//TURISMO// Serra Negra, a cidade do café. Na Câmara, nem todos concordam com isso



A escolha do café como nova identidade turística da cidade foi alvo de questionamentos na sessão da Câmara Municipal desta segunda-feira, 30 de maio. Alguns vereadores avaliam que Serra Negra deveria manter sua identidade associada à saúde e às propriedades minerais das águas de suas fontes.

A ideia de adotar o café como nova identidade turística do município vem sendo estudada pelo Conselho Municipal de Turismo (Comtur) e Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico.

O secretário de Turismo, Carlos Tavares, empresários, comerciantes e produtores rurais já vêm realizando algumas iniciativas para debater o assunto e desenvolver o turismo rural dirigido em especial para a cafeicultura.

Além do 2º Festival do Café, realizado em meados de maio, o Comtur e a prefeitura promoveram na semana passada uma palestra sobre a busca de um novo reposicionamento para Serra Negra, proferida por Paulo Vitor Targa, diretor da Cubo 2, empresa de Jundiaí especializada na organização de feiras, congressos, exposições e festas.

Outra iniciativa também nesse sentido foi a inscrição da Rota Turística do Café de Serra Negra na segunda edição do Projeto Experiências do Brasil Rural, do Ministério do Turismo. A cidade foi uma das selecionadas pelo projeto, que oferecerá capacitação a empresários e produtores rurais.

Água e saúde

“Serra Negra é conhecida como cidade da saúde, das águas e agora está tomando o caminho do café?”, questionou o vereador Leonel Franco Atanazio, o Leo da Ambulância. Ele avalia que a cidade já tem uma identidade e que precisa apenas resgatá-la. “Desde que me conheço por gente Serra Negra é a cidade da saúde”, salientou.

Os vereadores Renato Giachetto e Roberto de Almeida também questionaram o novo direcionamento para a identidade turística da cidade. “Tenho minhas ressalvas”, disse Giachetto. Na sua opinião, a cidade carece de investimentos em ações de marketing para dar maior visibilidade a seus potenciais turísticos. “Temos de explorar as propriedades medicinais da água, que não é apenas um líquido para matar a sede, mas que pode fazer bem à saúde”, afirmou.

Giachetto voltou a sugerir a instalação de estátuas dos humoristas do programa de televisão A Praça é Nossa em áreas centrais da cidade. “A Praça é Nossa é mídia gratuita”, disse. Ele sugeriu ainda trazer para Serra Negra equipes de reportagem do Globo Repórter e a apresentadora Ana Maria Braga.

Roberto de Almeida lembrou que a discussão sobre a identidade turística de Serra Negra já se arrasta desde 2018, quando a cidade começou a atualizar o Plano Diretor de Turismo. Ele relatou que na ocasião os empresários elegeram os segmentos de negócios, turismo rural e de saúde como os de maior potencial turístico da cidade.

Os vereadores apontaram ainda como identidade de Serra Negra alguns eventos, como os rodeios e o Megacycle, que teriam atraído milhares de turistas para a cidade e contribuído para divulgar o município.

Plano Diretor de Turismo

Serra Negra tem um Plano Diretor de Turismo, que foi atualizado na administração anterior. O ex-prefeito Sidney Ferraresso contratou para isso a empresa de consultoria Candida Baptista, a mesma que elaborou o Plano de Mobilidade Urbana da cidade. Nenhum vereador fez menção a esse documento.

O Viva! Serra Negra acompanhou os debates realizados durante a atualização do Plano Diretor de Turismo de Serra Negra. O documento já sugeria o café como identidade cultural do município, como demonstra o seguinte trecho do documento: “A identidade cultural de uma população está relacionada aos componentes essenciais da cultura que são passados de geração em geração. Dentre esses componentes, pode-se citar valores, crenças, costumes e tradições, além de histórias, receitas, ensinamentos e ofícios. O estímulo cultural está presente nos turistas, tendo em vista que os mesmos acabam sendo sensibilizados pela cultura do local visitado, e absorvem um pouco da identidade cultural do destino. Desta forma, sugere-se o café como identidade cultural do município, pois é possível unir tradição, tecnologia e sustentabilidade em um único produto.”

A sugestão do café como identidade turística de Serra Negra foi rechaçada na ocasião por integrantes do Comtur, que baseados no expressivo número de visitantes do Alto da Serra e no potencial da Represa Santa Lídia, davam prioridade ao ecoturismo ou turismo de natureza. O Comtur passou a considerar este ano o café e em especial o turismo rural de experiência como mais adequados à identidade turística da cidade.

O presidente da Câmara Municipal e ex-secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico, César Augusto Borboni, o Ney, não fez menção à existência do Plano Diretor de Turismo, mas enfatizou a importância de uma nova identidade para a cidade.

Ney explicou que Serra Negra precisa de uma nova identidade para continuar recebendo repasses do Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos (Dadetur) como estância turística, que podem proporcionar investimentos de cerca de R$ 4 milhões anuais. Se perder a condição de estância, os recursos caem para cerca de R$ 1 milhão.

Ele explicou que a cidade não pode vincular sua identidade às águas, uma vez que a maior engarrafadora de água na região é o município de Lindoia. Ney explicou também que os eventos não são elementos de identificação da cidade. Ele reconheceu o potencial do Megacycle para a divulgação do município, mas afirmou que um dos maiores encontros de motociclistas já tem contrato firmado para os próximos anos. Ney informou também que os rodeios dão prejuízo aos patrocinadores.

O presidente da Câmara descartou ainda o comércio como principal identidade da cidade. Além de ser um segmento comum a todas as cidades turísticas, Ney lembrou que as lojas vêm perdendo competitividade para o e-commerce e que precisam começar a estender o horário de funcionamento até às 22 horas para sobreviver.

Ney avalia que a melhor estratégia da cidade agora é investir no turismo de experiência voltado para a cafeicultura. Ele ressaltou, no entanto, que Serra Negra vai enfrentar forte concorrência do Espírito Santo do Pinhal, principal produtor e comercializador de café da região e do Estado de São Paulo. 



Comentários

  1. Mas cobrando pela degustação dos vários tipos de café, como aconteceu no evento de maio, fica difícil. Como fica difícil resgatar o rótulo de estância hidromineral sem que se recupere as nascentes e fontes de água mineral do município (se é que isso ainda é possível, ou já está tudo perdido?).

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