//PANDEMIA// Saúde em Serra Negra pode colapsar em março, diz diretora do hospital

 

Daniela Biller: já há falta de medicamentos e os profissionais de saúde estão estafados

O sistema de saúde em Serra Negra pode entrar em colapso a partir do início de março se o índice de contaminação da população pela covid-19 se mantiver acelerado.

Para conter a disseminação da ômicron, a nova variante com maior capacidade de transmissibilidade, os serranos precisam completar o ciclo de vacinação com a terceira dose, evitar aglomerações, usar máscara e higienizar as mãos. 

O alerta foi feito pela diretora-clínica do Hospital Santa Rosa de Lima, a ginecologista Daniela Biller, em entrevista ao primeiro Serra Negra na Roda de 2022, exibido pela página do Facebook da Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari, nesta quinta-feira, 27 de janeiro.

Daniela informou que a comunidade médica do Estado de São Paulo prevê para o fim do primeiro trimestre um colapso estadual do sistema de saúde, com o estrangulamento da oferta de medicação e de profissionais disponíveis em todos os hospitais, incluindo o Hospital Santa Rosa de Lima.

A combinação de um vírus com transmissão rápida e o mau comportamento de parte da população, explica Daniela, leva à propensão de um grande colapso no sistema de saúde. 

“Com o aumento absurdo da demanda não tem como as indústrias atenderem os pedidos e vai e começar a faltar o básico, como luvas, máscaras, além dos preços dos materiais e medicamentos ficarem estratosféricos”, alertou.

Vacinas funcionam

Os números apresentados pela diretora do hospital revelam a aceleração da contaminação no município e o efeito da vacinação na redução significativa de casos graves da doença. Entre os dias 1º e 26 de janeiro, foram realizados 5.787 atendimentos com uma média diária de 222 pacientes.

A maioria dos mais de 5 mil atendimentos foi de pacientes com síndromes gripais e quase todos os testes de covid-19 realizados tiveram resultado positivo. Uma minoria apresentou resultado positivo para o novo vírus influenza H3N2.

O hospital já registra falta de algumas medicações e os profissionais se encontram em processo de estafa, mesmo com a contratação de mais um médico, dois técnicos de enfermagem e um enfermeiro para reforçar a equipe.

“Há recursos financeiros para a compra da medicação, mas não há mais oferta no mercado, como, por exemplo, soro fisiológico”, explicou.

Os dados de atendimento do hospital revelam a eficiência da vacina: dos 12 pacientes internados nos últimos 21 dias, 87% estavam com o esquema vacinal atrasado ou não se vacinaram.

Dados levantados pelo Viva! Serra Negra também revelam a aceleração da contaminação no município e o aumento de infecção em especial entre crianças e adolescentes. O levantamento realizado revela ainda que ainda é muito baixo o porcentual de serranos vacinados com a terceira dose de reforço.

Do início da pandemia até 26 de janeiro, Serra Negra registrou 4.414 casos de covid-19, equivalentes a contaminação de 15% da população da cidade. Entre a população mais jovem, de 0 a 9 anos, foram registrados 190 casos desde o início da pandemia.

Em janeiro de 2022, até o dia 26, foram computados 66 casos de contaminação entre as crianças de até 9 anos, quase 35% do total de contaminação nessa faixa etária desde o início da pandemia.

Na faixa de 10 a 20 anos, foram registrados 428 casos, dos quais 123 só este ano. Até quarta-feira, 26 de janeiro, 441 pessoas, o equivalente a 1,5% da população serrana, estavam em isolamento social.

Os dados sobre vacinas na cidade revelam o impacto do receio de parte da população em se vacinar com a terceira dose em virtude do negacionismo e das fake news disseminadas nas redes sociais.

Segundo o site Vacinas Já, do governo do Estado, foram vacinados com a primeira dose 24.710 serranos, o equivalente a 82% do total da população do município. Com a segunda dose foram vacinados 24.436, 78% da população da cidade. A vacinação com a 3ª dose cai para apenas 11.372, 38% dos serranos.

“Teríamos de chegar a 87% da população vacinada com as duas doses para ter imunidade mais segura”, afirmou Daniela. “Mas há um pensamento de que a vacina pode trazer danos, prejuízo vacinal, o que não é verdade”, disse.

Daniela salientou que foram apresentadas mais de 200 vacinas contra a covid-19 das quais 50 foram testadas em humanos e passaram por diversas fases de testes, o que as tornam seguras.

Mais benefícios que riscos

A médica explicou que toda medicação e vacina apresentam riscos, mas insignificantes diante dos benefícios. Os levantamentos revelaram um óbito em cada 1 milhão de vacinados. “Um milhão de pessoas foi salva”, compara.

Ao contrário do que as redes sociais ligadas a partidos políticos e políticos informam, a médica esclarece que a tecnologia das vacinas não é nova e já vinha sendo desenvolvida há muito tempo. A mais recente, que utiliza RNA mensageiro, não causa câncer e não interfere no genoma da espécie humana.

“Não defendo partido, sou médica e me baseio nos estudos científicos”, afirmou Daniela. Ela comparou a terceira dose de vacinação aos antibióticos, que muitas vezes são ministrados com reforços quando o tempo de ação não foi suficiente.  

“Vamos ter de tomar a vacina contra a covid-19 a cada três meses? Pode ser, se o vírus sofrer mutação”, afirmou. Ela lembrou que isso já ocorreu com outras vacinas, como a da poliomielite. A médica ressaltou a importância das vacinas para crianças que são inseridas no calendário de vacinação na maternidade. “Ao nascer seus filhos já tomaram duas vacinas”, lembrou.  

Assista abaixo à íntegra do programa Serra Negra na Roda:




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