//CULTURA// “Não dá para desanimar”, diz Edvaldo Santana sobre o Brasil atual

Edvaldo Santana: “Uma coisa assim ruim não vai ficar tanto tempo"


A criação artística depende da democracia. O artista só produz ou aperfeiçoa seu trabalho quando pode escutar outros artistas, quando os meios de comunicação e as rádios oferecem acesso igualmente a todos os compositores e cantores. E foi essa democracia que possibilitou a explosão de manifestações artísticas durante a ditadura militar no Brasil.

“Quando a ditadura chegou, o Brasil vinha de uma democracia. A ditadura veio, mas já existia um trabalho de vários artistas, muito conceituais e com ideias que já estavam andando”, afirmou o cantor e compositor Edvaldo Santana, em entrevista ao Serra Negra na Roda, transmitido na sexta-feira, 21 de maio, pela página do Facebook da Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari.

Desde o início de sua carreira em 1970, Edvaldo optou por um caminho profissional alternativo, que o colocava próximo do público, dos movimentos sociais, dos estudantes e da juventude. “Não vivo do mercado. Procurei um caminho paralelo”, disse.

A arte, Edvaldo define, é vanguarda e já existia antes da ditadura militar. Ele explica que a partir dos anos 80 é que a situação começou a ficar mais difícil para cantores e compositores, com a chegada das gravadoras multinacionais e a instituição do chamado "jabá", termo usado na indústria da música para denominar as propinas pagas pelas gravadoras às emissoras de rádio ou TV para a execução das músicas de um artista. “As multinacionais tomaram conta e começou a ficar tudo segmentado, você é caipira, você é sambista, você é não sei o quê”, afirmou. 

Edvaldo diz que o processo democrático é que não pode acabar.  “A democracia é fundamental nos meios de comunicação para que todos tenham acesso e todo artista possa se movimentar e colocar as suas coisas”, explicou.

Ele destacou que a música popular brasileira nunca acabou nem nunca vai acabar, e o que falta, avalia, é espaço nos meios de comunicação para que os artistas possam escoar sua produção. ”O jabá está tão institucionalizado que as rádios têm aplicativos das multinacionais que bancam os artistas”, afirmou.

Edvaldo aponta nesse cenário as redes sociais como o meio mais democrático de divulgação das produções artísticas. Ele tem utilizado as redes como alternativa para manter seu trabalho, desde o início da pandemia.

Suas "lives" atraem um público de 30 mil a 40 mil pessoas de todo o país. “Não pensei que atingiria tanta gente. Você atinge outras pessoas que se interessam pelo o que você faz. A arte não dá para enrolar, é como futebol no campo, não tem morrinho para se esconder”, afirmou.

Edvaldo demonstrou preocupação sobre o momento político que o país atravessa e a pandemia de covid-19, mas se declarou otimista. “Não dá para desanimar, desesperar jamais”, afirmou.

Ele reconhece, no entanto, que a situação é difícil. “Estamos vivendo com uns caras que são os piores e que encontraram eco em gente que pensa do mesmo jeito, que pratica o ódio e a falta de respeito”, disse. Mas a política, Edvaldo avalia, vai mudar. “Uma coisa assim ruim não vai ficar tanto tempo", afirmou.

Edvaldo também considera o momento difícil devido à crise sanitária. “Vivemos numa pandemia inédita, massacrante, dolorosa, que deixa a gente mal, mata amigos, o que dói muito e a sensação é de impotência”, salientou.

Para o cantor, o momento é de unir todos os artistas, os profissionais consagrados e os novos talentos. “É momento de todos os artistas estarem juntos, juntar seus anseios, cuidar do planeta e das pessoas. Tem muita gente fazendo arte e podemos estar todos juntos”, concluiu.

Assista a seguir à íntegra do programa:



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