//CULTURA// Cidade precisa preservar seu patrimônio histórico, diz grupo que pesquisou capelas

 


A preservação do patrimônio histórico de Serra Negra é o tema ao qual pretende se dedicar o grupo de serranos voluntários que escreveu um livro sobre as capelas rurais do município com lançamento previsto para os próximos meses.

Os integrantes do grupo foram os entrevistados desta 50ª edição do Serra Negra na Roda, transmitido pela página do Facebook da Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari, na quarta-feira, 22 de setembro, véspera do aniversário da cidade que completa 193 anos nesta quinta-feira, 23 de setembro.

Participaram do programa o serrano Nestor de Souza Leme, responsável por uma página no Facebook dedicada a publicar fotos antigas sobre Serra Negra; Fátima Fiorini Pedrotti Partiti, psicóloga pela PUC-SP e historiadora na USP, que mora em São Paulo desde 1986, mas está em Serra Negra todos os fins de semana; e o serrano André Canhassi, professor formado em filosofia, pedagogia e história.

Entre 2014 e 2020, o grupo pesquisou e catalogou 59 capelas localizadas na zona rural da cidade. São capelas construídas há mais de 50 anos, cujas histórias se misturam com a história da cidade. 

Com o apoio da prefeitura, o livro deverá ser lançado ainda este ano, mas o trabalho não se encerra e pode trazer contribuições importantes não só para a preservação do patrimônio histórico da cidade, como para a cultura, o turismo e o desenvolvimento socioeconômico do município.

“O trabalho não se encerra com o livro, tem a ver com o turismo, por meio das rotas, já está acontecendo, tem trilha de bicicleta, gente andando de volta para o Interior, tudo isso é uma forma de ir colocando um pouco dessa luz, dessa coisa gostosa que representam as capelas”, afirmou Fátima.

Muitas das capelas pesquisadas não existem mais, outras estão bem preservadas e continuam reunindo a comunidade em rezas, festas e encontros, mas uma parte, no entanto, precisa ser preservada e para isso, explica Fátima, é preciso que a sociedade serrana se organize.

“Precisamos realizar um debate com as autoridades, com as pessoas ligadas ao patrimônio”, afirmou, acrescentando que o grupo já solicitou orientações a profissionais especialistas em preservação do patrimônio ligados à Universidade de Campinas (Unicamp).

Além das capelas, Nestor destaca a importância da preservação de todo o patrimônio histórico de Serra Negra. “Nasci aqui e com quase 80 vi uma por uma dessas casas com valor histórico sendo derrubadas. Casarões que sumiram da noite para o dia”, disse.

Ele lamenta a ausência de uma secretaria municipal de Cultura, sem a qual o trabalho de preservação do patrimônio histórico fica mais difícil. “O diretor de Cultura não tem força de uma secretaria e tem dificuldade até para promover eventos, como a Festa Italiana”, explicou. 

Canhassi lembra também que as iniciativas de defesa do patrimônio histórico têm de envolver a iniciativa privada. “Recursos públicos não seriam usados em propriedade particular. Teria de ter incentivo por parte da prefeitura, que, aliás, nos recebeu bem em relação ao livro e nos deu o apoio necessário para a publicação”, salientou.

O livro revela que por trás da fé dos imigrantes italianos e da população serrana há muitas histórias, como a de que os serranos enfrentam nos últimos dois anos com a pandemia de covid-19 situações similares às do passado.

“Uma das capelas está associada à gripe espanhola em 1918, quando também ocorreram muitas mortes e quando a população não podia se despedir dos seus mortos, como acontece hoje, e enterravam os corpos perto das casas e depois faziam capelinha com uma cruz”, relatou Fátima.

A pesquisa do grupo revela também que ao contrário do que contam os mais antigos, a fundação da cidade não está ligada à capela de São Roque, nas Três Barras. Os indícios históricos apontam mais para a ligação da construção da Matriz Nossa Senhora do Rosário com a fundação de Serra Negra.

“Não temos comprovação histórica de que a fundação da cidade esteja ligada com a capela das Três Barras, talvez isso foi atribuído porque o costume era pedir ao bispo de São Paulo para enviar um padre para rezar a missa e dava-se a data como criação da cidade”, explicou Canhassi.

Leme relata que Lourenço Franco de Oliveira comprou terras nas Três Barras e que nunca construiu uma capela no local. “Os escritos revelam que a capela original foi construída na cidade por uma outra pessoa chamada José Antônio Pedroso e não tinha nada a ver com o Lourenço”, afirmou. 

A discussão sobre as capelas, o resgate da história da cidade e em especial sobre a defesa do patrimônio histórico da cidade no programa Serra Negra na Roda, pode, segundo Leme, representar uma retomada do debate sobre o assunto na cidade.

“Quando o Oscar Brolezi era diretor de Cultura havia reuniões de historiadores,  essas pessoas discutiam a história do povo e das famílias e isso acabou, mas esse debate está sendo muito importante porque estamos retomando isso agora”, afirmou. 

Assista a seguir a íntegra do programa:


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