também fonte inesgotável para os demagogos de plantão, com suas obviedades e receitas sem nenhuma substância para resolver a sua crise.

Enquanto isso, sofre a população. Que reclama quando é mal atendida, que não quer saber por que isso acontece e que merece um tratamento digno, humano e profissional. 

Repito, e espero que as autoridades reflitam sobre a sua responsabilidade nesta crise permanente do hospital: o Santa Rosa de Lima é um patrimônio de Serra Negra. É uma indignidade que seja tratado como a Geni de Chico Buarque. 

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Jornal da Tarde e Valor Econômico) e editor do Viva! Serra Negra





Comentários

  1. Eu vivo há 12 anos na cidade. Sempre foi assim e, infelizmente, vai continuar sendo, enquanto, como está explícito no artigo, a Santa Casa continuar sendo massa de manobra para políticos inescrupulosos. E enquanto a população continuar se deixando enganar por esses abutres fantasiados de pombas da paz.

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  2. Quanto aos "quebra galhos", que garantem atendimento privilegiado para alguns poucos em detrimento do direito de muitos, eu mesmo presenciei um caso do filho de um político não reeleito que, chegando ao PS com a mão levemente machucada, foi atendido na hora pelo médico de plantão, que lhe deu "propriedade máxima", enquanto pelo menos uma dezena de munícipes "comuns", e pagadores de impostos, aguardava por cuidados médicos. Ao final, o filho do político não reeleito, com a mão devidamente medicada, convidou o médico plantonista, com o qual parecia manter uma amizade bem próxima, para "um churrasco já em casa".

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