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Passei cerca de 30 anos da minha vida em redações de jornais da chamada "grande imprensa" - alguns preferem o termo "imprensa corporativa". Dezoito anos no Estadão, nove anos no Valor Econômico, uns dois ou três cobrindo férias ou trabalhando em fins de semana no saudoso Jornal da Tarde e dois anos na extinta revista Afinal, que pretendia ser uma concorrente da Veja, mas morreu de inanição pouco tempo depois de lançada. No restante de minha vida profissional dei um duro danado nas redações de jornais de Jundiaí e Campinas.
Aposentado, me mudei para Serra Negra. Vivi aqui uns cinco anos no dolce far niente, fazendo um ou outro trabalho para o Valor Econômico, até que me deu um estalo de voltar à ativa, mas voltar à ativa na cidade que escolhi para viver.
E com a Salete Silva, amiga de velha data, que conheci lá pelos anos 90 do século passado no Caderno de Economia do Estadão e que já morava em Serra Negra bem antes de mim, lancei um site informativo, com os padrões do jornalismo que eu e ela praticamos há longa data.
O Viva! Serra Negra nasceu porque sentia que a cidade precisava de um veículo que fosse completamente independente de verbas oficiais, que não estivesse atrelado aos grupos políticos (os Chedid e os anti-Chedid) que se revezam há anos na chefia do Executivo e na Câmara Municipal, e que se prestasse a debater os problemas locais com uma visão progressista, com base em conversas que tivemos com serranos inconformados com o conservadorismo - diria até reacionarismo - da oligarquia municipal.
E partimos para a aventura, que já dura pouco mais de três anos.
Neste tempo, conseguimos uma boa base de leitores, fizemos amigos, provocamos vários debates sobre temas relevantes para o desenvolvimento do município - e, inevitavelmente, arranjamos alguns desafetos, pessoas que não conseguem entender o papel da imprensa na sociedade contemporânea.
Não pretendo me estender sobre a importância do jornalismo em Serra Negra, no Brasil ou no planeta Terra.
Basta dizer que a informação é um dos pilares da sociedade contemporânea. Sem a informação proporcionada por uma imprensa absolutamente livre, não existe democracia. A informação permeia toda a atividade humana e é por meio dela que a civilização deve o seu avanço.
Por circunstâncias várias, inclusive por uma questão cultural - e por que não, pela falta de hábito -, este jornalismo com marca profissional que o Viva! trouxe para a cidade, com reportagens, entrevistas, enquetes, artigos opinativos, seção de leitores..., procurando sempre destacar o factual, ouvindo várias fontes e pessoas envolvidas na notícia, tem desagradado alguns dos poderosos locais.
Há secretários municipais que cortaram relações conosco, há vereadores que gastam mais tempo criticando nosso trabalho do que pensando em projetos para a cidade - ou mesmo fiscalizando o Executivo, que é outra de suas funções.
Claro que não somos imunes às críticas, claro que erramos mais do que gostaríamos, mas o que essas pessoas ainda não entenderam é que jornalismo não pode ser confundido com publicidade, ainda não compreenderam que não existe notícia boa ou ruim, pois são os fatos que fazem a notícia - e não o oposto.
E, além de tudo, as figuras públicas, como o prefeito, os vereadores, os secretários municipais, deveriam, quando leem o que julgam ser uma "notícia negativa" sobre eles, ser gratos a nós.
Pois se pretendem ser realmente dignos das elevadas funções que ocupam, têm de ter a mesma humildade do repórter que faz as perguntas mais pueris ao entrevistado na busca de se aproximar o máximo possível da verdade.
Um homem que exerce um cargo público não pode se achar acima das críticas. Se não aceita críticas, não merece ocupar um cargo público. E se não usa as críticas para melhorar o desempenho na função que exerce, mostra que não está preparado para exercê-la.
Nós do Viva!, quando erramos, imploramos para que corrijam o nosso erro, sentimos uma dor profunda com o equívoco. Quando somos criticados, refletimos sobre se a crítica foi justa, e se foi, ela nos ajudará a melhorar o nosso trabalho.
Acreditamos que só assim vamos crescer profissionalmente, pois para nós uma sociedade só avança se puder expressar publicamente a sua pluralidade e dar voz ao contraditório. A democracia rejeita o pensamento único. Quem só bajula os poderosos não pode ser chamado de jornalista. "Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados", escreveu Millôr Fernandes, exemplo de profissional que obedecia apenas a sua consciência.
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Carlos Motta é jornalista profissional (ex-Estadão, Valor Econômico, revista Afinal e Jornal da Tarde) e editor do Viva! Serra Negra
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Comentários
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Palmas, palmas, palmas!
ResponderExcluirSe incômodo causado ao poder público indica que o caminho está bem trilhado! Longa vida ao Viva Serra Negra!
ResponderExcluirParabéns amigo,adorei seu texto!
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