//FERNANDO PESCIOTTA// Sem memória e sem escrúpulo

Em meados da década de 1990, uma antiga escola pública do bairro do Brooklin, em São Paulo, foi transformada na Universidade de Música Tom Jobim, que recebia alunos interessados em aprender a cantar ou tocar qualquer instrumento musical.

Mantida pelo Estado, desde a pandemia a escola ficou praticamente abandonada e depois deu lugar a um projeto chamado Guri, cujo objetivo é... não sei, não havia nenhuma explicação ao público disponível no local.

Agora, o antigo e majestoso prédio está sendo reformado, ganhando uma aparência moderna, dentro dos padrões arquitetônicos dos novos projetos estaduais. Mataram a memória do edifício de dois pavimentos, histórico no bairro, retrato de uma era.

O próprio poder público demonstra, assim, descaso com a preservação do patrimônio histórico. Não só o Brooklin, mas toda a cidade de São Paulo está sendo descaracterizada, invadida por milhares de prédios, sem nenhuma mudança de infraestrutura, de melhoria viária ou de transporte para suportar essa aberração.

O maior símbolo dessa barbaridade desenfreada é o prédio de 50 andares, 172 metros de altura, construído no bairro do Tatuapé. A aberração ocupa um quarteirão onde tinha antes um conjunto de casas de uma vila operária dos anos 1950.

A transformação da cidade para pior ocorre em todos os bairros, em total desrespeito com a lei de ocupação urbana. Condomínios gigantescos ocupam o espaço de mais de 20 imóveis de pequeno porte, descaracterizando a cidade e levando sua memória.

Uma velha moradora do Brooklin foi procurada por uma construtora, interessada em comprar sua casa para construir um desses edifícios. Ela disse que não vai se desfazer do imóvel e lembrou que ali é proibida a construção de prédios, por causa da rua estreita. “Vamos dar um jeito nisso”, respondeu a construtora.

Nada se vê na imprensa, irrigada por milhões em publicidade de construtoras e incorporadoras, e o prefeito irriga seu caixa de campanha.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com




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