//ECONOMIA// Associação Comercial vê vendas fracas e turistas comprando menos

Tiago Jardim: “Consumidor não vai deixar de comer para comprar o que não é essencial”


As vendas do comércio de Serra Negra estão abaixo das expectativas dos lojistas. A previsão dos comerciantes filiados à Associação Comercial Industrial e Agrícola de Serra Negra (Acia) era de um aumento do faturamento bem moderado em relação a 2021, mas o resultado mensal neste primeiro trimestre tem sido ainda pior do que o previsto, informa o presidente da entidade, Tiago Jardim.

“Não temos dados científicos, mas, segundo o que temos, é que o comércio tinha uma expectativa de melhora em relação a 2021, o que vai se concretizar, mas abaixo do esperado", afirmou. O presidente da Acia avalia que há movimento de turistas na cidade, mas os visitantes estão consumindo pouco e controlando os gastos.

“As pessoas vieram para a cidade, mas não estão consumindo, não estão comprando como anteriormente. Estão comprando abaixo das expectativas, que já não eram muito otimistas”, observou.

Jardim aponta dois fatores que seriam causas da queda das vendas do comércio da cidade, além da crise econômica provocada pela pandemia e mais recentemente a guerra na Ucrânia. Um dos fatores é o baixo poder aquisitivo do turista que tem escolhido Serra Negra para passear. O outro é a concorrência com o comércio eletrônico.

A renda média do brasileiro diminuiu, reconhece Jardim. A queda do rendimento médio foi de 10,7% em 2021, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O rendimento médio no ano passado atingiu R$ 2.447,00, o menor valor da série histórica iniciada em 2012.

“A renda diminuiu. Mas diminuiu para uma fatia da população. Não diminuiu para todos”, ressaltou. Ele avalia que a queda do poder de compra atingiu mais o consumidores que gastam uma parcela maior de seu orçamento com produtos essenciais.

“O consumidor não vai deixar de comer para comprar o que não é essencial”, ponderou. Jardim avalia que há consumidores de uma faixa de renda mais elevada e com um orçamento maior, que economizaram e fizeram poupança durante a pandemia. 

“Esse consumidor de maior poder aquisitivo deixou de gastar com serviços porque ficou em casa, não frequentou restaurantes, nem foi às compras, e acabou economizando e até fazendo uma poupança”, explicou.

Mas esse não é o perfil do turista que tem procurado Serra Negra. O turista que vem para a cidade é o que está com o orçamento mais apertado. “As pessoas que consomem produtos de luxo, por exemplo, estão com o poder de compra reprimido. Estão com dinheiro guardado. Mas não é essa parcela da população que está vindo para Serra Negra. Por isso, um dos grandes fatores da queda das vendas é o público”, explicou.

Jardim ressaltou que Serra Negra tem de contemplar todos os públicos, desde o turista que está com o orçamento mais restrito até o consumidor de classe A que tem poder aquisitivo para maior consumo.

”A cidade tem de contemplar todos os públicos, mas só está atraindo os de menor poder aquisitivo”, salientou. Ele avalia que o público que vem para Serra Negra investe na hospedagem, nos passeios, mas economiza nas compras.

Comércio eletrônico

As vendas online também têm dificultado o comércio tradicional. Jardim observa que a pandemia fortaleceu um movimento de aumento de vendas eletrônicas, que já vinha ocorrendo anteriormente. 

“Esse comércio, que se fortaleceu com a pandemia, oferece facilidades de compra, preço, catálogo de produtos e entrega rápida. Tudo isso vai colocando o nosso comércio contra a parede”, explicou.

Jardim observa que o comércio eletrônico atraiu justamente o consumidor com orçamento mais apertado, que pesquisa preços e escolhe o melhor custo benefício pela internet. 

O consumidor de poder de compra maior não vai se preocupar tanto com o preço. Mas o consumidor mais preocupado com a questão de preço vai pensar duas vezes para gastar determinado produto, até porque ele tem conhecimento do mesmo produto mais barato na internet, com entrega rápida”, analisou.

Jardim aponta a tradição do comércio de rua como um dos principais impedimentos da expansão dos negócios online entre os lojistas serranos. “Há uma dificuldade de mudar essa tradição. Meu avô ganhou dinheiro assim, meu pai ganhou dinheiro assim e eu acho que é assim que funciona”, explicou.

Ele avalia que a tradição é um fator positivo e faz parte da cultura empresarial do comerciante serrano. “ Mas há uma dificuldade para fazer essa mudança brusca de relacionamento com o cliente do pessoal para a internet”, afirmou.

Jardim diz que os lojistas ainda não conseguiram conciliar a experiência de compra do cliente na venda presencial, que é uma característica do comércio local, com as vendas online.

A mudança tem de ocorrer por meio do sistema de gestão, que também tem uma característica própria em Serra Negra. “Nosso comércio é administrado pelo pai, mãe ou o avô, que de repente têm de trazer a sua forma de gerenciar para um ambiente online em que ele não tem familiaridade e tem de reaprender a gerir estoque e as receitas de outra forma”, explicou.

Jardim avalia que essas características de comércio do interior dificultam a inserção das lojas na internet e a criação de redes sociais atrativas. Para ele, transportar a experiência que a loja do interior oferece ao consumidor, que é seu diferencial, para o sistema de vendas online é o grande desafio dos empresários de Serra Negra.

O lojista serrano sempre esteve à frente do gerenciamento de seus negócios e com as novas tecnologias precisa compartilhar a gestão com colaboradores de confiança, o que, para Jardim, também é uma dificuldade do comércio de Serra Negra devido às suas características tradicionais.

“O lojista precisa de um colaborador de confiança que faça isso por ele. Nem todo mundo tem, nem todo mundo confia para fazer. Todas essas características dificultam”, explica. Algumas lojas têm conseguido levar bem suas vendas online, mas, segundo Jardim, são minoria. “Com o tempo, é natural que isso ocorra”, concluiu.

Apesar da queda nas vendas e das dificuldades econômicas previstas para este ano, Jardim ainda mantém uma previsão otimista para a economia da cidade em 2022. “A perspectiva é a mesma do cenário geral, de desconfiança e prudência. Contudo, Serra Negra pode apresentar diferenciais que favoreçam nosso comercio”, afirmou.

Serra Negra, Jardim aponta, tem algumas vantagens em relação a outros destinos turísticos, como sua localização próxima à capital, preços acessíveis tanto no setor de alimentação quanto de compras, além das belezas naturais. “Somos uma opção interessante para o turista. Temos que saber explorar isso, principalmente por meio do marketing”, concluiu.


   

Comentários

  1. A triste crise sanitária, planetária, que levou tantas vidas infelizmente, também escancarou a desigualdade que já existia no país. Não há crescimento sem combater a desigualdade. Perda do poder aquisitivo dos mais pobres...triste cena aquela do mercado ...vendendo ossos...e agora ainda com essa situação da guerra sem sentido na Ucrânia...vivemos num mundo globalizado...consequências afetam a todos. Grandes desafios!!!

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