//DESENVOLVIMENTO// Um plano ousado: incluir Serra Negra entre as 100 melhores cidades para se viver



Empresários e representantes dos setores público e terciário do Circuito das Águas Paulista planejam incluir os nove municípios da região entre as 100 melhores cidades do país para se viver até 2030.

Essa é a principal meta da agenda para os próximos oito anos do Grupo Líder, criado pelo Sebrae em 2019 para qualificar lideranças regionais. A agenda foi apresentada durante o Fórum de Líderes, realizado em Jaguariúna, no início de agosto.

O evento marcou o encerramento das atividades de qualificação dos representantes dos municípios do Circuito das Águas Paulista, que passaram por um treinamento de capacitação durante dois anos e oito meses, incluindo o período de pandemia.

Diversos representantes do comércio, hotéis, bares e restaurantes e do setor  público de Serra Negra aderiram à iniciativa inicialmente e chegaram a participar de algumas ações. A maioria, no entanto, acabou se desligando das atividades nos últimos dois anos.

A cidade conta com quatro representantes no grupo: as presidentas do Conselho Municipal de Turismo (Comtur), Sirlene Terenciani, da Associação dos Produtores de Cafés Especiais do Circuito das Águas Paulista (Acecap), Silvia Fonte, da Associação dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (Ashores), Cibele Dib e o secretário-geral da Câmara Municipal, Demétrius Ítalo Franchi.

A missão de posicionar as cidades da região entre as melhores do país para se viver tem como referência o Desafio de Gestão Municipal (DGM), índice desenvolvido por uma empresa de consultoria especializada em planejamento e decisões estratégicas com sede no Rio de Janeiro, a Macroplan.

Maringá, no Paraná, foi a primeira cidade colocada no DGM de 2021. Cidades do interior de São Paulo dominam o ranking. Jundiaí é a segunda colocada, seguida de São José do Rio Preto, Piracicaba e São José dos Campos.

Mais de 20 municípios paulistas estão entre os 100 melhores do país para se viver, nenhum deles por enquanto do Circuito das Águas Paulista.

A expectativa do grupo é que em quatro anos todas as cidades da região estejam pelo menos entre as melhores do Estado e que metade delas já apareça no ranking nacional do DGM em 2026.

Educação, segurança, saúde, saneamento e sustentabilidade, além da atividade econômica são indicadores utilizados para avaliar a qualidade de vida nos municípios, não só no ranking do DGM, como no do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Econômica (IBGE) e do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que avalia indicadores de riqueza, alfabetização, educação, esperança de vida e natalidade entre países, entre outros.

Comparação

Serra Negra vai bem em alguns indicadores, em especial no de Educação. No Índice de Educação Básica (Ideb) atingiu nota 7,0, a maior do Estado, e a 353ª colocação entre os 5.570 municípios do país.

O Índice de Desenvolvimento Humano de Serra Negra em 2020 ficou em 0,704, acima do de Socorro (0,630) e Águas de Lindoia (0,695), mas abaixo de Amparo (0,716) e Jaguariúna (0,715).

O Viva! Serra Negra comparou os indicadores de Serra Negra e os da cidade de Bauru, que ficou em 47º lugar no DGM de 2021. Entre as cidades paulistas, Bauru foi a última colocada. 

Serra Negra tem vantagem sobre Bauru nos indicadores de educação. A taxa de escolarização do município é de 97,8%. A de Bauru fica um pouco abaixo, 96,9%. O Índice de Educação Básica (Ideb) também está um pouco acima: 7,0 para Serra Negra e 6,4 para Bauru.

Nos demais indicadores, o município fica bem atrás de Bauru. Na área de saneamento básico, Serra Negra, segundo o IBGE, apresenta 71,4% dos domicílios com esgotamento sanitário adequado, ou seja, com infraestrutura, equipamentos e serviços de coleta e tratamento dos esgotos domésticos. No ranking de saneamento do Estado, se encontra na posição 548 de 645 municípios.

Bauru está bem à frente, com uma taxa de 98,2% de domicílios com esgotamento sanitário adequado, a 55ª posição no Estado de São Paulo.

Mas é na área econômica as principais desvantagens de Serra Negra em relação a Bauru, independentemente da diferença populacional. Serra Negra tem uma população estimada em 29.600 habitantes. A estimativa de Bauru é de 381.706 habitantes.

A renda per capita, ou seja, por pessoa em Serra Negra é de R$ 25.415,51 anuais. Bauru tem renda per capita de R$ 40.668,42. Serra Negra ocupa a posição 387ª no Estado e 1.837ª entre os 5.570 municípios brasileiros. Bauru ocupa a 119ª posição no Estado e 730ª no país.

A diferença é significativa também em relação ao salário médio pago em 2020. A média em Serra Negra é de 1,7 salário mínimo, abaixo não só de Bauru, mas de municípios da região do Circuito das Águas, com exceção de Águas de Lindoia, com a qual empata. Os demais municípios da região pagam em média mais de dois salários mínimos. No ranking estadual, Serra Negra ocupa a 610ª posição entre os 645 municípios em salário médio pago.

O salário médio pago em Bauru é de 2,6 mínimos, posição 117ª  dos 645 municípios paulistas.

Serra Negra apresenta também uma taxa de população ocupada em relação à população total inferior à de Bauru. A proporção de pessoas ocupadas em relação à população total era de 24,2% em 2020. No Estado, ocupa a 327ª posição e no país a 1.837ª colocação. Bauru apresenta taxa de ocupação de 36,7%, posição 119ª no Estado e 730 ª no país.

As vantagens de Bauru estão na diversidade econômica. A cidade, também universitária com a presença da Universidade Estadual Paulista (Unesp), conta com um parque industrial. Mais de 200 empresas movimentam a economia criando emprego e renda. Além do comércio atacadista, os distritos empresariais são integrados por fábricas de alimentos, produtos de limpeza e de máquinas e equipamentos.

Unindo esforços

A proposta do Grupo Líder é unir os municípios do Circuito das Águas Paulista para realizar um trabalho integrado e tentar desenvolver todas as cidades, impulsionando em especial o turismo. A meta é dobrar o fluxo de turistas de 10 milhões para 20 milhões anuais.

A principal aposta na área de serviços é preparar a região para a incorporação da tecnologia 5G em todos os municípios até o próximo ano. A agenda do Grupo prevê a contratação de uma empresa de consultoria para obter dados regionais, mas não traça ações efetivas para desenvolver o setor produtivo e em especial industrial.

Faltam indústrias

Os municípios com maiores salários médios contam com um setor industrial mais robusto. Os municípios com melhores IDH no Circuito das Águas Paulista, Amparo e Jaguariúna, também são os mais industrializados.

Dados econômicos revelam que a indústria continua sendo o motor do desenvolvimento, não só dos países ricos mas também de municípios. O economista Paulo Gala, professor de economia da Faculdade Getúlio Vargas, avalia que a produção em massa permite criar bons empregos e em maior quantidade.

A área de serviços, como a de softwares/computação, o economista ressalta, tem características típicas da manufatura com retornos de escala, mas dificilmente esse segmento será o carro-chefe do desenvolvimento. Países, municípios e regiões desenvolvidas e ricas possuem setores produtivos fortes.

A produção industrial é hoje o centro da disputa econômica entre os Estados Unidos e a China. A indústria de semicondutores é a principal aposta do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não só para recuperar a economia norte-americana, mas para evitar que os chineses roubem sua liderança econômica mundial.

Biden sancionou na semana passada, 9 de agosto, uma lei que destina subsídio bilionário para produção de semicondutores nos EUA. A lei prevê mais de US$ 52 bilhões (cerca de R$ 270 bilhões) em incentivos para empresas investirem no setor, além de US$ 24 bilhões em crédito fiscal.

Apesar de crescer mais do que o setor industrial nos últimos anos, o setor de serviços apresenta menor capacidade de geração de renda. O turismo do Brasil, por exemplo, cresceu 12% em 2021 em relação a 2020. Mas o faturamento ficou abaixo de 2019. No ano passado o segmento faturou R$ 152,4 bilhões, quase 25% menos do que os R$ 201,2 bilhões do período pré-pandemia. 

O turismo é uma vocação nacional, tem crescido num ritmo mais acelerado que os demais setores, mas mesmo com o sucateamento da indústria brasileira, só representa 3% do Produto Interno Bruto. 



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