//CARLOS MOTTA// Um triste Carnaval oficial



A definição do substantivo masculino "Carnaval" difere pouco de dicionário a dicionário. 

No organizado pela Academia Brasileira de Letras, o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, a palavra é assim definida: "Festa popular que dura os três dias que precedem a Quarta-Feira de Cinzas, com danças, mascarados, desfiles de escolas de samba, bailes a fantasia."

No Michaelis, o verbete é um pouco mais longo: "Período de folia que precede a Quarta-Feira de Cinzas, tradicionalmente de três dias, porém atualmente alongado para cinco dias, com folguedos populares, bailes e desfiles de blocos e de escolas de samba, que tem sua origem no entrudo."

E por extensão: "Manifestação alegre e ruidosa."

A democrática Wikipedia tem uma definição mais longa:

"O Carnaval normalmente envolve uma festa pública e/ou desfile combinando alguns elementos circenses, máscaras e uma festa de rua pública. As pessoas usam trajes durante muitas dessas celebrações, permitindo-lhes perder a sua individualidade cotidiana e experimentar um sentido elevado de unidade social.

"O consumo excessivo de álcool, de carne e outros alimentos proscritos durante a Quaresma é extremamente comum. Outras características comuns do Carnaval incluem batalhas simuladas, como lutas de alimentos; sátira social e zombaria das autoridades e uma inversão geral das regras e normas do dia a dia."

O Dicionário Online de Português acrescenta outro sentido ao substantivo: "Bagunça; excesso de barulho, de pessoas, de confusão."

Da mesma maneira, o Priberam vai além da definição mais usual: "Grande divertimento ou festa. = FARRA, FESTIM, FOLGUEDO, FOLIA, PÂNDEGA."

Em nossa querida Serra Negra, as autoridades executivas ignoraram os dicionários, os textos eruditos e populares, a tradição e a cultura, e criaram um novo gênero de Carnaval, o "oficial", cheio de regras, decretos e proibições.

O gênio Ariano Suassuna lembrava que Machado de Assis, outro gênio da raça, dizia que havia dois Brasis, o oficial e o real. "Machado de Assis diz que o país real é bom, revela os melhores instintos, mas o oficial é caricato e burlesco. Não sei se fazendo violência ao pensamento de Machado de Assis, identifico o Brasil oficial com as classes privilegiadas e o Brasil real com o Brasil do povo, dessa imensa maioria de despossuídos que, a meu ver, é a fonte da grande esperança que eu tenho no meu povo. Se Machado de Assis fosse vivo, constataria que o país real continua bom, revelando os melhores instintos, e o país oficial ficou ainda mais caricato e burlesco."

O Carnaval oficial de Serra Negra não passa disso: caricato e burlesco. 

Pode ser qualquer coisa, menos Carnaval.

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Jornal da Tarde e Valor Econômico) e editor do Viva! Serra Negra




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