//CARLOS MOTTA// Baixaria



- Que baixaria! - gritou a mulher na calçada ao ver nossos carros passarem com as bandeiras de Lula, Haddad e o PT pelas ruas centrais de Serra Negra, num dia desses de campanha eleitoral.

Mais tarde fiquei sabendo que ela não era uma pessoa qualquer, uma anônima, mas sim responsável por uma ONG que cuida de crianças.

Uma figura pública, com uma tremenda responsabilidade.

Terminada a nossa carreata pude enfim pensar um pouco na reação que essa mulher teve ao se defrontar com uma manifestação absolutamente normal em qualquer sociedade minimamente civilizada.

Afinal, os apoiadores dos candidatos em que ela provavelmente votou estavam fazendo o mesmo que nós - em muito maior escala, já que para isso dispunham de um exército de cabos eleitorais pagos.

Fiquei na dúvida o que seria "baixaria" para aquela mulher. 

Será por que espalhávamos pela cidade a mensagem de que queremos um Brasil melhor para todos, para ela e para as crianças que tem a obrigação de cuidar?

Será por que ela acredita que as dificuldades que essas crianças e suas famílias hoje passam foram criadas pelo nosso candidato e não por quem ela provavelmente votou?

Sei lá.

Sei apenas que, diante de seu grito de revolta por ver, ao vivo e em cores, uma das mais legítimas expressões da democracia, aquela alegre carreata que fazíamos, fiquei com pena dela e das crianças que cuida.

Dela, por ser aquilo que não conseguiu disfarçar - uma pessoa que não aceita as diferenças, que rejeita a democracia e suas manifestações.

Das crianças, por estarem sob a guarda de alguém que provavelmente vai lhes transmitir seus preconceitos, sua intolerância e seu desprezo por quem pensa diferente.

Isso, sim é baixaria.

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Jornal da Tarde e Valor Econômico) e editor do Viva! Serra Negra



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