//CIDADE// Abertura de creche nos fins de semana divide vereadores



Os vereadores querem saber se o prefeito Elmir Chedid pretende disponibilizar uma creche para atender filhos de pais e mães que trabalham nos fins de semana e nos feriados e não têm com quem nem onde deixar as crianças. O tema, que já foi discutido pela Câmara Municipal em outras legislaturas, voltou à tona com um requerimento sobre o assunto de autoria do vereador Leonel Franco Atanázio votado na sessão de segunda-feira, 7 de outubro.

Embora o requerimento tenha sido aprovado, as opiniões dos vereadores são divergentes. “Há mães que trabalham em loja no sábado e domingo em Serra Negra e não param”, disse Atanazio. Ele citou como exemplo o último feriado de Finados. “As creches ficaram paradas cinco dias e a mãe têm de se virar com mãe, avó e tio, o vizinho, para cuidar dos filhos e têm algumas que não têm onde deixar”, explicou.

O vereador lembrou que o problema afeta em especial os trabalhadores do comércio e sugeriu que o empregador forneça à creche uma declaração informando os fins de semana e os feriados em que os empregados estarão trabalhando. “As mães que estejam trabalhando nas lojas e não têm onde largar as crianças podem levar uma carta, um papel, para o patrão autorizar o dia que ela vai estar trabalhando. Para não ter aquele negócio de mãe ir passear e deixar a criança na creche”, disse.

A vereadora Viviani Carraro, funcionária aposentada da área da educação, foi a primeira a se posicionar contrária ao funcionamento de creches nos fins de semana e feriados. O seu principal argumento é de que a criança seria a maior prejudicada com a iniciativa. “Penso sempre na criança e muitas delas vão ficar de segunda a segunda na escola, sem estar com a mãe ou o pai um dia da semana”, argumentou.

Viviani informou que estudos já realizados pela área da educação indicam que o vínculo afetivo da criança com a família, essencial para seu desenvolvimento emocional e cognitivo, é fortalecido  com a convivência em casa com os pais, irmãos e familiares. “A criança necessita ter um tempo com a mãe, com a família, com a casa”, afirmou.

Com base em sua experiência de 30 anos como professora e profissional da educação em Serra Negra, Viviani disse ter constatado que muitas mães acabam deixando as crianças nas creches mesmo nos seus dias de folga do trabalho  porque precisam cuidar da casa e fazer outras atividades ou até mesmo para usufruir de lazer. “Dizíamos que tínhamos o aluno 14º, ou seja, aquele que nunca faltava”, disse.

As crianças também seriam prejudicadas, Viviani avalia, porque não teriam garantias de que seriam cuidadas pelas atendentes com as quais estão acostumadas na creche. Seria necessário um rodízio para não sobrecarregar os profissionais das creches.

“A gente sabe também que pode ser que algumas funcionárias queiram fazer hora extra nos finais de semana, mas já é exaustivo tanto para a funcionária quanto para a criança ficar de segunda a sexta-feira”, disse. A criança terá de criar vínculos afetivos com outras funcionárias. 

Ela teme que muitas crianças cujos pais ou familiares poderiam ficar com elas nos fins de semana e feriados sejam enviadas para as creches sem necessidade, mesmo com a exigência de apresentação de uma declaração do empregador.

A vereadora solicitou ao prefeito que antes de tomar uma decisão realize um estudo detalhado sobre o impacto para a criança que terá de permanecer durante toda a semana na creche.

Os vereadores Renato Giachetto e Roberto de Almeida, que já participaram de discussão similar em outras legislaturas, têm opiniões divergentes sobre o assunto. Embora reconheça que pode haver algum prejuízo emocional e cognitivo para as crianças, Giachetto lembrou que muitos pais precisam trabalhar nos fins de semana e feriados e não têm com quem deixar as crianças.

“Há casos e mais casos que, se a pessoa não trabalhar no final de semana, não tem como levar alimento para casa e o marido idem. Aqui é um estudo que tem de ser aprofundado”, avaliou Giachetto. 

Roberto de Almeida lembrou que em 2015 quando o assunto foi debatido pelo Legislativo a então e atual secretária de Educação, Rita Pinton, já havia alertado para o risco de quebra de vínculo da criança com os familiares.

Almeida avalia que as mães que necessitam da creche nos fins de semana e feriados são exceções. “Muitas mães deixam as crianças na creche e ficam em casa ou vão passear e a criança fica a semana toda sem o contato com os pais. Vou votar favorável, mas acho que é muito difícil isso acontecer”, afirmou.

O vereador disse ainda que o funcionamento da creche deixa uma brecha para a apresentação de falsos atestados médicos. “Tem muitos que são empresários aqui e sabem disso. O funcionário vai conseguir o atestado, vai levar a criança na creche e vai faltar e vai aparecer outro atestado de saúde”, salientou. “Muitas mães deixam as crianças na escola e vão saracotear”, acrescentou.

O presidente da Câmara, César Augusto Borboni, o Ney, também lembrou que já há estudos sobre o assunto que revelam a sua inviabilidade. “Vou aprovar o requerimento mas acho que já foram feitos estudos nas férias, sempre foram feitos vários projetos pilotos, mas é exceção a pessoa que precisa, passa a ser exceção das pessoas que querem deixar a criança sete dias na creche e isso acaba atrapalhando na educação e existem vários estudos da Secretaria da Educação, é uma receita que não funcionou”, afirmou.

A vereadora Ana Barbara Magaldi cobrou a participação da iniciativa privada na discussão. "É válido que a Secretaria de Educação mostre os estudos. Em contrapartida, temos de pensar que não só o setor público tem responsabilidade, mas é uma conversa que tem de ser feita com o comércio para saber como fazer isso", afirmou

Apesar das divergências, o requerimento foi aprovado por unanimidade.



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